quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Tratamento controla fibrose no fígado e reduz risco de cirrose

Tratamento com células derivadas do fígado embrionário retarda a progressão da fibrose hepática em ratos, revela pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Os resultados sugerem que as células podem modular o aparecimento de fibras no fígado (fibrogênese), que acontece como resposta a lesões, e retardar o estabelecimento da cirrose em doenças hepáticas crônicas. 
A terapia pesquisada pelo médico veterinário Márcio Aparecido Pereira é descrita em tese de doutorado defendida em dezembro último.

A fibrose hepática é caracterizada pela deposição de fibras de colágeno nos espaços entre as células do fígado. “Esse mecanismo ocorre como uma tentativa do organismo de reparar uma lesão”, explica Pereira. 

“O consumo de álcool em excesso, hepatites virais, colestase biliar (causada por acúmulo excessivo de bílis, fluido produzido pelo fígado que tem a função de emulsificar as gorduras do corpo) causam inflamação no fígado e a fibrose, que se não for tratada adequadamente pode evoluir para cirrose.”

A cirrose é o estágio final comum às doenças hepáticas crônicas, sendo a décima quarta maior causa de mortalidade em todo o mundo. “Hoje, o único tratamento definitivo é o transplante de fígado. 

No entanto, o número de transplantes está longe de suprir a demanda atual, visto que há um déficit de doadores do órgão”, observa o médico veterinário. “Terapias que possam oferecer uma alternativa de tratamento confiável, segura e acessível são bastante oportunas.”

De acordo com Pereira, as células derivadas de fígado embrionário, tanto de animais quanto de humanos, têm sido cada vez mais estudadas em razão do seu potencial anti-inflamatório, imunomodulador e regenerativo. “Devido ao fato de não estarem totalmente diferenciadas, elas têm potencial para se diferenciar em hepatócitos e colangiócitos”, conta. 

“Os hepatócitos são as células funcionais do fígado, responsáveis pelas principais funções do órgão, entre elas a produção da bílis. Os colangiócitos são as células que dão origem aos ductos biliares, que são responsáveis por drenar a bílis para fora do fígado. Se há uma obstrução nesses ductos, por exemplo, o acúmulo de bílis no órgão causa inflamação, fibrose e, provavelmente, cirrose.”

Tratamento

A pesquisa utilizou células derivadas de fígados embrionários de ratos com 14,5 dias de gestação. Elas apresentaram marcadores de células progenitoras hepáticas e de células hepáticas e biliares diferenciadas, confirmando seu potencial. 

“Primeiramente foram feitos a coleta e cultivo das células”, descreve o médico veterinário. “Em seguida elas foram aplicadas diretamente no órgão dos animais doentes utilizando o acesso pela veia porta hepática, que é o principal vaso que leva o sangue ao fígado.”

A terapia celular reduziu significativamente a progressão da fibrose hepática, diminuindo a inflamação e também estimulando a regeneração hepática de ratos submetidos à cirrose por ligadura do ducto biliar. “As análises realizadas mediante avaliação quantitativa mostraram redução da deposição de fibras de colágeno, bem como menor proliferação de ductos biliares nos animais tratados”, ressalta Pereira.

Outra análise avaliou a intensidade da necroinflamação dos tecidos hepáticos analisados, apontando menor inflamação nos animais tratados. “A necroinflamação acontece conforme a inflamação no órgão se torna crônica, levando à necrose (morte) das células hepáticas (hepatócitos)”, afirma o médico veterinário. “As medições constaram que houve uma redução das lesões no fígado.”

As células poderão ter efeito benéfico para o tratamento de doenças hepáticas crônicas, que estimulam a formação de fibrose. “A terapia demonstrou resultados promissores, que incentivam a continuação da pesquisa”, destaca Pereira. “Entretanto, mais estudos são necessários para que este tratamento possa oferecer a segurança e a eficácia necessárias aos pacientes humanos.”

Mais informações: e-mail marciopereira.vet@gmail.com, com Márcio Aparecido Pereira

Com informações do Jornal USP

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