Estudo mostra que microrganismo dominante varia conforme o tipo de alimentação
Agora é possível, a partir de uma
amostra de fezes, determinar certas características da dieta de uma pessoa. Se
carne e gorduras forem o alimento dominante, as bactérias mais frequentes serão
do gênero Bacteroides. Já quem
prefere comer carboidratos e açúcares simples tem o intestino repleto de Prevotella. “Essas bactérias podem ou não estar associadas à
causa de doenças”, pondera Christian Hoffmann, biólogo brasileiro da
Universidade Federal de Goiás. Ele participou do estudo que determina o perfil
bacteriano – ou enterotipo – ligado à dieta, liderado por Gary Wu, da
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde o brasileiro faz parte de
sua pesquisa de doutorado.
Quem já levou bronca do médico
sabe muito bem que uma dieta rica em gorduras aumenta o risco de doença
cardíaca; a novidade agora está em incluir na equação as bactérias (microbiota)
que vivem no intestino e são essenciais na digestão humana, no desenvolvimento
do sistema imune, entre outras contribuições. É possível que problemas de saúde
criem um ambiente alterado no sistema digestivo que acabe propiciando a
proliferação de um tipo de bactéria em detrimento de outro. Mas Hoffmann
alerta: não se pode descartar que a própria microbiota dê origem a processos
inflamatórios e seja nociva à saúde. Há, por exemplo, uma associação entre
certas bactérias e a doença de Crohn, uma inflamação intestinal crônica. Resta
descobrir qual é causa e qual é consequência.
A grande surpresa do estudo da Science foi verificar que parte da microbiota varia de
imediato conforme a alimentação, mas as bactérias dominantes são mais estáveis:
o enterotipo se mantém mesmo com alteração na dieta, pelo menos ao longo de um
experimento de dez dias. Por isso, caso venha a ser comprovada uma relação
causal entre bactérias e problemas de saúde, não basta fazer uma semana de dieta.
“Além de poder indicar uma mudança de longo prazo na alimentação, seria ótimo
poder dar um iogurte bem específico para alterar a microbiota”, imagina o
pesquisador.
A descoberta ainda é inicial e,
mais do que trazer respostas, reforça uma maneira integrada de pensar na saúde,
levando em conta uma comunidade de organismos. Afinal, no corpo de qualquer
pessoa há dez vezes mais bactérias do que células humanas. “A gente não é
simplesmente humano, somos metaorganismos”, resume Hoffmann.
Por Maria Guimarães