O primeiro caso de febre maculosa no Brasil foi confirmado há mais de 90 anos. No entanto, a falta de informação ainda é um dos principais desafios para o combate à doença. Segundo o Ministério da Saúde, a maior concentração das notificações está nas regiões Sudeste e Sul. Em 2021, até o mês de setembro, o país registrou 69 casos e 19 mortes.
No dia 31 de agosto, o município de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, registrou a morte de uma criança de seis anos por febre maculosa. A confirmação laboratorial foi realizada no último fim de semana. Segundo Prefeitura de Campos, a Secretaria Municipal de Saúde adotou medidas para evitar o surgimento de novos casos, incluindo a busca ativa no campo para identificação e combate ao carrapato-estrela, responsável pela transmissão.
No Brasil, o Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atua como Serviço de Referência junto ao Ministério da Saúde na área. A chefe do laboratório, Elba Lemos, explica que o diagnóstico correto depende do conhecimento dos profissionais de saúde sobre a doença, que apresenta sintomas semelhantes aos de outros agravos.
Saiba mais sobre os principais sinais da febre maculosa e o que pode ser feito para prevenir a doença:
O que é a febre maculosa?
A febre maculosa é uma doença infecciosa que provoca um quadro febril agudo. A doença pode se apresentar de forma assintomática até casos mais graves, com grandes chances de morte.
No Brasil, é causada por uma bactéria chamada Rickettsia rickettsii, transmitida pelo carrapato da espécie Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Existem mais de 20 espécies de Rickettsia que podem causar febre maculosa em todo o mundo.
Quais são os sintomas?
Os sinais da doença surgem de forma abrupta, com febre alta e dores de cabeça. “Alguns pacientes podem apresentar dores musculares intensas, cansaço e prostração. Conforme a doença avança, existe o risco de hemorragias, além de náuseas e vômitos”, acrescenta Elba.
Os sintomas aparecem após o chamado período de incubação, que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias. Em algumas pessoas, pode ocorrer o surgimento de lesões na pele, em geral do 3º ao 5º dia da doença.
Como ocorre a transmissão?
A doença é transmitida pela picada de um carrapato infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii. “Para que a infecção aconteça, a aderência do carrapato à pele precisa ser prolongada, por um período médio de quatro horas”, explica Elba.
A existência de lesões na pele pode favorecer a transmissão, por isso, é preciso retirá-los com cuidado para evitar a contaminação. A febre maculosa não é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de uma pessoa para outra.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da febre maculosa pode ser realizado a partir de diferentes testes laboratoriais. Em geral, é utilizado um teste chamado de Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), que detecta a presença de anticorpos contra a bactéria causadora, a partir de coleta de sangue.
“O diagnóstico sorológico permite identificar a presença de anticorpos anti-Rickettsia no sangue do paciente. É importante destacar que durante a doença, principalmente entre o 7º e 10º dia, o indivíduo não tem anticorpos para a febre maculosa. Por isso, o resultado da análise de sangue coletado no início da doença pode ser negativo”, explica Elba. Segundo a pesquisadora, a coleta de uma segunda amostra de sangue é necessária.
Outro exame que pode indicar a doença é o de imunohistoquímica, que revela a presença da bactéria em amostras de tecidos obtidas a partir de biópsia das lesões da pele.
Como é feito o tratamento?
O tratamento da febre maculosa pode ser realizado com o uso de medicamento antimicrobiano específico, por via oral. “Em pacientes graves, com edema [inchaço] e vômitos, por exemplo, o antibiótico deve ser ministrado por via endovenosa, além do tratamento de suporte, dependendo da gravidade do caso. Como a bactéria destrói a parede do vaso sanguíneo, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível”, afirma a pesquisadora da Fiocruz.
Segundo a especialista, o tratamento precoce reduz a extensão das lesões e pode diminuir de forma significativa as chances de morte. “Apesar de ser considerada uma doença de baixa frequência, a taxa de mortalidade é elevada devido à falta de diagnóstico adequado e de tratamento precoce. Diante de um caso suspeito, deve-se coletar o sangue para a análise laboratorial e iniciar o tratamento imediatamente, mesmo sem a confirmação laboratorial”, explica Elba.
Como se prevenir?
A febre maculosa tem sido registrada em áreas rurais e urbanas do Brasil, segundo o Ministério da Saúde. O carrapato-estrela, responsável pela transmissão, é encontrado principalmente em animais como as capivaras e cavalos. Segundo o ministério, a transmissão pelo carrapato de cachorro é menos comum, mas também pode acontecer.
De acordo com a pesquisadora Elba Lemos, da Fiocruz, a melhor forma de prevenção é evitar áreas infestadas por carrapatos, principalmente durante o período de maio a outubro.
Outras medidas de prevenção incluem a atenção redobrada durante atividades em áreas arborizadas, com alta vegetação e gramados, como trilhas, parques e fazendas. O uso de roupas claras pode facilitar a visualização dos carrapatos, além disso, sapatos fechados, camisas de manga longa e calças podem ajudar na prevenção.
Após as atividades que podem oferecer riscos, é fundamental verificar todo o corpo e remover os carrapatos que possam estar aderidos. Os carrapatos devem ser retirados com o uso de uma pinça, sem apertar ou esmagar. A área deve ser lavada com água e sabão ou álcool. Em caso de surgimento de sintomas, os especialistas recomendam a procura por atendimento médico.
Fonte: CNN
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