É provável que a utilização das plantas como medicamento seja tão antiga quanto o próprio ser humano. O homem desenvolveu a arte de curar em consequência de um longo processo de experimentação e observação, cuja existência estava intimamente ligada aos processos naturais. Numerosas etapas marcaram a evolução da medicina, porém, é difícil delimitá-las com exatidão, considerando-se que ela esteve por muito tempo associada a práticas, mágicas, místicas e ritualísticas. Consideradas ou não como seres espirituais, as plantas por suas propriedades terapêuticas ou tóxicas, adquiriram fundamental importância na medicina popular.
No Brasil, a utilização de plantas no tratamento de doenças apresenta inúmeras influencias da cultura indígena, africana e, naturalmente, europeia. Estas influências deixaram marcas profundas nas diferentes áreas de nossa cultura, seja sob aspecto material ou espiritual. Elas constituem a base da medicina popular que, há algum tempo, vem sendo retomada pela medicina natural, procurando resgatar suas práticas, dando-lhes caráter cientifico e integrando-as num conjunto de princípios que visam não apenas curar algumas doenças, mas restituir ao ser humano a vida natural.
“Não existe cura autêntica a menos que haja uma mudança de perspectiva, uma serenidade mental e uma felicidade eterna” Edward Bach.
Cuidados no Uso
O uso de plantas medicinais, quando feito com critério, só tem a contribuir para a saúde de quem o pratica.
Tais critérios referem-se á identificação do quadro clinico apresentado (doença ou sintoma), escolha correta da planta a ser utilizada e adequada preparação.
Os prováveis efeitos tóxicos de muitas das plantas ainda são ignorados. Na medida do possível, devem-se utilizar aquelas cujos efeitos sejam bem conhecidos, com dosagens moderadas e bem determinadas, evitando-se os excessos.
As plantas medicinais devem ser adquiridas, preferencialmente, por pessoas ou firmas idôneas que possam dar garantia e qualidade e da identificação correta. O ideal é que se mantenham cultivos de espécies comprovadamente medicinais, principalmente aquelas indicadas para as doenças mais comuns da região: problemas do aparelho respiratório, dores, cólicas, diarreias, verminoses, etc.
Não se devem colher plantas perto de estradas, pois podem estar contaminadas pela poeira e pelos gases que saem dos equipamentos dos automóveis. Deve-se, também, evitar a colheita perto de lavouras onde se utilizam agrotóxicos e de cursos d’água contaminados com produtos químicos.
As plantas frescas com mau aspecto não devem ser utilizadas e, quando secas, não devem apresentar sinal de deterioração, como o mofo. Esses sintomas certamente refletem os maus cuidados na conservação e a possível presença de toxinas ou fungos, como aflotoxina, estaquiobotriotoxina e fusariotoxina, comuns em mofos e que podem causar perturbações diversas no organismo.
Na preparação, deve-se ter o cuidado de observar a dosagem das partes vegetais e a sua forma de uso. Esses dois fatores são importantes, pois podem determinar se a planta terá ou não efeito positivo no tratamento. Tratando de ervas secas, a quantidade de planta a ser utilizada deve ser reduzida à metade.
As intoxicações decorrem, quase sempre, do uso de quantidades excessivas de determinadas plantas com efeitos tóxicos. Não são raros os casos em que se empregam somente uma ou mais partes da planta com fim medicinal, sendo outra parte considerada tóxica, como por exemplo, o cambará (Lantana camara), cujas folhas são usadas medicinalmente e os frutos são tóxicos, em razão do lantandeno. Algumas substâncias têm efeito tóxico agudo, outras são cumulativas, isto é, tem ação tóxica retardada, como é o caso das plantas portadoras de alcalóides pirrolizidínicos, por exemplo, o confrei (Symphytum sp.) e outras boragináceas, cujas raízes e folhas novas contêm mais alcalóides, podendo então, as complicações hepáticas e pulmonares surgirem muito tempo depois da suspensão do uso da planta. Algumas famílias e plantas têm elevado numero de espécies consideradas tóxicas, são elas: aráceas, euforbiáceas, logamiáceas e boragináceas. Na dúvida sobre o uso de uma planta, procure orientação de um profissional de saúde que trabalhe com plantas medicinais, como o Farmacêutico.
Para cada caso e tipo de material vegetal, há uma forma de preparo (infusão, tisana, decocção, xarope, etc.) mais adequada e eficaz. Assim, para algumas flores e inflorescências, não se deve utilizar uma decocção, mas sim uma infusão, para que não se percam os princípios ativos. Os chás nunca devem ser guardados de um dia para o outro.
