Ao contrário dos rastreios dos cancros da mama, do
útero ou da próstata, em que se detecta a doença na sua forma precoce, o
rastreio do cancro do cólon pode impedir que um simples pólipo no intestino,
retirado a tempo, se transforme em cancro. Provavelmente porque este exame não
se faz com a regularidade que se deveria fazer, morrem todos os dias dez
portugueses vítimas de cancro do intestino o que corresponde a cerca de 25
novos doentes por dia. Em 2005 o número de vítimas mortais não ultrapassava os
oito. Cinco anos depois o número de mortos sobe mais de 20 por cento, e atinge
ambos os gêneros em números semelhantes.
Nobre Leitão, diretor clínico do Hospital dos
Lusíadas, em Lisboa, afirma que o cancro do intestino é o que mais mata em
Portugal mas assegura que já é possível preveni-lo sendo o primeiro objetivo
evitar que ele exista. Recorda que em 2004, na Alemanha, foi introduzido um rastreio
à população a partir dos 50 anos e este ano já se verificaram menos 17 mil
novos doentes em relação ao que era esperado só pela colonoscopia, o método
padrão que se aplica em todo o mundo. O mesmo se verificou nos Estados Unidos,
onde a incidência de novos casos também tem vindo a descer.
A colonoscopia faz-se através de um tubo flexível com 1,4 metros de
comprimento e 11 milímetros de diâmetro, que permite observar todo o intestino
e localizar a existência de pólipos, estruturas benignas que quando não são
extraídas se podem transformar em cancro. Nobre Leitão admite que, se por
hipótese, fosse possível tirar todos os pólipos não haveria cancro do intestino
e reconhece que a colonoscopia é um exame que provoca um grande stress físico e
psicológico, precisa de sedação profunda para não ser desconfortável, é
invasivo e, pontualmente, está sujeito a complicações que podem terminar em
internamento e intervenção cirúrgica imediata.
Cápsula sem risco
Cápsula sem risco
A partir de agora, ninguém precisa passar por este tormento. Para minimizar os efeitos negativos da colonoscopia, cientistas israelitas inventaram uma cápsula vídeo do colon. Toma-se com um copo de água, e registra 4 a 35 fotos por segundo em alta definição, dependendo da velocidade a que a capsula se movimenta.É expelida juntamente com as fezes. "Como tem duas câmaras, uma à frente e outra atrás, permite um ângulo de praticamente 360º de visão", garante o especialista, para se referir à imagem "fantástica" da cápsula. "É um avanço tão extraordinário e tão bem recebido no mundo que ultrapassou a capacidade de produção do próprio fabricante".
Na opinião de Nobre Leitão, trata-se de um método não invasivo, isento de risco e com uma capacidade de visualização semelhante à da colonoscopia. O doente toma a cápsula, coloca um gravador de imagens preso à cintura e pode ir trabalhar. Ao fim de um dia entrega o gravador e o médico avalia se é necessário ou não fazer a colonoscopia para extrair um ou mais pólipos que tenha localizado nas imagens. Ou seja, a partir de agora, a colonoscopia só será necessária se houver pólipos para tirar. O que significa que apenas 20 por cento das pessoas terão de se submeter à intervenção invasiva.
Por: Palmira Correia