terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Bactéria da flora intestinal de mosquitos pode bloquear transmissão de malária e dengue

Tal como os dos seres humanos, os intestinos dos mosquitos estão cheio de micróbios e a flora intestinal pode determinar a capacidade do insecto transmitir doenças. Um estudo disponibilizado na publicação PLoS Pathogens - e que tem o português Raúl G. Saraiva como co-autor - descreve como uma bactéria isolada do intestino de mosquitos Aedes pode reduzir os níveis de infecção pelo parasita da malária e pelo vírus da dengue. A bactéria também aparenta inibir a proliferação desses agentes infecciosos em tubo de ensaio, bem como encurtar o tempo de vida dos mosquitos que transmitem ambas as doenças.
O mesmo grupo da universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA) liderado por George Dimopoulos tinha já isolado Csp_P, um membro da família Chromobacterium, do intestino de mosquitos Aedes aegypti (transmissores da dengue) no Panamá.

Neste estudo, examinam as ações desta bactéria também em Anopheles gambiae (mosquitos transmissores da malária), sendo que os resultados sugerem que Csp_P pode ajudar no combate à malária e à dengue a diferentes níveis.

O que diz Raúl

Em tempos em que muito se fala de ebola, convém não esquecer que se registram mais de 200 milhões casos de malária por ano que resultam em mais de 600.000 mortes, 90% das quais ocorrem precisamente na África subsaariana e em crianças com menos de cinco anos de idade.

Os investigadores descrevem como, ao adicionar Csp_P ao néctar que alimenta os mosquitos em laboratório, a bactéria é rapidamente capaz de colonizar o intestino dos dois vectores, Anopheles e Aedes, associados às duas mais importantes doenças transmitidas por mosquitos, malária e dengue, respectivamente.

Os resultados mostram como a adição deste probiótico conduziu a uma redução da susceptibilidade dos respectivos mosquitos a infecção com o parasita da malária Plasmodium falciparum e com o vírus da dengue. Além disso, a presença da bactéria também resultou num encurtar do tempo de vida dos mosquitos adultos ou ainda enquanto larvas em ambas as espécies.

Quando os cientistas testaram se Csp_P poderia actuar directamente contra os agentes da malária ou da dengue, descobriram que a bactéria, provavelmente através da produção de metabolitos tóxicos, pode inibir o crescimento de Plasmodium nas várias fases do ciclo de vida do parasita, e também abolir a infecciosidade do vírus da dengue. Csp_P consegue também inibir o crescimento de muitas outras bactérias testadas.

Os autores sugerem que estes metabolitos tóxicos podem potencialmente ser desenvolvidos como drogas terapêuticas contra a malária e dengue.

No geral, concluem que “o amplo espectro anti-patogénico, juntamente com a capacidade de matar os mosquitos, fazem da bactéria Csp_P uma candidata particularmente interessante para o desenvolvimento de novas estratégias de controlo das duas doenças mais importantes que são transmitidas por mosquitos, merecendo, por isso, estudos complementares”.

Fonte: Ciência Hoje

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