As misturas de plantas no chá devem-se restringir a um numero reduzido de espécies com indicações e uso semelhantes ou com propriedades sinérgicas. No entanto, isto deve ser evitado, uma vez que podem trazer efeitos diferentes do esperado, em virtude das interações entre os constituintes químicos das plantas.
A forma de uso (banho, inalação, ingestão, etc.) e a frequência também são importantes durante o tratamento. Não adianta ingerir um litro de chá de uma só vez, quando se deveria tomar a intervalos regulares de tempo durante o dia. Da mesma forma, uma planta recomendada exclusivamente para uso externo não deve ser administrada internamente, como o confrei (Symphytum sp.) e a celidônia (Chelidonium majus).
O uso contínuo de uma mesma planta deve ser evitado. Recomenda-se períodos de uso máximo entre 21 e 30 dias, intercalados por um período de descanso de 4 e 7 dias, permitindo que o organismo “repouse” ou desacostume-se para que o vegetal possa atuar com toda a eficácia.
A adição de mel em chás e xaropes só deve ser feita depois que estes fiquem mornos ou frios.
Não utilize plantas medicinais durante a gravidez, especialmente nos três primeiros meses, exceto sob acompanhamento de um profissional de saúde.
Todos os cuidados enfatizados devem ser tomados, mas não se deseja com isso tornar o uso de plantas medicinais confuso e difícil, apenas mais seguro e eficaz. Saiba sempre o momento de procurar outros recursos terapêuticos, pois a orientação médica é fundamental e a fitoterapia é apenas uma das vertentes da medicina.
Formas de Uso
Banho
Faz-se uma infusão ou decocção mais concentrada, que deve ser coada e misturada na água do banho. Outra maneira indicada é colocar as ervas em um pano fino (sache) e deixar boiando na água do banho. Os banhos podem ser parciais ou de corpo inteiro e são normalmente indicados uma vez por dia.
Cataplasma
É obtida de diversas formas:
- Amassar as ervas frescas e bem limpas e aplicá-las diretamente sobre a parte afetada ou envolvidas em um pano fino ou gaze;
- Reduzi-las em pó, misturá-las em água, chás ou outras preparações e aplicá-las envoltas em pano fino sobre partes afetadas;
- Podem-se ainda, utilizar farinha de mandioca ou de milho e água, geralmente quente, misturadas com a planta fresca ou seca. Em substituição às plantas, outras preparações, como a infusão e a tintura, podem ser usadas.
Compressa
É uma preparação de uso local (tópico) que atua pela penetração dos princípios ativos através da pele. Utilizam-se panos, chumaços de algodão ou gazes embebidos em um infuso, decocto, sumo ou tintura da planta dissolvida em água. A compressa pode ser quente ou fria.
Decocção
Preparação normalmente utilizada para as ervas não aromáticas (que contêm princípios estáveis ao calor) e para as drogas vegetais constituídas por sementes, raízes, cascas e outras partes de maior resistência à ação da água quente. Numa decocção, coloca-se a parte da planta na quantidade prescrita de água fervente, cobre-se e deixa-se ferver, em fogo baixo, por 10 a 20 minutos. Após o cozimento, deixa-se em repouso por 15 minutos e côa-se. O decocto deve ser utilizado no mesmo dia de seu preparo.
Inalação
Nesta preparação, utiliza-se a combinação do vapor de água quente com as substâncias voláteis das plantas aromáticas. É normalmente recomendada para problemas do aparelho respiratório. Prepara-se da seguinte forma: coloca-se a erva a ser usada numa vasilha com água fervente, na proporção de uma colher (sopa) da erva fresca em meio litro d’água, aspirar lentamente (contar até 3 durante a inspiração, até 3 na retenção do ar e até 3 novamente, quando expelir o ar), prosseguir assim, ritmadamente, por 15 minutos. O recipiente pode ser mantido no fogo para haver contínua produção de vapor. Usa-se um funil de cartolina ou ainda toalha sobre os ombros, a cabeça e a vasilha, para facilitar a inalação do vapor. No caso de crianças deve-se ter muito cuidado, pois há riscos de queimaduras, por isso é recomendado o uso de equipamentos elétricos especais para este fim.
