terça-feira, 14 de setembro de 2021

Estudo diz que comer um cachorro-quente pode diminuir 36 minutos de vida – como assim?

Estava lendo as notícias do dia e encontro no site da CNN internacional o artigo “Comer um cachorro-quente pode diminuir 36 minutos de vida, diz estudo”, escrito por Lauren M. Johnson. Acompanhando a matéria há a provocante imagem de um apetitoso hot dog, com mostarda e tudo. O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, foi publicado pelo periódico Nature Food. 

O estudo

Os pesquisadores analisaram 5.853 itens da dieta de norte-americanos e mediram seus efeitos em minutos de vida saudável adquiridos ou perdidos. A equipe chegou a um índice que calcula a carga líquida benéfica ou prejudicial à saúde em minutos de vida saudável associados a uma porção de comida.

Na matéria da CNN, o autor sênior do estudo, Olivier Jolliet, exemplifica: “0,45 minutos são perdidos por grama de carne processada, ou 0,1 minutos são ganhos por grama de fruta. Em seguida, olhamos para a composição de cada alimento e multiplicamos esse número pelos perfis alimentares correspondentes desenvolvidos anteriormente pela equipe.”

O artigo refere que, segundo Olivier, “um dos alimentos analisados foi um cachorro-quente padrão com salsicha de carne bovina e pão. Seus 61 g de carne processada resultaram na perda de 27 minutos de vida saudável”. Mas ao considerar ingredientes como sódio e ácidos graxos trans, o valor final foi de 36 minutos perdidos, diz a matéria.

Por outro lado, o estudo aponta alimentos benéficos, associados a um ganho no tempo de vida saudável, como nozes, legumes, frutos do mar, frutas e vegetais sem amido.

O estudo também classificou os alimentos conforme o seu impacto no meio ambiente. Os autores utilizaram o IMPACTO World+, um método para avaliar o impacto do ciclo de vida dos alimentos (produção, processamento, fabricação, preparo/cozimento, consumo, desperdício), e avaliações melhoradas adicionadas para os danos do uso da água e de saúde humana da formação fina das partículas. Desenvolveram contagens para 18 indicadores ambientais, que levam em consideração a composição detalhada do alimento, e estimaram o desperdício de alimento.

Como resultado, os pesquisadores calcularam que substituir 10% da entrada calórica diária da carne e carnes processadas por uma mistura de frutos, vegetais, leguminosas e alguns produtos do mar poderia reduzir 30% da sua “pegada” (emissão) dietética do carbono.

Baseado nos resultados, os pesquisadores sugerem que:

os alimentos mais negativos para a saúde e o meio-ambiente são carne bovina, carne bovina processada, camarão, carne de porco, carne de cordeiro e vegetais cultivados em estufa; e os alimentos mais benéficos para a saúde e o meio-ambiente são marisco, frutas e legumes cultivados no campo, leguminosas e nozes.

Implicações

É enorme o desafio de mudar os hábitos de uma população ou, pior ainda, de cada um de nós. O resultado depende de muitos fatores, inclusive do tipo de mensagem utilizada para estimular essas mudanças. Evidentemente, as políticas públicas, incluindo regulamentação de publicidade, impostos e restrições, têm um papel importante. São exemplos as restrições ao fumo e a obrigatoriedade de uso de cinto de segurança.

No caso dos alimentos, medidas educativas e informações nos rótulos são iniciativas eficazes? Falar dos danos ambientais pode ter um impacto prático?

Há alguns anos, colaborei na organização de um simpósio sobre obesidade infantil durante o congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Um aspecto apontado foi o custo elevado de alimentos saudáveis em relação aos “pacotinhos” industrializados, com influência, inclusive, nos itens das merendas escolares.

Enfim, considerando a mensagem, o alerta para os minutos perdidos por hot dog consumido pode ter algum impacto.

Conheço muitos pacientes e amigos pouco disciplinados que adoram um hot dog, apesar das recomendações para evitá-lo. Com base no artigo publicado no periódico Nature Food eles estariam no lucro, porque seu balanço é tão negativo que estão devendo anos de vida. 

Por Dr. Mauricio Wajngarten em Medscape

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