terça-feira, 27 de maio de 2014

O Ressurgimento da Imunoterapia Contra o Câncer

Uma velha ideia para o tratamento do câncer está rendendo resultados impressionantes em pacientes com câncer - e muita atenção de empresas farmacêuticas.

Novos medicamentos que fazem tumores regredir e que têm efeitos benéficos que duram meses a anos em alguns pacientes com câncer estão ajudando dar nova vida a uma velha ideia: usar as células imunológicas do próprio paciente para atacar as células malignas.

Vários fabricantes de medicamentos estão tentando provar a eficácia e segurança de novos medicamentos que utilizam as linhas de defesa do próprio corpo. A Merck, por exemplo, está testando um composto modulador imunológico em pacientes com melanoma disseminado ou em disseminação. Em um estudo em estágio inicial, metade dos pacientes que receberam a maior dose testada da droga viram seus tumores regredir ou desaparecer e, mais de um ano depois, a grande maioria dos pacientes que responderam a essa dose e a doses menores permanecem vivos. Em média, o prognóstico de um paciente com estágio avançado de melanoma metastático é inferior a um ano.

"Este não é mais um programa para desenvolver um tratamento qualquer contra o câncer", diz Roger Perlmutter, imunologista que lidera a P&D da Merck. "Está parecendo especial nesta fase", diz ele.

O composto da Merck é um anticorpo, uma molécula biológica em forma de Y, que se liga a uma proteína específica. A proteína alvo normalmente impede que as células imunes ataquem o câncer. Ao bloquear a atividade da referida proteína, o anticorpo liberta a célula imune para combater a doença. Roche, GlaxoSmithKline, Bristol-Myers Squibb e outras empresas farmacêuticas também estão desenvolvendo anticorpos para soltar os freios sobre o sistema imunológico.

Novos detalhes de como estes compostos funcionam e para quem, será apresentado por muitos grupos que estão envolvidos no novo esforço para a imunoterapia do câncer na reunião da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, em San Diego. O encontro, que começou no sábado, é a maior reunião de oncologistas e pesquisadores de oncologia do mundo. Embora os pesquisadores expressem entusiasmo sobre o potencial de medicamentos imunomoduladores para combater o câncer - alguns especialistas até usam a palavra "cura" - muitos advertem que ainda vai demorar um pouco para entender completamente o quão bem os tratamentos estão funcionando.

Há apenas alguns anos, muitos na comunidade biomédica teria duvidado. Inúmeras tentativas de induzir o sistema imunológico a atacar cânceres haviam se mostraram ineficazes em humanos, diz Charles Link, CEO da New Link Genetics, uma empresa de biotecnologia que tem desenvolvido imunoterapias há anos. "Mas, como a sofisticação de nossa compreensão sobre a imunologia aumentou, novas estratégias evoluíram para atacar a doença e essas estratégias estão se mostrando eficazes em aplicações clínicas", diz Link.

"É animador - temos trabalhado nisso por tanto tempo e, agora, finalmente, os resultados em humanos mostram claramente que funciona", diz Jianzhu Chen, um biólogo do Instituto Koch para pesquisa integrada de câncer do MIT, que estuda a imunoterapia do câncer. "Isso terá um grande impacto no tratamento do câncer."

Em 2011, a Bristol-Myers Squibb começou a vender Yervoy, também um anticorpo, que foi o primeiro medicamento comercializado a interromper o processo que impede que as células do sistema imunológico de atacar o câncer. O tratamento tem mostrado uma taxa de sobrevivência duas vezes maior nos pacientes com melanoma metastático, permitindo que 20 por cento dos doentes vivam até quatro anos após o diagnóstico. O ensaio clínico de Yervoy foi o primeiro a mostrar que a vida poderia ser prolongada para pacientes com melanoma avançado.

Os medicamentos de anticorpos representam apenas uma parte do renascimento da imunoterapia do câncer. Também houve progresso em uma forma de terapia celular que modifica as células do sistema imunológico dos próprios paciente para melhor reconhecer as células cancerosas que são, em seguida, reintroduzidas no paciente. Outras empresas, como a Amgen, estão desenvolvendo terapias genéticas à base de vírus que matam as células cancerosas seletivamente ao mesmo tempo que torna as células alvos melhores para o sistema imunológico (veja "When Will Gene Therapy Come to the U.S.?").

O sistema imunológico pode ser um poderoso aliado dos médicos, mas eles devem agir com cuidado. "Sabemos que o sistema imunológico é capaz de matar qualquer célula. Se não tivermos cuidado, podemos provocar a doença auto-imune sistêmica com consequências graves", diz Perlmutter. "Temos de aproveitar o enorme potencial de reconhecimento e resposta do sistema imune e ao mesmo tempo nos deixa em uma posição em que podemos controlar essa atividade", diz ele.

Até agora, os tratamentos foram testados em apenas um subconjunto de tipos de câncer - a maioria melanoma, mas também câncer de pulmão e de mama, entre outros. Os pesquisadores vão ter que testar os tratamentos em mais tipos de câncer para saber qual a variedade de doenças malignas que podem atacar e se certos alvos ou combinação de alvos são necessários. "Pode ser que, em diferentes tipos de tumores, diferentes imunomoduladores terão importância diferente", diz Deborah Law, que lidera uma das unidades de pesquisa biológica da Merck. "Abordagens combinadas podem ser mais eficazes", diz ela.

Fonte: http://www.technologyreview.com.br

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