Infusão
Preparação utilizada para todas as partes de plantas medicinais ricas em componentes voláteis, aromas delicados e princípios ativos que se degradam pela ação combinada de água e do calor prolongado. Nos casos de plantas com grande quantidade dessas substâncias ou facilmente degradáveis, recomenda-se a maceração, que seria uma infusão a frio. Normalmente, trata-se de partes tenras das plantas, tais como flores, botões e folhas. As infusões são obtidas, fervendo-se a água necessária, que é derramada sobre a erva já separada e picada, colocada noutro recipiente. De modo geral, utiliza-se uma colher de sopa de erva fresca para uma xícara de água. Após a mistura, o recipiente permanece tampado por um tempo variável entre 10 e 15 minutos. O infuso, coado logo após o termino do repouso, deve ser utilizado no mesmo dia da preparação.
Maceração
Preparação (realizada a frio) que consiste em colocar a parte da planta medicinal dentro de um recipiente contendo álcool, óleo, água ou outro liquido extrator. Folhas, flores e outras partes tenras são picadas e ficam macerando por 10 a 12 horas, enquanto partes mais duras ficam macerando por 18 a 24 horas. O recipiente permanece em lugar fresco, protegido da luz solar direta, podendo ser agitado periodicamente. Findo o tempo previsto, filtra-se o líquido e pode-se acrescentar uma quantidade do diluente (líquido extrator), se achar necessário, para obter um volume final desejado. Plantas com possibilidade de fermentações não devem ser preparadas dessa forma.
Óleos
São utilizados para plantas aromáticas ou que apresentam substâncias ativas lipofílicas. As ervas secas ou frescas são colocadas em um frasco transparente com óleo de oliva, girassol ou milho (devem-se evitar os óleos minerais), mantendo-se o frasco fechado diretamente sob o sol por duas a três semanas, agitando-o diariamente. Filtrar ao final e separar uma possível camada de água que se formar. Conservar em vidros que o protejam da luz.
Tintura
Também conhecida como tintura-mãe, é a maneira mais simples de conservar por longo período os princípios ativos de muitas plantas medicinais, pois essas substâncias, em sua maioria, são solúveis em álcool. Trata-se de uma maceração especial, onde o diluente a ser utilizado é o álcool, de preferência o de cereais. Para este preparado, utiliza-se uma parte de planta fresca para cinco partes de álcool (80%), por exemplo, 100g de folhas secas para 500ml de álcool. No caso de se utilizar a erva seca, a proporção passa a ser 1:10, por exemplo, 100g de folhas secas, para 1 litro de álcool 70% (7 partes de álcool e 3 de água). Essa mistura permanece macerando por um período variável de 8 e 15 dias, devendo-se agitar, diariamente, durante este período e conservá-la protegida da luz direta. A tintura é usada na forma de gotas dissolvidas na água, para uso interno, ou em pomadas, compressas e cataplasma, para uso externo. Os princípios ativos presentes nas tinturas alcançam rapidamente a circulação sanguínea. Este fitoterápico pode ficar armazenado por um período de até 1 ano.
Suco ou Sumo
Obtém-se o suco, espremendo-se o fruto, enquanto o sumo é obtido ao triturar uma planta medicinal fresca num pilão ou em liquidificadores e centrifugas domésticas. O pilão é mais usado para as partes pouco suculentas. Se a planta contiver pequena quantidade de líquido, deve-se acrescentar um pouco de água e triturar novamente, após uma hora de repouso, recolhe-se então, o liquido liberado. Esta preparação deve ser feita no momento do uso.
Pó
A planta deve estar seca o suficiente para permitir sua trituração. Em seguida, coloca-se o pó em frasco bem fechado, conservando ao abrigo da luz. As cascas e a raiz devem ser moídas até se transformarem em pó, que pode ser misturado ao leite ou mel ou, ainda, em preparos de infusões ou decocções e, externamente, é espalhado diretamente sobre o local ferido ou misturado em óleo, vaselina ou água antes de aplicar.
Vinho
Na preparação dos vinhos medicinais, podem ser utilizados os vinhos brancos, tintos ou licorosos, com graduação alcoólica de aproximadamente, 11ºGL. Em geral, são adicionados 5g de uma ou mais ervas secas (ou a dosagem especifica indicada) para cada 100ml de vinho. O vinho permanece em maceração, bem tampado e em local escuro, por um período de 10 a 15 dias, e deve ser agitado uma ou duas vezes diariamente. A seguir, filtra-se o preparado. Normalmente, toma-se uma colher (sopa) antes ou depois das refeições, ou conforme indicações específicas, de acordo com os efeitos desejados.
