A propriedade da gordura marrom de proteger o corpo contra temperaturas baixas é bem conhecida. Agora, pesquisadores descobriram que esse tipo de célula, em humanos, passa por ciclos de consumo de glicose — um combustível para a produção de calor. Esses ritmos, que têm o pico pouco antes do despertar, podem ter evoluído como um mecanismo de defesa térmica para preparar os ancestrais humanos para a tarefa de caça e coleta de alimento nas mais gélidas horas da manhã. O estudo, do Instituto Garvan de Pesquisa Médica, da Austrália, foi publicado na revista Cell Metabolism.

Em resposta a temperaturas baixas, a gordura marrom consome grande quantidade de glicose e lipídeos como fonte de combustível para gerar calor e manter o corpo aquecido. Dessa forma, induzir o frio para ativá-la queima calorias e reduz os níveis de glicose, o que protege contra obesidade e diabetes. Mas não está claro se a gordura regula as taxas de glicose na falta da exposição ao frio.
Ao investigar essa questão, a equipe de Lee descobriu que o tecido de gordura marrom nos humanos passa por flutuações circadianas no consumo de glicose. Amostras dessas células retiradas de pacientes cirúrgicos indicaram alterações rítmicas nos níveis de atividade, com picos ocorrendo no período pré-despertar. A descoberta fornece novas informações sobre o papel da gordura marrom na regulação da atividade metabólica, além da sua tarefa da produção de calor.
Os pesquisadores também descobriram, em uma amostra de 15 tecidos, que indivíduos saudáveis com grande abundância de gordura marrom mostraram menos variações nos níveis de glicose ao longo de um período de 12 horas do que pessoas com quantidades menores desse tipo de célula adiposa. Uma forte característica do diabetes são justamente as flutuações nos níveis de glicose, o que aumenta o risco de complicações, como danos visuais, doenças cardiovasculares, problemas renais e neurológicos.
Os autores, porém, são cautelosos quanto as implicações clínicas da descoberta. “Embora interessante e promissora, a gordura marrom não é a solução para a cura do diabetes; ao menos agora”, alerta Lee. “Uma dieta balanceada e exercícios regulares são os pilares de um metabolismo saudável e não podem ser esquecidos.” Nos próximos estudos, os pesquisadores pretendem examinar se o ritmo da gordura marrom existe em pessoas com diabetes ou distúrbios metabólicos relacionados. Eles também vão investigar em maior detalhe como esse ritmo pode identificar novos alvos no desenho de medicamentos.
“Para os humanos modernos que não precisam da gordura marrom para proteção contra o frio, o mecanismo de consumo energético pode agir como um amortecedor de glicose, suavizando as flutuações das taxas e diminuindo o estresse do pâncreas”
Com informações de Correio Braziliense
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