segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ovários Policísticos

A síndrome marcada pela formação de cistos nos ovários vive cercada de mistérios. Mas um deles está perto de ser elucidado de uma vez por todas. Cientistas suecos desvendam um novo mecanismo que explica o elo entre o distúrbio e o diabete.

Assim como os mestres de obras, que zelam por todo o trabalho envolvido em uma construção, os hormônios são responsáveis por manter o organismo funcionando a pleno vapor. Mas, quando a fabricação dessas substâncias sai dos trilhos, o corpo da mulher pode ficar fora de sintonia. Quem tem a síndrome dos ovários policísticos (SOP), problema que se distingue pelo surgimento de cistos nos ovários e pela produção exacerbada de hormônios masculinos, conhece bem essa história. "O distúrbio desregula a menstruação, favorece o ganho de gordura abdominal e ainda pode provocar o aparecimento de acne e pelos no rosto e em outras partes do corpo", relata a ginecologista Angela Maggio da Fonseca, da Universidade de São Paulo.

Se o descompasso deixa de ser acompanhado por um médico, várias complicações não custam a aparecer. Entre elas, merecem destaque a infertilidade e, agora sim, falamos dele, o diabete tipo 2. Há um bom tempo os clínicos notam que as portadoras da SOP desenvolvem mais facilmente a resistência à insulina — o hormônio que conduz a glicose para dentro das células não consegue trabalhar direito e, aí, o açúcar sobra no sangue, abrindo caminho ao diabete. Mas faltava uma peça no quebra-cabeça: o que dispararia a tal da resistência? Especulava-se que tudo era fruto de uma interferência do excesso de hormônios masculinos. A resposta para o mistério, porém, parece recair sobre as células de gordura, os adipócitos.          

Um estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, revela que as mulheres com o distúrbio, sejam elas magras ou gordas, apresentam adipócitos mais rechonchudos e com um defeito. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores selecionaram 62 voluntárias, metade delas com SOP. Elas foram divididas em duplas formadas por uma participante com a síndrome e outra sem o problema, mas que tinham idade e peso semelhantes. Ao compará-las, os estudiosos constataram que o tecido adiposo daquelas com SOP produzia uma quantidade inferior de um hormônio liberado justamente pelos adipócitos, a adiponectina. "Essa substância facilita a ação da insulina. Na falta dela, a glicose tem dificuldade para entrar nas células", explica o endocrinologista Ivan Ferraz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.         

De acordo com Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o trabalho é revelador porque alivia a culpa sobre o hormônio masculino e aponta que até mesmo jovens magras podem abrigar células de gordura volumosas e má produtoras de adiponectina. "É por isso que elas estão cada vez mais propensas à resistência à insulina e ao diabete tipo 2", afirma.  

Vale ressaltar, contudo, que os quilos extras costumam agravar a situação. Portanto, quem tem ovários policísticos e quer manter distância do diabete deve apostar em uma dieta equilibrada aliada à prática regular de uma atividade física. O diagnóstico precoce e o monitoramento médico também são fundamentais. "Pelo menos 30% das mulheres com SOP não sabem que têm o distúrbio", calcula Meirelles. Não dá para vacilar e permitir que essa sigla promova uma algazarra hormonal.

Por: Thaís ManariniI