terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nanotecnologia preocupa consumidores


Riscos da nanotecnologia

Um grupo de consumidores se uniu à Universidade de Lausanne, na Suíça, para lançar uma campanha de sensibilização sobre a nanotecnologia  - o seu potencial, mas também os possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente.
O que os protetores solares têm em comum com os tira-manchas de tecidos e uma geladeira que elimina os odores?
Todos são fabricados com nanotecnologia, com substâncias invisíveis ao olho humano e que têm um potencial incrível, mas também representam riscos desconhecidos.
Nanopartículas já são encontradas em mais de mil produtos e inúmeras empresas utilizam a nova tecnologia, seja na área de pesquisa ou na produção.

Promessas e ameaças

No entanto, o uso generalizado das nanopartículas é em grande parte desconhecido pelo público e ainda não há estudos exaustivo sobre os riscos possíveis para a saúde ou para o meio ambiente.
"Nos últimos 20 anos a nanotecnologia tem sido apresentada como revolucionária a partir de um ponto de vista científico - no sentido de que ela modifica os processos de produção e permite avanços nas áreas de eletrônica, medicina, energia renovável e agricultura", explica Marc Audétat, pesquisador da Universidade de Lausanne.
As esperanças dos pesquisadores são muitas: fala-se de um gel que irá promover o crescimento de dentes, ou mesmo o abrandamento dos efeitos do envelhecimento.
Se essas possibilidades continuam ainda sendo coisa de ficção científica, as dúvidas em torno da nova tecnologia são reais. É por isso que a federação dos consumidores da Suíça, em conjunto com o departamento de ciências da universidade, lançou uma campanha para sensibilizar o público e estimular o debate sobre os prós e contras da nanotecnologia.

Nanopartículas naturais e artificiais

As nanopartículas estão presentes na natureza ou são fabricadas, e consistem de alguns milhões de átomos. É a quantidade desses átomos que determina suas propriedades.
"Algumas matérias mudam quando são reduzidas a dimensões infinitamente pequenas. Esse é o caso do dióxido de titânio, que em seu estado natural é usado como pigmento em tintas na forma de um pó branco, mas se reduzido a uma nanopartícula torna-se transparente e se transforma em um filtro ultra-violeta", explica Huma Khamis, bióloga e especialista em nanotecnologia do grupo de consumidores.
Suas propriedades podem ser surpreendentes, mas também extremamente difíceis de definir, pois basta alterar apenas um átomo para provocar modificações radicais.
Além disso, as nanopartículas têm uma superfície de contato particularmente grande em relação à sua massa e, portanto, muito sensível ao ambiente externo e altamente imprevisível.
O que causa preocupação é o contato humano com essas substâncias. "Não podemos descartar que essas partículas entrem em contato com o organismo através dos alimentos ou por inalação, com consequências para a saúde", adverte a especialista.

Consumidores como cobaias

De acordo com um estudo do Fundo Nacional de Pesquisa, no caso específico da Suíça, investe-se muito mais para descobrir quais as possíveis aplicações da nanotecnologia do que para saber quais os riscos que ela comporta.
Algumas experiências em animais demonstraram que há efeitos negativos no trato respiratório. Ou, no caso do dióxido de titânio (usado em protetores e cremes), o desenvolvimento de câncer em ratos de laboratório.
No momento, entretanto, a pesquisa toxicológica está em fase embrionária e por isso é difícil introduzir normas para aplicações comerciais - seja na Suíça ou em qualquer parte do mundo.
"Isso não significa que os consumidores devem ser usados como cobaias", afirma Khamis. "Cabe à indústria provar que as substâncias colocadas no mercado são realmente inofensivas, especialmente os cosméticos ou qualquer produto que entre em contato com a pele. Não é só o público que tem o direito de saber quais os itens que contêm nanopartículas. É uma questão de transparência e de livre escolha."

Nanotecnologia e amianto

O uso de nanopartículas também levantou algumas preocupações quanto ao impacto sobre os trabalhadores.
amianto - que continua matando 100 mil pessoas por ano, no mundo - muitas vezes é dado como exemplo, embora a comparação possa parecer exagerada à primeira vista.
Suspeita-se principalmente dos nanotubos de carbono. No ano passado, foram produzidas 700 toneladas da substância. Moléculas cilíndricas, os nanotubos apresentam uma condutividade térmica extraordinária e propriedades mecânicas e elétricas que os tornam valiosos para uma gama diversificada de matérias estruturais.
Mas se essas qualidades são mais do que promissoras para a indústria, os efeitos na saúde parecem muito semelhantes às do amianto.
"A história nos ensinou o quanto é importante conduzir a pesquisa preliminar para determinar os possíveis efeitos das novas tecnologias para evitar o que aconteceu com o amianto", diz Audétat.

Falta pesquisa

Audétat diz que o risco de se esconder algo hoje é menor do que quando os casos de amianto começaram a surgir. O pesquisador está mais preocupado com o fato de se dar mais atenção ao progresso científico do que à promoção de um debate transparente.
Há alguns anos, uma seguradora de saúde da Suíça publicou recomendações para as empresas que utilizam a nanotecnologia. Nenhuma lei sobre o assunto foi aprovada, mas o governo emitiu um plano de ação em 2008 para materiais nano sintéticos dirigidos à indústria e às empresas de varejo para facilitar a identificação de possíveis riscos.
"Esses tipos de iniciativas são importantes, mas não abrangem tudo. É necessário investir na pesquisa sobre os impactos das nanopartículas sobre a saúde de forma que regulamentos possam ser desenvolvidos para aplicações na indústria, agricultura e alimentação", conclui Khamis.
"Apesar dos esforços, a comunidade científica ainda não chegou a um consenso sobre a definição de uma nanopartícula ou as precauções ao modificá-la."

Por Stefania Summermatter, da Swissinfo – Diário da Saúde