Riscos da nanotecnologia
Um grupo de consumidores se uniu à Universidade de
Lausanne, na Suíça, para lançar uma campanha de sensibilização sobre a nanotecnologia - o seu potencial, mas
também os possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente.
O que os protetores solares têm em comum com os
tira-manchas de tecidos e uma geladeira que elimina os odores?
Todos são fabricados com nanotecnologia, com
substâncias invisíveis ao olho humano e que têm um potencial incrível, mas
também representam riscos desconhecidos.
Nanopartículas já são encontradas em mais de mil produtos
e inúmeras empresas utilizam a nova tecnologia, seja na área de pesquisa ou na
produção.
Promessas e ameaças
No entanto, o uso generalizado das nanopartículas é
em grande parte desconhecido pelo público e ainda não há estudos exaustivo
sobre os riscos possíveis para a saúde ou para o meio ambiente.
"Nos últimos 20 anos a nanotecnologia tem sido
apresentada como revolucionária a partir de um ponto de vista científico - no
sentido de que ela modifica os processos de produção e permite avanços nas áreas
de eletrônica, medicina, energia renovável e agricultura", explica Marc
Audétat, pesquisador da Universidade de Lausanne.
As esperanças dos pesquisadores são muitas: fala-se
de um gel que irá promover o crescimento de dentes, ou mesmo o abrandamento dos
efeitos do envelhecimento.
Se essas possibilidades continuam ainda sendo coisa
de ficção científica, as dúvidas em torno da nova tecnologia são reais. É por
isso que a federação dos consumidores da Suíça, em conjunto com o departamento
de ciências da universidade, lançou uma campanha para sensibilizar o público e estimular o debate sobre os prós
e contras da nanotecnologia.
Nanopartículas naturais e artificiais
As nanopartículas estão presentes na natureza ou
são fabricadas, e consistem de alguns milhões de átomos. É a quantidade desses
átomos que determina suas propriedades.
"Algumas matérias mudam quando são reduzidas a
dimensões infinitamente pequenas. Esse é o caso do dióxido de titânio, que em
seu estado natural é usado como pigmento em tintas na forma de um pó branco,
mas se reduzido a uma nanopartícula torna-se transparente e se transforma em um
filtro ultra-violeta", explica Huma Khamis, bióloga e especialista em
nanotecnologia do grupo de consumidores.
Suas propriedades podem ser surpreendentes, mas
também extremamente difíceis de definir, pois basta alterar apenas um átomo
para provocar modificações radicais.
Além disso, as nanopartículas têm uma superfície de
contato particularmente grande em relação à sua massa e, portanto, muito
sensível ao ambiente externo e altamente imprevisível.
O que causa preocupação é o contato humano com
essas substâncias. "Não podemos descartar que essas partículas entrem em
contato com o organismo através dos alimentos ou por inalação, com
consequências para a saúde", adverte a especialista.
Consumidores como cobaias
De acordo com um estudo do Fundo Nacional de
Pesquisa, no caso específico da Suíça, investe-se muito mais para descobrir
quais as possíveis aplicações da nanotecnologia do que para saber quais os
riscos que ela comporta.
Algumas experiências em animais demonstraram que há
efeitos negativos no trato respiratório. Ou, no caso do dióxido de titânio
(usado em protetores e cremes), o desenvolvimento de câncer em ratos de
laboratório.
No momento, entretanto, a pesquisa toxicológica
está em fase embrionária e por isso é difícil introduzir normas para aplicações
comerciais - seja na Suíça ou em qualquer parte do mundo.
"Isso não significa que os consumidores devem
ser usados como cobaias", afirma Khamis. "Cabe à indústria
provar que as substâncias colocadas no mercado são realmente inofensivas,
especialmente os cosméticos ou qualquer produto que entre em contato com
a pele. Não é só o público que tem o direito de saber
quais os itens que contêm nanopartículas. É uma questão de transparência e de
livre escolha."
Nanotecnologia e amianto
O uso de nanopartículas também levantou algumas
preocupações quanto ao impacto sobre os trabalhadores.
O amianto - que continua matando 100
mil pessoas por ano, no mundo - muitas vezes é dado como exemplo, embora a
comparação possa parecer exagerada à primeira vista.
Suspeita-se principalmente dos nanotubos de
carbono. No ano passado, foram produzidas 700 toneladas da substância.
Moléculas cilíndricas, os nanotubos apresentam uma condutividade térmica
extraordinária e propriedades mecânicas e elétricas que os tornam valiosos para
uma gama diversificada de matérias estruturais.
Mas se essas qualidades são mais do que promissoras
para a indústria, os efeitos na saúde parecem muito semelhantes às do amianto.
"A história nos ensinou o quanto é importante
conduzir a pesquisa preliminar para determinar os possíveis efeitos das novas
tecnologias para evitar o que aconteceu com o amianto", diz Audétat.
Falta pesquisa
Audétat diz que o risco de se esconder algo hoje é
menor do que quando os casos de amianto começaram a surgir. O pesquisador está
mais preocupado com o fato de se dar mais atenção ao progresso científico do
que à promoção de um debate transparente.
Há alguns anos, uma seguradora de saúde da Suíça
publicou recomendações para as empresas que utilizam a nanotecnologia. Nenhuma
lei sobre o assunto foi aprovada, mas o governo emitiu um plano de ação em 2008
para materiais nano sintéticos dirigidos à indústria e às empresas de varejo
para facilitar a identificação de possíveis riscos.
"Esses tipos de iniciativas são importantes,
mas não abrangem tudo. É necessário investir na pesquisa sobre os impactos das
nanopartículas sobre a saúde de forma que regulamentos possam ser desenvolvidos
para aplicações na indústria, agricultura e alimentação", conclui Khamis.
"Apesar dos esforços, a comunidade científica
ainda não chegou a um consenso sobre a definição de uma nanopartícula ou as
precauções ao modificá-la."
Por Stefania Summermatter, da Swissinfo – Diário da
Saúde