Unguento e Pomada
Os unguentos e pomadas podem ser preparados com o sumo da erva, tintura ou chá mais concentrado misturado com gordura animal, vegetal (óleo de coco) ou vaselina sólida. Para este ultimo caso, utilizam-se duas partes de vaselina, uma parte de lanolina ou glicerina e uma parte de tintura, devendo-se efetuar a mistura sobre placa de mármore, com o uso de espátula apropriada. Podem-se, ainda, aquecer as ervas na gordura, depois coar e guardar em frascos tampados. A cera de abelha também pode ser empregada no preparo de pomadas, utilizando duas partes da glicerina, uma parte de cera de abelha, dez partes de óleo de canola ou girassol. Recomenda-se a mistura em recipiente aquecido em banho-maria. Por ultimo, com o fogo desligado, adicionam-se três partes da tintura, devendo-se mexer até a mistura ficar homogênea e adquirir consistência cremosa. As pomadas e os unguentos permanecem mais tempo sobre a pele, devem ser usados a frio e renovados duas a três vezes ao dia.
Xarope
Normalmente, os xaropes são utilizados em casos de tosses, dores de garganta e bronquite. Na sua preparação, faz-se, inicialmente, uma calda com açúcar mascavo ou rapadura, na proporção de duas partes de açúcar, para uma parte de água, por exemplo, duas xícaras de açúcar para uma xícara de água. A mistura é levada ao fogo e, em poucos minutos, há completa dissolução e a calda estará pronta, com maior ou menor consistência, conforme desejado. Neste ponto, adiciona-se uma parte de ervas preferencialmente frescas e picadas, em fogo baixo, e mexe-se por três a cinco minutos, findo os quais o xarope é coado e guardado em frasco de vidro. Se for desejada a adição de mel em substituição ao açúcar, não se deve aquecer, e sim adicionar o suco da planta ou da decocção ou infusão frios. O xarope pode ser preparado com tinturas, adicionando-se uma parte de tintura para cada três partes da mesma calda com açúcar ou rapadura. As decocções ou infusões podem ainda servir de base para o xarope, neste caso adiciona-se o açúcar diretamente, podendo submetê-lo a leve aquecimento, para facilitar a dissolução. A quantidade de plantas a ser adicionada em cada xarope é variável de acordo com a espécie vegetal. No entanto, de modo geral, utiliza-se a medida supracitada. O xarope pode ser guardado por até 30 dias na geladeira, mas, se forem observados sinais de fermentação, deve ser descartado. Os preparados com tintura têm período de conservação maior. Gotas de tintura de própolis no xarope servem como conservante, além de terapêuticas. Obviamente, os xaropes, em razão da grande quantidade de açúcar, não devem ser usados por diabéticos.
Princípios Ativos
Ácidos Orgânicos
São encontrados em todo o reino vegetal, podendo desempenhar papeis importantes no metabolismo primário da planta (fotossíntese e respiração). Os ácidos málico, cítrico, tartárico e oxálico são os mais comuns. Outros, como o ácido fórmico, podem ser menos frequentes. O ácido tartárico e seus sais podem aumentar o fluxo de saliva (sialogogo), contribuindo para reduzir o numero de bactérias que causam cáries. Mas, de modo geral, os ácidos são laxativos e diuréticos. O ácido oxálico e seus sais de potássio e cálcio podem estimular o surgimento de cálculos renais e reduzir a proporção de cálcio no sangue, o que pode afetar o funcionamento do coração. Portanto, plantas com muito ácido oxálico ou oxalato, como a cana-de-macaco (Costus sp.), não devem ser utilizadas por longo período.
