Um novo medicamento biológico para o
controle do colesterol, ainda em fase de testes, se apresenta como o mais
promissor recurso descoberto desde as estatinas. A substância que pode fazer
essa revolução é uma molécula nova, ministrada na forma injetável, com
periodicidade quinzenal ou mensal.
Os resultados foram publicados na
conceituada revista científica “Lancet”. Os cientistas promoveram testes em cerca
de mil pacientes e a injeção conseguiu reduzir em até 72% o LDL, abreviação das
iniciais de low density lipoprotein, ou proteína de baixa densidade. O LDL é o
chamado “colesterol ruim”, vilão das doenças cardíacas e da aterosclerose. Tem
em sua composição 45% de puro colesterol e no seu trajeto pela corrente
sanguínea vai se depositando na parede das artérias.
O trabalho comparou indivíduos
saudáveis que tomaram a injeção anticolesterol com portadores da forma genética
da doença em tratamento com estatinas e ezetimiba (medicamento que ajuda na
diminuição do colesterol com a absorção do LDL no intestino) por quatro meses.
A injeção é inovadora em vários
sentidos. Primeiro, porque atua por caminhos diferentes das estatinas, que
contêm as taxas de gordura no sangue, inibindo a sua produção no fígado. A
molécula bloqueia a atividade de uma enzima natural do corpo chamada PCSK9.
Essa enzima destroi os receptores de
LDL no sangue, cuja função é retirar o excesso de colesterol ruim em
circulação, como ficou demonstrado por estudos publicados nos últimos dez anos
pela revista científica “New England Journal of Medicine”.
Com o avanço das pesquisas, os
cientistas encontraram mais alterações na mesma enzima capazes de gerar baixas
concentrações de LDL no sangue e de ligá-la aos casos de hipercolesterolemia
familiar. São situações em que membros de diversas idades de famílias inteiras
convivem com elevadíssimas taxas de colesterol.
No próximo ano, dezenas de milhares de
pessoas serão submetidas ao uso experimental do novo medicamento. Seis grandes
empresas farmacêuticas multinacionais estão acelerando o planejamento dos seus
testes de fase três, que comprovam a eficácia e a segurança do medicamento em
populações maiores. Elas disputam qual chegará primeiro ao mercado com o novo
medicamento.
Hoje o tratamento para o colesterol
alto passa necessariamente pelas estatinas, quando o controle não é conseguido
com mudanças no estilo de vida. O problema é que pouca gente consegue mudar a
dieta, parar de fumar e adotar um programa de exercícios semanais, que são as
primeiras recomendações dos médicos a quem começa a mostrar alterações no
LDL.
Embora seja a arma mais eficaz
encontrada até hoje, as estatinas têm sido alvo de duras críticas por seus
efeitos colaterais, como perda de memória e fadiga muscular. Outro efeito
indesejado é um incremento na produção da enzima que destrói os receptores de
LDL, responsáveis pela remoção do mau colesterol. A nova injeção combate
justamente essas enzimas.
Para a Sociedade Brasileira de Cardiologia,
o colesterol total não deve ultrapassar 200 mg/dl. Níveis entre 200 e 240 mg/dl
já são elevados e merecem atenção. Acima desses valores, são preocupantes. O
colesterol em taxa elevadas atinge cerca de 40% da população mundial e
contribui para 56% dos casos de óbitos por doenças coronárias, segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS).
Por: Carlos Nascimento - Revista IstoÉ