Pacientes
com hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC) estão próximos de
conhecer uma forma inédita de tratamento. Durante a reunião anual do American
College of Chest Physicians, em outubro, foram anunciados resultados do estudo
com o primeiro medicamento para a doença, um dos cinco subtipos da hipertensão
pulmonar. Pacientes tratados com Riociguat tiveram melhora significativa no
teste de caminhada que avalia o quadro. O estudo mostrou ainda segurança para
indicação do medicamento como terapia única ou combinada com outras drogas,
para tratar a hipertensão arterial pulmonar (HAP), outro subtipo.
Nos
estudos de fase III do medicamento, último antes que seja submetido às agências
de regulação, o Riociguat foi bem tolerado. As reações adversas mais frequentes
foram tontura, dor de cabeça, edema periférico e sintomas gastrointestinais.
Nessa fase, estão sendo avaliadas a eficácia e a segurança do medicamento via
oral no tratamento de pacientes com hipertensão pulmonar tromboembólica crônica
ou inoperável, ou hipertensão pulmonar persistente ou recorrente após a
endarterectomia pulmonar, como é conhecido o tratamento cirúrgico disponível
para a doença. Vinte e seis países estão envolvidos na pesquisa.
Segundo
Kemal Malik, membro do Comitê Executivo e chefe de Desenvolvimento Global da
Bayer HealthCare, há planos de enviar o riociguat para autorização de
comercialização ainda no primeiro semestre de 2013. Para o professor Ardeschir
Ghofrani, do University Hospital Giessen and Marburg, na Alemanha, principal
pesquisador do estudo, os dados até aqui são encorajadores. “Os resultados
clínicos positivos observados em pessoas com HAP e HPTEC nos dão provas de que
o princípio de ação do Riociguat pode ser importante para sua administração
bem- sucedida.”
A
hipertensão pulmonar é um grupo de patologias que tem como fator comum a
elevação da resistência vascular pulmonar e o consequente aumento da pressão na
artéria pulmonar, levando à hipertrofia e falência do ventrículo direito. A
HPTEC é fatal e tem diagnóstico tardio. Suas causas não estão totalmente
esclarecidas, mas a oclusão dos vasos pulmonares com coágulos de sangue que
levam a um gradual aumento da pressão nas artérias pulmonares pode ocorrer
depois de episódios de embolia pulmonar. O tratamento-padrão é a
endarterectomia pulmonar, mas um número considerável de pacientes não pode ser
operado.
Segundo
Flávio Mendonça Andrade da Silva, vice-presidente da Sociedade Mineira de
Pneumologia e Cirurgia Torácica, o tromboembolismo agudo é definido como a
migração de um ou mais coágulos das veias sistêmicas para o leito vascular
pulmonar. “Define-se HPTEC como o quadro de hipertensão pulmonar observado
depois de um período mínimo de seis meses depois de pelo menos um episódio de
embolia pulmonar, desde que excluídas outras causas de hipertensão pulmonar.” A
incidência nos Estados Unidos é de um caso a cada mil pessoas. No Brasil, cerca
de 2% a 4% dos casos de embolia pulmonar aguda evoluem para HPTEC.
O
diagnóstico, de acordo com o especialista mineiro, começa pela queixa mais
comum: uma piora na capacidade de respirar. O principal exame para o
diagnóstico é o ecocardiograma, que estima a pressão na artéria pulmonar.
Também ajudam a confirmar a doença os exames que comprovam o tromboembolismo
pulmonar, como a cintilografia pulmonar, a angiotomografia computadorizada do
tórax e por último a avaliação hemodinâmica invasiva. Segundo a cardiologista
Gisela Meyer, responsável pelo Centro de Hipertensão Pulmonar do Complexo
Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, o prognóstico é muito ruim para os
pacientes que não têm indicação de serem submetidos à cirurgia de remoção dos
trombos, quadro em que atuará o novo medicamento, se aprovado.
Tratamento
Na
década de 1990, quando ainda não existia qualquer medicamento para a hipertensão
pulmonar, foi realizado um registro de pacientes com hipertensão arterial
pulmonar idiopática, outro subtipo, nos EUA. Naquela época, observou-se que a
sobrevida mediana desses pacientes era de 2,8 anos. Segundo Jaquelina Sonoe Ota
Arakaki, coordenadora do Grupo de Circulação Pulmonar da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp), dados do registro americano foram recentemente
publicados, e aproximadamente 2600 pacientes estão sendo acompanhados. “A
sobrevida em cinco anos foi de 58%. Portanto, podemos dizer que a sobrevida
média subiu de três para cinco anos. Houve um grande avanço sim, mas a doença
ainda tem evolução desfavorável e não tem cura.”
Como
há uma obstrução dos vasos pulmonares por trombos organizados, essa barreira
aumenta a resistência nos vasos pulmonares com consequente sobrecarga ao lado
direito do coração, que leva o sangue para o pulmão a realizar a troca gasosa
(oxigênio e gás carbônico). Dessa forma, além do comprometimento da troca
gasosa, ocorre a falência do coração direito, levando aos sintomas de cansaço,
falta de ar, tonturas e até desmaios. O melhor tratamento, que pode ser
curativo, é a cirurgia, quando os trombos são retirados. Porém, entre 30% e 50%
dos casos, dependendo da experiência do centro ou particularidades do caso, os
trombos são muito periféricos e não acessíveis a cirurgia.
Segundo
Jaquelina Arakaki, nessa situação específica o paciente poderia se beneficiar
de medicações que levam à dilatação dos vasos pulmonares. “Estudos anteriores
demonstraram que na HPTEC, além do aumento da resistência vascular pulmonar por
trombos organizados, existem lesões nos vasos pulmonares semelhantes às
observadas na HAP, com proliferação das células que formam os vasos,
justificando estudos com as medicações que atuam na circulação pulmonar.”
A
especialista acredita na aprovação do Riociguat, indicado para aqueles
pacientes com trombos organizados inacessíveis e, por isso, sem chances de
recorrer à cirurgia. “A medicação não vem para substituir a cirurgia, e sim
para tratar aqueles que não podem operar. Como além dos trombos existem lesões
nos vasos arteriais do pulmão em alguns casos, mesmo com a cirurgia, o paciente
pode continuar com hipertensão pulmonar residual, sendo esta mais uma indicação
para o Riociguat. Sem dúvidas o medicamento representa um avanço considerável.”
NOVIDADE
O
Riociguat, ainda em investigação, é um medicamento oral com abordagem inédita
para tratar dois subtipos da hipertensão pulmonar: a hipertensão pulmonar
arterial, que já dispõe de medicamentos, e a hipertensão pulmonar
tromboembólica crônica, para a qual não existe tratamento medicamentoso.
MODO
DE AÇÃO
A
hipertensão pulmonar está associada à disfunção endotelial, à síntese diminuída
do óxido nítrico e à estimulação insuficiente da via NO-cGMP-sGC. Primeiro
membro dessa nova classe de compostos, o Riociguat é um estimulador da
guanilato ciclase solúvel (sGC), enzima presente no sistema cardiopulmonar.
Quando o óxido nítrico se liga ao sGC, a enzima catalisa a síntese de uma
molécula cíclica que tem papel importante na regulação do tônus vascular,
proliferação, fibrose e inflamação. Por causa desse novo modo de ação, o
medicamento em estudo é visto como esperança para tratar os dois subtipos de
hipertensão pulmonar.
Fonte:
Estado de Minas - MG