Alcalóides
São compostos de origem vegetal, com propriedades alcalinas conferidas pela presença de nitrogênio amínico. Podem ser sólidos ou líquidos, incolores ou de coloração amarela ou roxa. Na célula vegetal, estão localizados nos vacúolos; na forma de sais, encontram-se nas paredes celulares. Localizam-se nas folhas, sementes, raízes e nos caules. Sua concentração pode variar muito durante o ano, podendo, em certas épocas, estar restrito somente a determinados órgãos. Apenas 10 a 15% das plantas conhecidas apresentam alcalóides em sua constituição. Na família das papaveráceas (papoulas), todas as espécies contêm essas substâncias. Os nomes dos alcalóides muitas vezes são derivados das espécies onde foram isolados primeiro, como a nicotina presente no fumo (Nicotiana tabacum). São distribuídos em 15 grupos, conforme sua origem bioquímica ou semelhança estrutural. Não estão bem esclarecidas suas funções nas plantas, mas acredita-se que os alcalóides atuam como reserva para a síntese de proteínas; proteção contra insetos e outros animais herbívoros; estimulantes ou reguladoras do crescimento, do metabolismo interno ou da reprodução; agentes finais da desintoxicação por transformações simples de outras substâncias, cujo acúmulo pode ser nocivo ao vegetal. No corpo humano atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo, estimulantes, anestésico e analgésico). A morfina extraída da papoula (Papaver somniferum) é um anestésico; a cafeína do café (Coffea sp.) e guaraná (Paullinia sp.) são estimulantes; a hiosciamina, presente na trombeteira (Datura stramonium), é um exemplo de analgésico. Na trombeteira, ainda podem ser encontrados outros alcalóides tropânicos que podem ser tóxicos, e cujo antídoto é um outro alcaloide de uma planta brasileira, a pilocarpina, encontrada no jaborandi (Pilocarpus microphyllus), que também é insubstituível no tratamento do glaucoma. Alguns podem ser cancerígenos e outros antitumorais. Os alcalóides pirrolizidínicos, presentes em confrei (Symphytum sp.), são exemplos de causadores de câncer. Dos cerca de 60 alcaloides presentes na vinca (Catharanthus roseus), a vincristina e a vimblastina alcançam altas cotações no mercado internacional pelo uso contra alguns tipos de leucemia. Via de regra, as plantas com alcalóides podem ser toxicas, se usadas em quantidades maiores ou de forma inadequada.
Antraquinonas
Os heterosídios antraquinônicos ou antraquinonas são principalmente purgativos, pois estimulam os movimentos peristálticos dos intestinos após 8-12 horas de sua ingestão. As mulheres grávidas e os indivíduos com hemorróidas não devem utilizar plantas que os contem, por via oral. O mais comum desses heterosídios é a aloína, presente na babosa (Aloe sp.).
Compostos Fenólicos
O fenol é um dos mais importantes constituintes vegetais e origina diversos outros, como os taninos. O ácido salicílico, encontrado em diversa plantas e de ação antisséptica, analgésica e anti-inflamatória, é utilizado na medicina alopática, sob a forma de ácido acetilsalicílico, a popular aspirina.
Compostos inorgânicos
São constituintes normais dos vegetais que formam as cinzas ou resíduos, após a retirada da matéria orgânica. Os mais importantes são os sais de cálcio e de potássio. Os sais de potássio apresentam propriedades diuréticas, principalmente se acompanhadas de saponinas e flavonóides, com capacidade de eliminar o sódio do corpo juntamente com a água, além de expulsar substâncias residuais acumuladas na circulação sanguínea. Os sais de cálcio contribuem para a formação da estrutura óssea e regulação do sistema nervoso e do coração, proporcionando ao paciente maior resistência às infecções. Os sais de silício têm importância no fortalecimento de tecidos conjuntivos, especialmente dos pulmões, provoca aumento na resistência a tuberculose, além de fortalecer unhas, pele e cabelos. O efeito diurético atribuído a algumas plantas com grande quantidade de silício ocorre em razão da presença de flavonóides e saponinas. Os sais de potássio são muito solúveis em água, por isso muitos chás têm propriedades diuréticas. A cana-de-macaco (Costus sp.), por exemplo, é muito rica em potássio, o que a torna um excelente diurético. Os sais de cálcio são, normalmente, pouco solúveis, sendo, portanto, pouco extraídos nos chás. Os sais de silício só são extraídos por prolongadas fervuras. Normalmente uma dieta balanceada fornece estes minerais nas quantidades necessárias, dispensando a tentativa de fornecê-los por meios fitoterápicos.
Glicosídeos Cardioativos
São substâncias cuja absorção pelo organismo dá-se de forma cumulativa, podendo causar intoxicações crônicas. O seu uso no tratamento de doenças cardíacas é restrito a droga extraída e purificada sob recomendação médica, uma vez que não se pode ter um controle adequado da quantidade dessas substâncias ingeridas sob a forma de chás ou outras. A digitoxina, presente na dedaleira (Digitalis lanata e D. purpurea), é o glicosídeo mais importante desse grupo; uma dose de cerca de 10mg pode ser letal para uma pessoa com peso de 70kg.
