Setenta e cinco técnicos de um laboratório super-seguro do governo dos Estados Unidos podem ter sido expostos ao antraz.
O acidente ocorreu no Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em Atlanta, Geórgia, o laboratório líder dos EUA para rastrear doenças infecciosas.
Embora o incidente apresente um risco insignificante para o público, ele levantou preocupações sobre o trabalho com patógenos mortais.
O CDC afirmou que "cabeças vão rolar", mas o que realmente já rolou por água abaixo foi a confiança na garantia dos cientistas acerca da pretensa segurança dos seus procedimentos.
O antraz não pode ser transmitido de uma pessoa para outra, mas outras pesquisas envolvem a manipulação genética de bactérias e vírus que, estes sim, são mortais e facilmente transmissíveis.
Ganhos de função
O incidente trouxe o foco das atenções sobretudo para os experimentos conhecidos como "ganhos de função", que estão sendo feitos com os vírus da gripe e outros.
Esses experimentos são chamados de ganhos de função porque adicionam funções aos vírus, transformando um vírus que não representa ameaça aos seres humanos em vírus mutantes que podem causar uma pandemia.
Se este tipo de problema pode acontecer em um laboratório do CDC, isso ressalta as questões relacionadas com acidentes nos laboratórios que trabalham com ganhos de função," disse Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota (EUA).
Os virologistas que estão criando os vírus mutantes da gripe têm insistido que usam procedimentos de segurança muito rigorosos.
Mas, quando esses procedimentos falham, tudo o que eles dizem é algo do tipo "Isso não deveria ter acontecido", como ficou demonstrado agora no caso da liberação do antraz.
Acidentes biológicos
E, de fato, acidentes acontecem.
Em 2011, o Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA reconheceu a ocorrência de 196 incidentes de "perdas de contenção" envolvendo agentes patogênicos perigosos apenas nos laboratórios super-seguros do governo dos EUA.
Perda de contenção significa que os lacres dos frascos ou armários foram quebrados e os patógenos "vazaram" para a atmosfera. Mas há casos em que os próprios frascos desaparecem.
"Embora seja improvável tal liberação em um laboratório específico realizando pesquisas sob procedimentos de biossegurança estritos, até mesmo uma baixa probabilidade deve ser levada a sério dada a escala da destruição se um evento tão improvável vier a ocorrer," escreveram Mark Lipsitch (Universidade de Harvard) e Alison Galvani (Universidade de Yale), que publicaram uma crítica dos trabalhos de ganho de função com os vírus da gripe.
Eles afirmam que esse tipo de trabalho é antiético, e que qualquer eventual benefício de saúde pública que eles forneçam pode ser obtido com experimentos menos perigosos - ou apenas investindo-se em melhores vacinas.
Em 2012, a OMS criticou duramente os cientistas que criaram um vírus mutante da gripe aviária.
Um documento elaborado pelo governo da Alemanha, e divulgado há poucos dias, afirma que as pesquisas científicas perigosas devem ser controladas pela sociedade, e não apenas pelos cientistas.
Com informações da New Scientist
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