Se você tenta há anos perder quilos indesejados, metas fora da realidade
podem ser a razão pela qual você falhou. Especialistas descobriram que está
errada a velha teoria que diz que para perder peso é preciso reduzir 3.500
calorias (ou queimar 3500 calorias extras) de gordura corporal que se quer
eliminar. E isto pode inviabilizar determinadas dietas.
Essa conclusão é resultante de um estudo feito pelo médico Dr.
Kevin Hall e seus colegas do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças
Digestivas e Renais dos EUA, segundo reportagem de Jane Brody para o "New
York Times". Eles criaram um modelo para prever como o corpo responde a
mudanças na ingestão e no gasto calórico. O objetivo era descobrir como pessoas
de pesos diferentes respondiam às mudanças de calorias num ambiente controlado
como uma unidade metabólica.
A pesquisa, publicada na revista "Lancet", explica como
o peso corporal pode subir lentamente, mesmo quando as pessoas não mudam seus
hábitos alimentares e de exercício. O trabalho também ajuda a explicar porque
algumas pessoas podem perder peso mais rapidamente do que outras, mesmo quando
todos no grupo comem os mesmos alimentos e fazem os mesmos exercícios.
Descobre-se também por que conseguir perda permanente do peso é tão difícil
para algumas pessoas.
Os pesquisadores dizem que conseguir uma perda de peso duradoura
leva muito tempo e sugerem programas mais efetivos de perda de peso, a serem
realizados em duas fases: a mudança no comportamento mais agressivo no início,
seguido por uma segunda fase, de período mais relaxado, capaz de impedir a
recuperação do peso que aflige tantas pessoas que fazem dietas, apesar de suas
melhores intenções.
DESBANCANDO UMA VELHA TEORIA
Segundo os pesquisadores, é fácil ganhar peso sem querer. Um
desequilíbrio muito pequeno entre o número de calorias consumidas e o de
calorias usadas já ocasiona isto. Apenas dez calorias extras por dia é tudo o
que se precisa para aumentar o peso corporal médio de uma pessoa de 20 quilos,
no prazo de 30 anos.
Além disso, o mesmo aumento em calorias resulta mais facilmente em
quilos de sobra numa pessoa mais pesada do que numa pessoa magra - e a maior
proporção do ganho de peso por parte da pessoa mais pesada será de gordura
corporal. Isso acontece porque o tecido magro (músculos, ossos e órgãos)
utiliza mais calorias do que o mesmo peso de gordura.
Dr. Hall diz que a suposição de longa data que o corte de 3.500
calorias irá produzir perda de peso de meio quilo por tempo indeterminado é
imprecisa e pode produzir resultados desanimadores para quem faz dieta. Isso
ajuda a explicar porque até mesmo os dietistas mais diligentes muitas vezes não
conseguem atingir metas de perda de peso que tinham por base na regra antiga.
Um resultado mais realista, segundo ele, é cortar 250 calorias - o
equivalente a uma pequena barra de chocolate ou metade de um copo de sorvete
premium - por dia, o que leva a uma perda de peso de cerca de 25 quilos em três
anos, com metade da perda prevista no primeiro ano.
Muitas pessoas ficam desanimadas quando a perda de peso diminui,
embora estejam seguindo suas dietas. Mas o Dr. Hall diz que uma perda gradual é
quase sempre mais eficaz porque permite a ingestão de alimentos segundo novos
hábitos, acrescidos de exercícios para se tornar um estilo de vida duradouro.
Ainda assim, pessoas obesas terão que cortar mais calorias para
perder peso do que a quantidade de calorias que precisariam para ganhar quilos
extras. Ganhar um peso de 220 libras (cerca de dez quilos), por exemplo, pode
ser resultante do consumo, a longo prazo, de apenas 250 calorias a mais a cada
dia. Já perder o mesmo peso exige reduções muito maiores na ingestão de
calorias. Segundo os cálculos do Dr. Hall, um extra de 220 calorias por dia são
agora necessários só para manter a silhueta.