Flavonóides
São heterosídeos com 15 carbonos. O termo flavonóide deriva do latim flavus, que significa amarelo, em virtude da flor que confere às flores. Podem ser coloridos ou incolores. As antocianinas, por exemplo, são corantes vegetais com ampla distribuição nas plantas. Os flavonóides concentram-se mais na parte aérea das plantas, ocorrendo em menor proporção nas raízes e nos rizomas. São os metabolitos secundários mais difundidos no reino vegetal, encontrando-se em maior quantidade nas famílias Leguminosae e Compositae. Sua função biológica na planta está relacionada com a atração de insetos polinizadores e proteção contra os nocivos, reação contra infecções virais e fúngicas (fitoalexinas), colaboração com hormônios no processo de crescimento, inibição de ações enzimáticas e participação no sistema redox das células. Medicinalmente, fortalecem os vasos capilares (rutina e hesperidina). São antiescleróticos e antiedematosos (rutina e oxietilrutina), dilatadores das coronárias (proantocianidinas), espasmolíticos e anti-hepatotóxicos (silimarina), coleréticos, diuréticos, antimicrobianos e anti-inflamatórios (artemetina). A grande vantagem dos flavonóides ou bioflavonóides (produzidos por plantas) é sua baixíssima toxicidade. São essenciais para a completa absorção de vitamina C, ocorrendo, normalmente, onde quer que haja esta vitamina.
Metabolismo Secundário
As substâncias medicinais são produzidas pelo vegetal e apresentam funções bem específicas dentro da planta. Na maioria das vezes, são frutos do metabolismo secundário, tendo, portanto, função ligada à ecologia da planta, isto é, ao relacionamento da planta com o ambiente que a envolve.
O metabolismo secundário diferencia-se do primário por não apresentar reações e produtos comuns à maioria das plantas, sendo específico a determinados grupos. A respiração, por exemplo, faz parte do metabolismo primário. Os metabólitos secundários apresentam algumas características:
a) Não são vitais para as plantas, na maioria das vezes, como os alcalóides;
b) São a expressão da individualidade química dos organismos e diferem de espécie para espécie, qualitativa e quantitativamente;
c) São produzidos em pequenas quantidades.
Além disso, essas substâncias podem estar presentes na planta o tempo inteiro ou só são produzidas mediante estímulos específicos. Assim, a regulação do metabolismo secundário depende da capacidade genética da planta em responder a estímulos internos ou externos e da existência desses estímulos no momento apropriado.
Cumarinas
Trata-se de um heterosídeo que apresenta diversas formas básicas: metoxicumarina, furanocumarina e piranocumarina. As Graminae e Umbelliferaesão, particularmente, ricas em cumarinas, que podem ocorrer em folhas, frutos, sementes e raízes. As cumarinas podem apresentar odor que caracteriza uma planta, como ocorre com o guaco (Mikania glomerata). Um dos metabólitos, o dicumarol, é um poderoso anticoagulante, sendo usado na alopatia, como base para medicamentos contra a trombose, em pequena dosagem, e como veneno para ratos, em grandes doses. Tem ainda ação antibacteriana. Algumas cumarinas, podem sensibilizar a pele sob ação dos raios ultravioletas, como por exemplo, em folhas de figueira (Ficus carica) e arruda (Ruta graveolens); outras, em função desta propriedade, são utilizadas no tratamento do vitiligo, por estimularem a pigmentação da pele.
Mucilagens
Quimicamente, as mucilagens são complexos polímeros de polissacarídeos ácidos ou neutros, com elevado peso molecular. Todas as plantas as produzem e são metabolizadas para o crescimento e reprodução ou armazenadas como reservas. Esses carboidratos têm, ainda, as seguintes funções na planta: retenção de água no parênquima de plantas suculentas; lubrificação para o crescimento dos ápices radiculares; adesão para dispensar alguns tipos de sementes e captura de insetos por plantas carnívoras; regulação do processo germinativo de sementes e, possivelmente, proteção contra herbívoros. As mucilagens podem ser encontradas em sementes, caules, folhas e raízes. A secreção de mucilagem pode ocorrer em diversas estruturas: em células especiais, onde os idioblastos acumulam mucilagens entre o protoplasto e a parede celular, como no fruto do quiabeiro (Hibiscus esculentus); em ductos e cavidades com mucilagens; em células epidérmicas de sementes, como em tanchagem (Plantago sp.); em tricomas especiais, que podem secretar não só mucilagens, mas também óleos essenciais. As mucilagens têm a propriedade de, em solução aquosa, produzir massa plástica viscosa, responsável pelo efeito laxativo, em que a água é retida no intestino, evitando o endurecimento do seu conteúdo; age também como lubrificante e, ao mesmo tempo, aumenta o volume do interior do intestino, estimulando seus movimentos peristálticos. As mucilagens formam um filme viscoso que cobre as paredes dos órgãos do canal alimentar, contribuindo para reduzir a irritação por ácidos e sais sobre áreas inflamadas ou doentes, propriedade essa com importante função nos casos de diarreias, especialmente aquelas causadas por certas bactérias ou substâncias irritantes. Também são muito eficientes nos casos de tosses ocasionadas pela irritação das mucosas do aparelho respiratório, contribuindo ainda, para aumentar a secreção de muco. Plantas ricas em mucilagens são muito utilizadas em compressas quentes, em razão da sua capacidade de reter calor e da grande quantidade de água, o que permite a penetração gradativa de calor nos tecidos. São também vulnerárias e hemostáticas, daí a utilização em ferimentos na pele e nas úlceras gástricas. Em pequenas doses, as mucilagens reduzem os movimentos peristálticos e têm ação antidiarreica, em doses maiores ocorre o inverso. As folhas da tanchagem (Plantago sp.) e borragem (Borago officinalis) e os frutos do quiabeiro (Hibiscus esculentus) são exemplos de órgãos ricos em mucilagens. Quando submetidos à fervura prolongada, as mucilagens são degradadas em açucares, reduzindo ou eliminando sua atividade terapêutica.
