sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Medicamento e álcool


 Pacientes que administram medicamentos para o coração ou para controle de problemas cardiovasculares e fazem uso do álcool, apenas eventualmente, não devem suspender a medicação. “O tratamento de hipertensão, por exemplo, depende muito de a pessoa seguir a risca os horários e quantidades do remédio. Não tomar o medicamento naquele fim de semana que bebeu uma cerveja é mais prejudicial que uma possível reação ao álcool”, explica o farmacêutico do Centro de Informação sobre Medicamentos do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR) Jackson Rapkiewicz.
Essa regra não vale para a associação entre bebidas alcoólicas e medicamentos que são depressores do sistema nervoso central, como calmantes, hipnóticos (usados para dormir), antidepressivos, ansiolíticos, sedativos e alguns analgésicos (derivados da morfina). “Esses remédios deixam o paciente sonolento e com a atividade motora diminuída. Como o álcool tem ação semelhante, a bebida potencializa o efeito do medicamento e a pessoa fica ainda mais sonolenta e perde a coordenação motora”, diz Rapkiewicz. Em quantidades excessivas, o resultado pode ser uma parada respiratória e morte.
Para os benzodiazepínicos, como o Rivotril, é preciso mais atenção. “Se você usa o medicamento todos os dias, mesmo suspendendo a ingestão por um dia, a substância vai continuar circulando no organismo por algum tempo, então não diminui os riscos de uma reação”, diz o gerente médico da Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida (Uniica), Élio Luiz Mauer.
Outro perigo são os medicamentos que prejudicam a metabolização do álcool no organismo. Neste grupo, entram alguns antibióticos. “Esses remédios interferem nas fases de metabolização do álcool, o que causa rubor facial, náusea, enjoo e sensação de mal-estar.”

Recomendação

Segundo o farmacêutico do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos, vinculado ao Conselho Federal de Farmácia (CFF), Rogério Hoeflerm, para evitar problemas, a recomendação geral é que os pacientes não consumam bebidas alcoólicas enquanto fazem tratamentos com remédios porque a combinação das duas substâncias é inesperada.
“Basta pensar que uma dose de álcool e um medicamento, em separado, têm reações diferentes dependendo do organismo da pessoa. Associando os dois, as reações são ainda mais imprevisíveis”, diz a professora de farmacologia da Universidade Positivo (UP) Priscila Samaha Gonçalves.
Pacientes idosos ou que ingerem dois ou mais medicamentos simultaneamente devem ter cuidados redobrados, porque esses fatores aumentam as chances de reações indesejadas. Na dúvida, o ideal, segundo a médica psiquiatra e tesoureira da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Carla Bicca, é que o paciente consulte seu médico ou um farmacêutico antes de ingerir uma bebida alcoólica. “Também é bom ler a bula com atenção. Nos casos em que a ingestão de álcool é proibida, isso vem descrito na bula.”

Interação

Veja casos comuns de interação entre medicamentos – ingeridos via oral, adesivos e injeções – e uso ocasional de álcool, mesmo em pequena quantidade:

Calmantes
E ainda hipnóticos, sedativos, ansiolíticos, analgésicos derivados da morfina, alguns antidepressivos e alguns medicamentos para náusea e enjoo (principalmente os que aumentam a sonolência). Com o álcool, seu efeito é potencializado, o que aumenta a sensação de sonolência e leva a diminuição – ou perda – da coordenação motora até que o efeito passe. Em quantidades exageradas, podem causar parada respiratória, estado de coma e morte.

Antibióticos
A maioria não causa reações, mas metronidazol, cloranfenicol, isoniazida e sulfametoxazol geram náusea, vômito, cefaleia e até taquicardia quando associados ao álcool.

Anti-histamínicos
Não há histórico de interações relevantes, a menos que a causa do uso do remédio seja uma alergia causada por álcool.

Analgésicos
A dipirona e o diclofenaco não têm interações com o álcool. Estudos mostram que o paracetamol, em doses altas, agride o fígado, tendo uma ação semelhante a do álcool, então o melhor é não misturá-los.

Anti-inflamatórios
Como tendem a agredir o estômago, recomenda-se que não sejam combinados com álcool. Os pacientes devem ter atenção redobrada com o ácido acetilsalicílico (aspirina).

Anticonvulsionantes
O paciente não deve beber nunca, pois o álcool favorece a ocorrência de convulsões.

Anticoncepcionais
O uso crônico de bebida alcoólica (alcoolismo) faz com que a pílula anticoncepcional perca a eficácia. Em mulheres que bebem ocasionalmente (uma vez por semana), o álcool não interfere no metabolismo.

Aspirina e paracetamol exigem cuidado
Se o grupo dos analgésicos e dos anti-inflamatórios não rende grandes interações com o álcool, seus dois maiores representantes, o paracetamol e o ácido acetilsalicílico (a aspirina), inspiram cuidado. “Em geral, a aspirina tende a agredir o estômago e o álcool tem efeito semelhante, então a combinação pode causar sangramentos gástricos. Como os anti-inflamatórios dificultam a coagulação do sangue, tende a gerar gastrites e úlceras”, diz o farmacêutico Jackson Rapkiewicz. O ideal é substitui-la pela nimesulida.
No caso do paracetamol, “estudos mostram que ele agride o fígado e, combinado com o álcool, pode levar a lesões hepáticas graves. Os danos se restringem a pessoas que utilizam doses muito altas do remédio, mas, na dúvida, o melhor é preferir dipirona ou diclofenaco”, explica a professora de farmacologia da Universidade Positivo (UP) Priscila Samaha Gonçalves.

Por: Rafaela Bortolin