Um grupo
de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos desenvolveu um novo método que
permite diagnosticar alterações nos cromossomos de pacientes com câncer – em
especial leucemias – com sensibilidade e rapidez drasticamente superior às
técnicas de citogenética usadas convencionalmente.
O estudo,
publicado na revista Blood, envolveu pesquisadores dos Institutos
Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e do Centro de Terapia Celular (CTC), em Ribeirão Preto.
Coordenado por Marco Antônio Zago, o CTC é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.
De acordo
com o artigo, a detecção de anomalias nos cromossomos permite prever a
potencial resposta à terapia e, por isso, é considerada um dos principais
sistemas para orientar o tratamento clínico.
“Detectar
alterações nos cromossomos com a máxima rapidez e precisão é importante para
que possamos diagnosticar o câncer e escolher melhor tratamento para o
paciente, disse Rodrigo Calado, um dos autores do artigo, pesquisador do CTC e
professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo
Calado, o método convencional de citogenética, usado para detectar alterações
nos cromossomos, demora alguns dias para fornecer o resultado e analisa apenas
20 células do tumor, aproximadamente. Esse número limitado de células aumenta
as chances de falsos negativos. “Com o método que desenvolvemos, podemos
analisar de 20 mil a 30 mil células do tumor em um ou dois dias. Com isso,
podemos encontrar alterações cromossômicas de forma muito mais precisa”, disse.
Enquanto
na técnica convencional de citogenética os cientistas precisam examinar as
células uma a uma no microscópio, o novo método permite que até 30 mil células
sejam analisadas rapidamente ao passarem por citômetro de fluxo – um
equipamento existente em muitos laboratórios para outras finalidades.
“No
citômetro de fluxo, a cada segundo centenas de células passam diante de um
feixe de laser que identifica os florocromos que são utilizados para analisar
os cromossomos. As anomalias são assim rapidamente detectadas”, afirmou.
Calado,
que voltou ao Brasil em 2011, depois de uma temporada de oito anos nos Estados
Unidos como pesquisador dos NIH, já havia utilizado o método nos laboratórios
norte-americanos com a finalidade de avaliar os telômeros, que são as
extremidades dos cromossomos.
“Tínhamos
muita dificuldade com as limitações dos métodos de citogenética, porque víamos
um número pequeno de células e, especialmente em casos como a mielodisplasia –
um tipo de leucemia –os resultados eram muito imprecisos e várias alterações
cromossômicas passavam despercebidas. Assim, tivemos a ideia de utilizar o
método de avaliação dos telômeros para fazer uma análise de alterações
quantitativas do cromossomo como um todo”, explicou.
Para
conseguir tal adaptação, os cientistas desenvolveram uma nova forma de preparar
as células a fim de analisar os cromossomos – o que exige uma operação mais
sofisticada que a preparação convencional – e aprimoraram os softwares de análise
dos dados.
“O
resultado foi um método de fácil aplicação, porque utilizamos o citômetro de
fluxo, que é um equipamento que já existia e que é encontrado em muitos
laboratórios. Com isso, o novo método pode ser rapidamente utilizado na
rotina”, disse.
Em sua
aplicação original, o citômetro de fluxo é utilizado para analisar os
telômeros, que são importantes marcadores de envelhecimento das células –
processo que está ligado a uma série de doenças.
“O
equipamento é utilizado em um método que serve para identificar telômeros muito
curtos, o que permite detectar doenças como fibrose pulmonar e anemia
aplástica. O encurtamento telomérico é o melhor de todos os biomarcadores de
envelhecimento”, afirmou Calado.
O artigo Interphase
Chromosome Flow-FISH, de Neal Young, Rodrigo Calado e outros, pode ser lido
por assinantes da Blood em http://bloodjournal.hematologylibrary.org
Por Fábio de Castro - Agência FAPESP