Saponinas
Também são heterosídeos. Sua característica marcante é a de formar espuma, quando colocadas em água. São utilizadas para a síntese de cortisona (anti-inflamatório) e de hormônios sexuais. O organismo pode empregá-las como precursores de outras substâncias úteis. Altas doses de saponinas na corrente sanguínea podem ser perigosas, pois podem provocar hemólise. Felizmente, sua absorção pelo trato gastrintestinal é reduzida, diminuindo o risco de intoxicação, quando utilizadas via oral. No intestino, atuam facilitando a absorção de algumas substâncias, alguns medicamentos ou alimentos, por aumentarem a permeabilidade das membranas. São laxativas, suaves, diuréticas e expectorantes. O fato de as saponinas auxiliarem na absorção de certos medicamentos faz com que as plantas que as contêm possam ser utilizadas em combinações com outras, nos chás. Um exemplo de presença de saponinas é na buchinha-do-norte (Luffa operculata) e na beterraba (Beta vulgaris), cujo suco é expectorante. A fervura prolongada pode diminuir ou destruir a eficácia das saponinas e de outros heterosídeos.
Substâncias Amargas
Constituem um grupo de compostos sem semelhança química entre si, tendo em comum apenas o sabor amargo e a atividade terapêutica. Podem pertencer a diversos grupos químicos, como o dos óleos essenciais. De modo geral, os compostos amargos estimulam, no organismo, o funcionamento das glândulas, produzindo vários efeitos, por exemplo, aumento da secreção de sucos digestivos, aguçando o apetite. A atividade do fígado pode ser especialmente estimulada, aumentando a produção e o fluxo da bílis (colerético e colagogo). No caso do falso-boldo ou boldo nacional (Coleus barbatus), que contem compostos amargos, a ação é hipossecretora gástrica. O efeito destes compostos é bem variável, pois, em alguns casos, se ingeridos antes das refeições, em pequenas quantidades, são fortes aperientes, mas se a dose aumenta ocorre redução do apetite perdido. Iguais a tantas outras substancias, estas têm eficácia variável entre diferentes indivíduos. Alguns compostos apresentam, ainda, atividades a saber: diurética, antibiótica, antifúngica e antitumoral. No algodoeiro (Gossypium hirsutum), há um principio amargo com atividade contraceptiva masculina, pois reduz a quantidade de esperma. Alguns exemplos característicos destes compostos são: a absintina na losna (Artemisia absinthium), a cnicina no cardo-santo (Cnicus benedictus), a cinarina na alcachofra (Cynara scolymus), e a lactupicrina no dente-de-leão (Taraxacum officinale).
Taninos
São substâncias químicas complexas, polifenólicas ligadas a outros compostos aromáticos, que se distribuem em todas as partes da planta para protegê-la contra herbívoros, inibir a germinação de sementes e a ação de bactérias fixadora de nitrogênio, etc. sua presença nas plantas é facilmente percebida pela adstringência ao mastigar uma parte que o contém, como por exemplo, uma goiaba verde. Tem a propriedade de precipitar proteínas, sendo responsável pelo curtimento de couros e peles. Em grandes doses, podem irritar as mucosas; em doses pequenas podem torná-las impermeáveis, pois precipitam pequenas quantidades de proteína, o que pode prevenir a penetração de agentes nocivos em mucosas danificadas, facilitando, por exemplo, a cicatrização em queimaduras, o que também explica a propriedade antidiarreica. Assim, os taninos contribuem para formar uma camada protetora sobre a pele e as mucosas, atuando em infecções no olho, cérvix, reto, na vagina e boca. Provocam a contração de vasos capilares, colaborando nos casos de hemorragias. Os taninos podem reagir com o ar e tornarem inativos, podendo também ser destruídos por fervura prolongada em água.