Para a população retornar ao peso corporal médio dos anos 1970,
por exemplo, indivíduos obesos, que hoje representam 14% da população, teriam
que cortar mais de 500 calorias por dia, segundo mostra o novo modelo de estudo
do Dr. Hall.
O médico observa que a típica perda de peso de programas de dieta
significa perdas significativas ao longo de um período de seis a oito meses,
seguidas pela recuperação gradual de peso nos anos que se seguem. Quando a
perda de peso é planejada para menos de seis meses (ou em até oito meses) -
"o que acontece com quase todas as dietas", segundo Hall - muitos pacientes,
inconscientemente, começam a comer um pouco mais.
Apesar de consumir um extra de 100 calorias por dia, isto não
aparece imediatamente como ganho de peso. E a perda ocorre mais lentamente para
a pessoa obesa que para alguém que está magra porque o corpo da pessoa obesa
necessita de mais calorias para manter os quilos extra.
PAPEL DA ATIVIDADE FÍSICA
Costuma-se dizer que a atividade física age muito mais na manutenção do
peso do que na efetiva perda de peso. Mas o modelo de Hall sugere o contrário.
O grupo do Dr. Hall calcula que, se um homem que pesa 99.8kg (220
libras) corre um adicional de 3,22km (12,5 milhas) por semana, a um ritmo
moderado, ele iria perder mais peso, e um pouco mais rapidamente, do que se ele
reduzir a quantidade equivalente de calorias de sua dieta.
No entanto, como a atividade e a redução de calorias são maiores
no novo modelo, a combinação chega a um ponto em que o benefício da perda de
peso da dieta excede o de atividade física, segundo os pesquisadores,
"porque o gasto energético da atividade física adicionada é proporcional
ao peso corporal em si."
Em outras palavras, as pessoas mais pesadas queimam mais calorias
em uma quantidade equivalente de exercício, mas, quando o seu peso cai, o
número de calorias usadas em exercício cai também.
Os autores advertiram que quando algumas pessoas aumentam o seu
nível de atividade física, elas compensam comendo mais. Então, desanimadas pela
falta de progresso, podem reduzir a atividade física e o ganho de peso ainda
mais.
No entanto, disse Hall, a atividade física continua a ser
importante para a perda de peso e, especialmente, a manutenção do peso. Estudos
com mais de cinco mil participantes no Cadastro Nacional para Controle de Peso
mostraram que aqueles que perderam uma quantidade significativa de peso e
mantiveram a silhueta por muitos anos se basearam principalmente em duas
táticas: continuar a atividade física e controlar constantemente o peso
corporal.
Alguns estudos têm indicado que dietas que restringem carboidratos
(que são relativamente ricos em proteínas e gorduras) são mais eficazes para
perder peso do que uma dieta mais equilibrada de baixa caloria. Dr. Hall acha
que, enquanto dietas de baixo carboidrato fazem pouco para reduzir o peso ao
longo de seis meses e até ao longo de um ano, ainda está para ser provado que,
neste tipo de dieta de baixa caloria, as pessoas realmente comem aquilo que
dizem que estão comendo. A verdade é que muitas pessoas preocupadas em
emagrecer tendem a reduzir o consumo de carboidratos no longo prazo.
Dr. Hall e seus colegas comentam que "todas as dietas que
reduzem o consumo de energéticos têm um efeito similar sobre a perda de gordura
corporal no curto prazo" e que "algumas dietas podem levar à redução
da fome, à melhora do nível de saciedade, e à melhor aderência a dietas em
geral, se forem bem administradas, claro."
Mas eles acrescentaram uma ressalva: Pouco se sabe sobre o efeito
a longo prazo das dietas que variam em sua composição de gordura, proteína e
carboidratos para a manutenção do peso ou da saúde. Para o Dr. Hall uma dieta
bem feita e um bom programa de exercícios são práticas permanentes de uma vida
saudável".
Por: O Globo (online)