domingo, 10 de janeiro de 2016

Estudo mostra como vírus do herpes escapa no núcleo celular

O mecanismo usado pelo vírus do herpes (HSV-1) para escapar do núcleo da célula hospedeira após se replicar foi descrito em dois artigos publicados na revista Cell.

A estratégia consiste em secretar duas proteínas – a pUL31 e a pUL34 – que interagem formando uma vesícula. Esse complexo proteico recobre o vírus e o transporta para fora do núcleo, permitindo que ele infecte uma nova célula e a doença progrida.

“Conhecer esse mecanismo abre uma porta para novos estudos voltados a descobrir se há outros tipos de vírus e outras moléculas que são transportados para fora do núcleo da mesma maneira. Além disso, permite pensar em compostos capazes de inibir a síntese dessas proteínas e, desta forma, impedir o escape viral e o avanço da infecção”, afirmou a brasileira Juliana Cheleski Wiggers, integrante da equipe internacional de pesquisadores liderada por Kay Grünewald, na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Wiggers aprendeu um conjunto de técnicas de microscopia eletrônica, tomografia e fluorescência que foram usadas pelo grupo para desvendar o mecanismo de escape do vírus do herpes.

Assim como todos os demais vírus, o HSV-1 é um parasita celular. Para se reproduzir, precisa infectar a célula-alvo e introduzir seu material genético em seu interior.

O vírus então passa a controlar o metabolismo celular, inativando a maior parte dos genes e valendo-se de substâncias existentes no meio intracelular para multiplicar seu próprio material genético e fabricar capsídios, uma espécie de capa de proteínas que recobre os ácidos nucleicos dos novos vírus gerados.

Terminado o processo de reprodução, o patógeno original e suas cópias precisam sair do núcleo para procurar novas células.

“Esse processo de saída é crucial para o avanço da infecção, por isso dizemos que é o estágio mais infectivo do ciclo de vida viral. Muitos vírus conseguem escapar pelos poros nucleares, o que é impossível para o HSV-1 porque ele é muito grande”, disse Wiggers.

Enquanto os poros nucleares têm entre 39 e 40 nanômetros, contou a pesquisadora, o HSV-1 tem cerca de 120 nanômetros. Um nanômetro corresponde a 1 bilionésimo do metro.

No artigo publicado em novembro na Cell, o grupo de Grünewald descreve passo a passo o processo de formação do complexo proteico que ajuda o HSV1 a escapar do núcleo celular – conhecido como NEC (nuclear egress complex).

Já no artigo de dezembro, os pesquisadores descrevem a estrutura cristalográfica do complexo formado pelas proteínas, conhecimento fundamental para que se possa pensar no desenvolvimento de inibidores.

“A estrutura dessas duas proteínas é bem incomum e não se encaixa nas classificações já existentes”, afirmou Wiggers.

A doença

De maneira geral, o vírus HSV-1 está mais associado a casos de herpes labial, enquanto o HSV-2 ao herpes genital. Nos dois casos, a infecção costuma ser recorrente, ou seja, vai e volta espontaneamente. Isso porque o vírus se esconde dentro de células do sistema nervoso, o que dificulta sua eliminação pelo sistema imune.

As recaídas, normalmente, ocorrem em períodos de baixa imunidade, o que pode ser favorecido por fatores como exposição solar intensa, estresse emocional, menstruação e traumas.

Um em cada cinco adultos é portador do HSV-2 e mais da metade da população tem o HSV-1. Porém, muitos portadores não apresentam sintomas.

O artigo Structural Basis of Vesicle Formation at the Inner Nuclear Membrane (doi: 10.1016/j.cell.2015.11.029) pode ser lido em www.cell.com/cell/fulltext/S0092-8674(15)01548-2 .

O artigo Crystal Structure of the Herpesvirus Nuclear Egress Complex Provides Insights into Inner Nuclear Membrane Remodeling (doi: 10.1016/j.celrep.2015.11.008) pode ser lido em www.cell.com/action/showImagesData?pii=S2211-1247%2815%2901295-4.

Com informações da Agência Fapesp

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