Óleos Essenciais
São substâncias orgânicas voláteis muito conhecidas pelo cheiro que caracteriza certas plantas, como o mentol nas hortelãs (Mentha sp.), o cheiro de eucalipto (Eucalyptus globulus) dado pelo eucaliptol, etc. O aroma das plantas que contem óleos essenciais é fruto da combinação de suas diversas frações. As resinas diferem dos óleos por conter substâncias tanto voláteis quanto não-voláteis, de alto peso molecular. Podem estar em um só órgão vegetal ou em toda planta, onde atuam atraindo insetos polinizadores, regulando a transpiração e intervindo com hormônios na polinização. São produzidos por pelos ou tricomas glandulares (Labiatae); cavidades secretoras (Rutaceae, Myrtaceae, etc.), glândulas spouting, que esguicham o seu conteúdo o simples toque em Dictamnus albuns; ductos (Pinaceae, Anacardiaceae, Compositae, Hypericaceae, Leguminosae, Umbelliferae, etc.) e células de óleo (Lauraceae, Valerianaceae, etc.). a família Labiatae é a que mais apresenta espécies com óleos essenciais. O grande número e a diversidade de substâncias incluídas neste grupo de princípios ativos determinam a ampla variedade de ações farmacológicas. As propriedades dos óleos são variadas: antivirótico, antiespasmódico, analgésico, bactericida, cicatrizante, expectorante, relaxante, vermífugo, etc. O mentol da hortelã (Mentha piperita) tem ação expectorante e antisséptica; o timol e o carvacrol encontrados no tomilho (Thymus vulgaris) e no alecrim-pimenta (Syzygium aromaticum) é um anestésico local e analgésico; e o ascaridol, presente na erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides), é vermífugo. Em alguns casos, os óleos podem até aumentar a produção de glóbulos brancos. Certos óleos essenciais atuam aumentando as secreções do aparelho digestivo, o que justifica a utilização como digestivos. Outros são expectorantes, por estimular a secreção dos brônquios, como o eucaliptol. Substâncias como eucaliptol e mentol, eliminadas pelas vias pulmonares e urinárias, são tidas como antissépticos dos respectivos aparelhos. Altas doses de óleos essenciais podem provocar, em geral, nefrites e hematúrias. O efeito sudorífero de algumas plantas com óleos essenciais quase sempre ocorre em função do uso de chás quentes, e não pela ação direta dos constituintes da planta. São facilmente transportados pelo organismo, podendo até atravessar a placenta, além de chegar ao leite materno. Recomenda-se que as plantas que os contêm recebam especial atenção na colheita, secagem e, principalmente, na armazenagem, que deve ser feita em recipientes bem fechados, para evitar maiores perdas. A observação do tipo de estrutura secretora de óleo essencial pode ser muito importante para a determinação dos cuidados pós-colheita com as plantas (processamento). Alguns óleos essenciais podem ser empregados no controle de doenças e pragas de plantas medicinais, dada a ação bactericida, bacteriostática, fungicida e inseticida de algumas substâncias.
Fonte: “Plantas Medicinais” do Grupo Entre Folhas
Excelente blog. Parabéns
ResponderExcluirObrigada!
Excluirpuxa vida que maravilhosa leitura, parabens ao redator
ResponderExcluirObrigada Paulo!
Excluirótimo site, meus parabéns, essas informações vem de artigos e livros, se sim gostaria de saber quais para que eu possa usar no meu TCC. Mais uma vez meus parabéns
ResponderExcluirajudou muito com minhas matéria de tecnologia e farmacognosia quero ser um farmacêutico igual a você
ResponderExcluirQual a diferença entre consumir a erva em cha, tintura, erva seca, etc ? É apenas na velocidade da absorção ou certos principios ativos só são eficazes quando extraidos???
ResponderExcluirNo momento estou com a disciplina "plantas medicinais e fitoterapico " tô estudando exatamente isso aí. E vamos apresentar um seminário cujo tema é "cumaru". Ainda não li tudo e adorei suas informações.
ResponderExcluirArtigo muito bem detalhado e explicado, parabéns!
ResponderExcluirwww.detoxparaemagrecer.com