O
Food and Drug Administration (FDA), órgão americano que regula medicamentos e
alimentos, aprovou, uma nova droga para tratar o carcinoma medular da tireoide,
um tipo raro, mas agressivo da doença que pode ter metástase (se espalhar para
outras partes do corpo). Segundo resultados de um estudo feito com o medicamento,
chamado Cometriq (princípio ativo, cabozantinibe), da Exelixis, a medicação
retarda a progressão da doença e pode até diminuir o tamanho dos tumores em
alguns casos.
Este
é o segundo medicamento para tratar o câncer medular da tireoide que o FDA
aprova em dois anos. Em abril de 2011, a agência havia liberado a
comercialização do vandetanib. De acordo com Richard Pazdur, diretor do
Escritório de Produtos de Hematologia e Oncologia do FDA, a decisão reflete o
esforço da agência americana em buscar novas formas de combater doenças raras. "Antes
das aprovações, os pacientes com essa doença, que é difícil de ser combatida,
tinham opções muito limitadas de tratamento", disse em comunicado.
O
carcinoma medular de tireoide representa cerca de 5% dos casos de câncer de
tireoide. Embora não seja comum e seja agressivo, não é o tipo mais raro ou
mais invasivo da doença. Quando o paciente recebe o diagnóstico da condição,
ele passa por uma cirurgia que retira a sua tireoide. No entanto, apenas menos
da metade dessas pessoas conseguem ser curadas completamente com a operação,
segundo Ana Amélia Hoff, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês que esteve
envolvida nos estudos em torno da nova droga. O restante dos pacientes pode
permanecer com a doença, mas sem metástase ou então ter o câncer espalhado para
lugares como fígado, ossos e pulmão e manifestar sintomas clínicos, como dores
ou fraturas.
É
para esse último grupo de pacientes que tanto o cabozantinibe quanto o
vandetanib são recomendados. Embora eles tenham a mesma finalidade, que é
impedir o crescimento tumoral, eles atuam por meio de vias diferentes e
provocam efeitos colaterais diversos. Até a aprovação dessas duas drogas, esses
pacientes não tinham uma opção muito específica de tratamento. "Nós
recorremos à quimioterapia convencional ou a tratamentos específicos para cada
região do corpo afetada", diz Hoff.
Leia
também: Casos de câncer de tireoide sobem dez vezes em 20 anos
Estudo
— A última fase dos testes clínicos do cabozantinibe foi feita com 330
pacientes que tinham câncer medular de tireoide. Parte desses indivíduos
recebeu o medicamento e o restante, doses de placebo. Os resultados mostraram
que os participantes que receberam o cabozantinibe viveram uma média de 11,2
meses sem apresentar crescimento tumoral, enquanto esse tempo foi de quatro
meses entre aqueles que receberam placebo. Além disso, 27% dos pacientes
tratados como medicamento apresentaram uma redução no tamanho do tumor em um
período de 15 meses. Não houve, porém, diminuição entre o grupo do placebo.
Ainda
de acordo com essa pesquisa, os efeitos adversos mais comuns da droga foram
diarreia, inflamação da boca, dores, perda de peso, perda de apetite, náuseas,
fadiga, aumento da pressão e constipação. De acordo com Ana Amélia Hoff, nem
todos os pacientes respondem a esse medicamento, então os benefícios dele devem
ser avaliados em cada paciente de forma individual.
Brasil
— O cabozantinibe ainda não foi aprovado no Brasil. Porém, a outra droga do
tipo, o vandetanib, foi aprovada recentemente e deve passar a ser
comercializada assim que os preços forem fixados. Não há previsão de preço, mas
o medicamento é muito caro. Na Europa, o tratamento com a droga custa entre
4.000 e 5.000 euros por mês, de acordo com Hoff.
Opinião
da especialista
Ana
Amélia Hoff
Endocrinologista
do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo
"Um
dos motivos pelos quais essa aprovação é importante é que o câncer de tireoide
está aumentando cada vez mais. Isso ocorre, em parte, porque os exames são
capazes de diagnosticar a doença em estágios mais precoces. Porém, há algum
outro fator que ainda é desconhecido.
Além
disso, as opções de tratamento para pacientes com esse tipo do câncer eram
muito restritas. Ter outra droga além do vandetanib que ajude doentes com
metástase é essencial para dar mais opções de tratamento ao paciente. Ele pode
não responder a um dos medicamentos, mas ter sucesso com outro.
No
entanto, precisamos entender que o cabozantinibe não é indicado para todas as
pessoas com carcinoma medular da tireoide, mas sim para aqueles que, depois da
cirurgia, apresentaram metástase e têm sintomas clínicos da doença. Há pessoas
que, depois da cirurgia, apesar de não serem curados, não manifestam esses
sintomas."
Fonte:
Veja.com