Calor sem dor
A termoterapia é a cura de lesões através de
aquecimento ou resfriamento do corpo.
Existem relatos do uso da técnica desde a Roma e a
Grécia antigas.
Mas, como qualquer tipo de tratamento que tem sua origem datada de muitos anos, a
evolução é uma consequência natural e necessária.
Assim, falar em termoterapia, hoje, inclui falar
sobre aparelhos muito sofisticados e, sobretudo, em tratamentos térmicos sem dor.
Os modelos mais modernos utilizam-se de laser para
o tratamento termoterápico e são capazes de curar, até mesmo, tumores superficiais.
Termoterapia a laser
A termoterapia a laser, que ganhou corpo a partir
da década de 1990, utiliza a radiação emitida por um raio-laser para fazer
uma interação com os tecidos do corpo.
O contato é direto: a fibra óptica, que também
passou a fazer parte do dia-a-dia dos pesquisadores, serve de intermediário
entre a radiação e o tecido humano, sendo o local por onde passa a radiação.
Mesmo que o tratamento já tenha evoluído
expressivamente, a busca por sua eficiência prossegue, através do aprimoramento
de seus componentes ou do desenvolvimento de novos materiais.
Pontas cristalinas micrométricas
Exemplo disso é a pesquisa desenvolvida Sérgio
Marcondes do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).
Juntamente com Antonio Carlos Hernandes e Marcello
Andreeta, Sérgio produziu pontas cristalinas micrométricas para serem
utilizadas na termoterapia pontual a quente, feita com raio laser.
Pontas de dimensões milimétricas e sub-milimétricas
já existem e são utilizadas inclusive para outros tipos de termoterapia a
quente.
No entanto, elas são feitas de metais ou carbono, e
apresentam algumas desvantagens. No caso das pontas feitas de metal, elas podem
ser facilmente danificadas e quimicamente corroídas. No caso do carbono, o
material pode reagir com a atmosfera e esgotar-se no ar ou tornar-se frágil.
Ponta de terras raras
No caso da termoterapia a quente com laser,
cristais podem substituir esses materiais nas pontas, apresentando inúmeras
vantagens.
Sérgio inovou criando pontas a partir de dois
componentes químicos diferentes - alumina (Al2O3) e óxido de neodímio (Nd2O3),
que abrem um leque maior de possibilidades e, consequentemente, trazem mais
eficiência ao sistema.
"Se eu fabrico um material eutético [duas
fases cristalinas, obtidas a partir de uma fase líquida], de alumina e
zircônia, por exemplo, o primeiro possui [melhores] propriedades ópticas e o
segundo [melhores] propriedades mecânicas. Assim, essas diferentes propriedades
ampliam as aplicações.
"No caso de nossa pesquisa, as pontas
cristalinas produzidas são mais maleáveis e geram calor devido à ação da
radiação do laser de maneira mais eficiente, aproveitando-se das propriedades
da alumina e do neodímio," explica o pesquisador.
A alumina é um óxido de alumínio, enquanto o
neodímio é um metal da família das terras raras, muito comum em aplicações de
alta tecnologia.
Cada ponta tem entre 300 e 600 micrômetros de
diâmetro - 1 micrômetro equivale a um milímetro dividido em 1.000 partes.
Teste em clara de ovos
Com o protótipo construído, os pesquisadores estão
agora começando os testes do novo equipamento médico, o que está sendo feito em
claras de ovos.
"O uso da clara de ovo facilita a visualização
do campo de aquecimento produzido por cada ponta e sua relação com a potência
do laser usado para acoplar com a fibra. Esse procedimento experimental é
rápido, simples e permite definir qualitativamente o efeito de cada ponta
cristalina", afirma Hernandes.
Por ser um produto que permitirá realizar tratamentos
em termoterapia a laser de abrangência pontual, os pesquisadores ainda não
conseguem delimitar as suas aplicações, ressaltando que microcauterizações
podem ser a principal função para qual irão servir as pontas, além do
tratamento de pequenos tumores.
"Ainda não sabemos todas as potencialidades de
uso ponta cristalina e estamos entrando em contato com profissionais da área de
saúde para avaliar esse potencial", frisa Hernandes.
Tratamento térmico indolor
Os primeiros resultados são promissores:
"Essas pontas, por possuírem efeito térmico indireto, em tese, podem
evitar efeitos secundários em pacientes. Por exemplo, em um sistema de
aquecimento por radiofrequência é muito mais difícil controlar a região aquecida,
podendo atingir tecidos vizinhos", explica Andreeta.
Com esse dispositivo em mãos, um médico, conhecendo
a potência do laser, poderá controlar a temperatura que sai da ponta de cristal
e interage com a pele, por exemplo.
Depois da realização de testes em humanos, a
pesquisa deverá criar tratamentos mais eficazes e indolores, provando que, não
só as biológicas, mas também as ciências exatas trabalham em prol de
tratamentos de saúde mais eficientes e com uma forte preocupação: o conforto do
paciente.
Fonte:
IFSC