Os especialistas preveem a
multiplicação de "fármacos inteligentes" capazes de combater tumores
específicos com maior precisão. Embora o número de casos deva continuar a
aumentar nos próximos 30 anos, devido ao envelhecimento da população mundial, a
probabilidade de um paciente sobreviver será cada vez maior.
Nos últimos dez anos os
cientistas empenharam-se em estudar como cada tipo de tumor se comporta:
investigar o seu ADN, como se origina e se esconde do sistema imune dos
pacientes, de que maneira se espalha pelo corpo. Esta investigação vem apontar
pontos frágeis capazes de serem explorados por uma nova classe
de medicamentos.
“Quanto mais entendemos
como os tumores se formam e se comportam, mais eficazes são os novos fármacos
que produzimos”, afirma o director do Serviço de Oncologia e professor da
Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, no Brasil, Bernardo Garicochea.
Por exemplo, recentemente,
percebeu-se que 25% das vítimas de câncer de mama apresentam níveis elevados de
uma proteína chamada HER-2. Ao desenvolver um medicamento que reduz a
quantidade de HER-2, os médicos ganharam terreno na guerra contra o câncer da
mama. Um método semelhante foi desenvolvido para um tipo de câncer do
intestino.
Fármacos “inteligentes”
Nas próximas décadas,
deverá haver centenas de fármacos como estes, chamados "inteligentes"
porque atuam nas células cancerosas e poupam as demais. Os tratamentos poderão
ser usados em combinação com técnicas tradicionais, como a quimioterapia, e até
substituí-las ao longo do tempo. De acordo com o oncologista do Hospital de
Clínicas Gilberto Schwartsmann, além de escolher o produto mais eficiente para
o tipo específico de tumor do paciente, os médicos poderão basear a sua escolha
no tipo biológico do doente.
Hoje, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de metade dos casos de câncer no mundo
já encontram cura. Até 2030, como o envelhecimento da população mundial se
intensificará, o número de casos deverá crescer. Por isso, apesar dos avanços na
medicina, acredita-se que o número de mortes pode passar de 7,9 milhões, em
2007, para 11,5 milhões ao ano. Mas novas descobertas poderão refazer esta
conta.
Liane de Araújo,
sobrevivente de câncer de mama e vice-presidente do Instituto da Mama, em Porto
Alegre, prevê que, em 2030, a quimioterapia e a radioterapia ainda façam parte
do arsenal médico, mas que cada vez mais o tratamento seja individualizado.
Cada subtipo de tumor deverá ter um fármaco específico, que também levará em
consideração as características biológicas do doente. Além disso, os pacientes
que tiverem predisposição genética identificada, por meio de exames, para
determinados tipos de cancro, poderão receber cuidados e tratamentos
preventivos.
Não deverá haver uma cura
genérica para o câncer, mas sim tratamentos cada vez mais precisos para cada
tipo de tumor, e sistemas mais eficazes de detecção precoce. Num cenário
otimista, no futuro, a neoplasia pode transformar-se numa doença de perfil mais
crônico do que letal, segundo esta especialista.