Uma equipe internacional de
pesquisadores, incluindo brasileiros do Hospital A.C. Camargo (SP), pode ter
dado um passo importante para bloquear o insidioso processo por meio do qual o
câncer se espalha pelo organismo.
Eles mostraram que uma espécie de
bolha microscópica, que lembra uma "minicélula", é capaz de carregar
as sementes de um novo tumor para partes distantes do corpo, preparando essas
áreas para receber a doença.
Se for possível bloquear a ação dessas
"bolhas", os médicos teriam em mãos uma defesa importante contra a
metástase, como é conhecido o espalhamento do câncer pelo organismo do doente.
A quantidade e o conteúdo das
"minicélulas" também poderiam trazer pistas importantes sobre a
gravidade de determinado câncer e sobre a resistência do tumor a medicamentos,
explica a bioquímica Vilma Martins, pesquisadora do A.C. Camargo. "Pode
ser uma ferramenta muito poderosa para os oncologistas", afirma ela.
Martins assina um estudo sobre o tema
que acaba de ser publicado na revista científica "Nature Medicine". A
equipe de cientistas, coordenada por David Lyden, da Faculdade Médica Weill
Cornell, em Nova York, identificou sinais intrigantes do papel das
"bolhas" - conhecidas tecnicamente como exossomos - num câncer que
costuma afetar a pele, o melanoma.
Um corpo que sai
Os termos gregos que formam a palavra
"exossomo" podem ser traduzidos exatamente da maneira acima: "um
corpo que sai" da célula, como uma espécie de mensageiro, de acordo com o
que pesquisas recentes mostram. "É uma área de pesquisa bastante
nova", diz Martins.
Os exossomos se formam no interior das
células e apresentam uma membrana composta por uma camada dupla de gordura - exatamente
como a membrana das células "verdadeiras".
Em seu interior, podem carregar vários
tipos de molécula, inclusive material genético. Atravessam com facilidade a
membrana das células e levam essa carga para outras células. "Parece um
método eficiente de sinalização celular", explica Martins.
O problema é que, como mostrou o
trabalho da bioquímica e seus colegas, essa sinalização pode ser facilmente
usada para o mal. Em pessoas com melanoma, por exemplo, os exossomos produzidos
carregam uma quantidade maior de proteínas ligadas ao câncer quando o tumor da
pessoa é mais grave.
Quando injetadas em camundongos junto
com células tumorais, as "minicélulas" facilitaram a formação de
tumores, carregando substâncias que ajudam a recrutar células formadoras de
vasos sanguíneos.
É que os cientistas apelidam de
"criação de nicho" para o tumor: um local cheio de nutrientes
trazidos pelos vasos para que o vilão possa crescer. E os vasos também ficam
mais permeáveis, o que facilitaria a penetração das células tumorais. O
desafio, agora, é aprender a bloquear o processo.
Fonte: Folha de São Paulo