quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Zika, muito além da microcefalia

Estudos recentes já haviam observado que a microcefalia, condição característica em casos de infecção gestacional pelo vírus Zika, era apenas uma das diversas alterações cerebrais em bebês expostos ao vírus ainda no útero. Agora, um estudo publicado na Radiology mostra a gravidade das alterações neurológicas induzidas pela infecção viral no sistema nervoso central em formação.

"As consequências da infeção congênita pelo vírus Zika ainda estão em investigação. Estudos recentes sugeriam que a microcefalia é um dos principais danos a estes bebês, mas queríamos nos aprofundar, investigando quais outros tipos de danos neurológicos a infecção podia causar ao sistema nervoso central em desenvolvimento. Por isso, realizamos um estudo de coorte com exame de imagens e, em alguns casos, seguimento pós-natal", explicou a primeira autora da pesquisa, a Dra. Patrícia Soares de Oliveira-Szejnfeld, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI).

Participaram da pesquisa cientistas de instituições do Brasil, Israel e Estados Unidos. O grupo documentou os achados associados à infecção congênita por Zika de uma coorte de pacientes do estado da Paraíba, no nordeste brasileiro, e realizou a revisão retrospectiva de imagens e de dados de autópsias de casos referenciados ao Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (IPESQ), em Campina Grande, entre junho de 2015 e maio de 2016. 

Foram usados como critérios de inclusão no estudo gestação com rash, anomalias do sistema nervoso central (SNC) em exames de ultrassonografia pré-natal e/ou microcefalia ou outras malformações do SNC consideradas características de infecção congênita. A ausência de calcificações nas imagens pós-natais foi um dos critérios de exclusão do estudo. O critério da circunferência da cabeça de 32,5 cm para definir microcefalia foi revisado por conta de um neonato com circunferência normal, mas que apresentava ventriculomegalia e calcificações similares às vistas na população com infecção por vírus Zika suspeita ou confirmada. Ao final das exclusões, a pesquisa ficou restrita à analise dos exames de imagem de 31 fetos de 30 gestantes e 45 neonatos (os 31 fetos e outros 14 incluídos posteriormente ao nascimento).

A infecção pelo vírus Zika foi confirmada nos fluidos ou tecidos, e foram excluídas infecções por dengue, chikungunya, toxoplasmose, sífilis, varicela-zoster, parvo vírus B19, rubéola, citomegalovírus, herpes e HIV. As imagens foram descritas por consenso por quatro radiologistas com mais de 12 anos de experiência em neurorradiologia fetal ou neonatal. Para o estudo foram utilizadas imagens de exames de ultrassonografia e ressonância magnética pré-natal e de tomografia computadorizada pós-natal.

No estudo os pesquisadores descrevem as áreas do cérebro mais afetadas, assim como a gravidade dos danos. Os cérebros dos fetos de bebês infectados pelo vírus Zika apresentaram malformações corticais e alterações localizadas na junção das substâncias branca e cinzenta do cérebro. Os pesquisadores também identificaram redução do volume cerebral, anormalidades no desenvolvimento cortical e ventriculomegalia. Os resultados ainda apontaram anormalidades no corpo caloso.

A  redução do volume do parênquima cerebral foi a mudança mais notória, presente em todas as imagens neonatais. Anormalidades do desenvolvimento cortical associado a mudanças no volume foram observadas em 94% das infecções confirmadas e em 100% das presumidas. Anormalidades do corpo caloso estavam presentes em 94% das infecções confirmadas e em 78% das presumidas. Os ventrículos laterais eram maiores em 94% das infecções confirmadas e em 96% das presumidas. Também eram assimétricos em seis de 17 casos de infecção confirmada e cinco de 28 presumidas. Apesar da ventriculomegalia, os espaços extra axiais eram com frequência proeminentes devido a atrofia ou subdesenvolvimento cortical. Outros achados associados aos ventrículos foram septos (tipicamente nos cornos occipitais), que com frequência eram difíceis de distinguir de cistos sub-ventriculares. Cistos sub-ependimais também foram visualizados ocasionalmente

Com informações de Roxana Tabakman em Medscape 

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