Uma nova droga que permitirá que o
paciente com câncer de próstata avançado - que já não pode ser tratado com
cirurgia - receba a medicação a cada seis meses. Urologistas dizem que a
periodicidade favorece a adesão ao tratamento e traz mais conforto ao paciente.
O acetato de leuprorrelina, que tem o
nome comercial de Eligard, faz parte do grupo de medicamentos usados na
hormonioterapia. Para pacientes que são diagnosticados em estágio mais
avançado, com metástase, a supressão do hormônio masculino é a primeira
alternativa terapêutica, na medida em que é esse hormônio que
"alimenta" o tumor. Caso a terapia hormonal falhe em suas várias
formulações, recorre-se à quimioterapia, definida como segunda linha de
tratamento. A cirurgia de retirada da próstata só é indicada em casos
diagnosticados precocemente.
Para o especialista americano David
Crawford, que participou do congresso, o desenvolvimento da hormonioterapia vai
fazer com que, no futuro, o câncer de próstata avançado seja tratado como uma
doença crônica. "Temos esperança de transformar o câncer de próstata
avançado em uma doença controlável. Talvez não curável, mas também não se cura
diabete ou hipertensão, apenas se trata", diz o urologista, chefe da seção
de Uro-Oncologia da Universidade do Colorado.
Sobre a medicação semestral, ele conta
que tem experiência com pacientes que utilizam a estratégia nos EUA e observa
que ela diminui o risco de falhas na adesão. "Se você opta por esse
medicamento, é apenas uma injeção a cada seis meses. O médico continua vendo o
paciente, só que o tempo do consultório não é atrelado à injeção, mas ao
atendimento clínico."
De acordo com o urologista Rodolfo
Borges dos Reis, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Seccional São
Paulo (SBU-SP), para os pacientes que estão em boa condição de saúde, quanto
menos se lembrarem da doença, melhor. "Quando a medicação é só a cada seis
meses, o paciente vai se lembrar menos da doença. Do ponto de vista
psicológico, não ter de tomar remédio todos os dias é melhor."
O medicamento, que deve ser aplicado
em uma injeção subcutânea, está em fase de aprovação pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). No Brasil, por enquanto, só estão disponíveis
doses mensais e trimestrais. A estimativa é que cada dose semestral custe cerca
de R$ 3 mil.
Outro avanço são as drogas de
hormonioterapia que bloqueiam a produção de testosterona por vários caminhos.
Crawford diz que 95% da testosterona vem do testículo. "Mas quando você
bloqueia esse caminho, a testosterona fica esperta e descobre outra maneira de
sair. As glândulas adrenais começam a produzi-la, por exemplo. É um mecanismo
de defesa." As drogas mais modernas são capazes de driblar esse mecanismo.
Prevenção. Apesar dos avanços na pesquisa, a
prevenção ainda se apresenta como um problema no Brasil. De acordo com Reis, o
mais grave é que os brasileiros ainda estão sendo diagnosticados tardiamente. O
urologista cita que nos EUA 80% dos pacientes diagnosticados com câncer de
próstata estão em estágio inicial, mas no Brasil menos de 50% dos
diagnosticados no sistema público têm esse benefício.
Levantamento coordenado por Reis em um
hospital público de Ribeirão Preto ligado à USP mostrou que 52% dos casos foram
diagnosticados já no estágio classificado como "localmente avançado".
"Ainda tem muita coisa a ser feita. O Brasil não tem curvas de primeiro
mundo em relação ao câncer. Os doentes ainda estão demorando para chegar ao
sistema público. Na prática do consultório, isso é um pouco diferente e os
pacientes são detectados mais cedo", diz Reis.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer
(Inca), está previsto para este ano o surgimento de 60.180 novos casos de
câncer de próstata. A taxa de incidência é de 62,5 casos a cada 100 mil homens.
Para Reis, falta aos homens uma educação continuada que mostre a importância de
consultar frequentemente urologistas, assim como a mulher já está condicionada
a se consultar com ginecologistas.
Fonte: Estado de São Paulo
