Prevenção assustadora
Um novo estudo
realizado na Universidade de Harvard (EUA) concluiu que as mamografias de
rotina levam a um exagero de falsos positivos, detecções de casos que nunca
resultariam em danos à saúde da mulher.
Mette Kalager e
seus colegas mostraram que até 1 em cada 4 casos de câncer de mama detectados
pelo exame de
rotina nunca chegaria a apresentar qualquer sintoma.
O estudo, que
analisou quase 40.000 mulheres na Noruega, revelou que entre 15% e 25% dos
cânceres detectados nas mamografias de rotina eram falsos positivos.
Críticas às
mamografias de rotina
Não é a primeira
vez que a mamografia de rotina é criticada por especialistas,
devido a estudos que vêm mostrando que seus efeitos podem não ser tão bons
quanto médicos, hospitais e laboratórios tentam passar.
Um estudo ainda
mais amplo, cobrindo cinco países, realizado em 2009, concluiu que até um terço dos casos de câncer detectados por
mamografias poderia ser inofensivo.
Em 2010, uma
equipe da Holanda mostrou que a mamografia de rotina pode aumentar o risco de câncer
de mama em mulheres mais jovens.
Em 2011, uma
revisão de todas as pesquisas na área, cobrindo 600.000 mulheres no mundo todo,
concluiu que não se pode afirmar com segurança que a mamografia preventiva faça
mais bem do que mal.
Com tantas
evidências, entidades médicas começaram
a pedir alterações nas orientações passadas à população sobre o assunto:
No Brasil, o
Instituto Nacional do Câncer recomenda que as mulheres entre 50 e 69 anos façam
a mamografia preventiva a cada dois anos, mas campanhas de entidades com
interesses comerciais frequentemente fazem "recomendações" para
mulheres muito mais jovens.
Benefícios e
riscos da mamografia
"A mamografia
pode não ser apropriada para uso no rastreamento (screening) para câncer
de mama porque esse exame não consegue distinguir entre um câncer progressivo e
um não-progressivo," disse a Dra. Kalager, que trabalha no Hospital
Telemark, na Noruega.
"Os
radiologistas vêm sendo treinados para encontrar mesmo os menores tumores, na
tentativa de detectar tantos cânceres quanto seja possível, com vistas a
aumentar a chance de cura.
"Entretanto,
nosso estudo dá suporte ao crescente corpo de evidências de que essa prática
tem causado um problema para as mulheres: um diagnóstico de câncer de mama que
nunca causaria sintomas ou a morte," explica a pesquisadora.
Segundo ela, as
mulheres devem ser bem informadas não apenas sobre os potenciais benefícios da
mamografia, mas também sobre seus possíveis danos, incluindo o estresse de receber
um diagnóstico de câncer, biópsias, cirurgias,
ou quimioterapia e
tratamentos hormonais para uma doença que poderia nunca gerar qualquer sintoma.
Escolha complicada
O estudo levantou
a hipótese de que, se a mamografia preventiva fosse benéfica, ela deveria levar
a um decréscimo nos casos de câncer de mama em estágio avançado, já que detecções
precoces evitam que a doença chegue ao estágio final.
Mas essa pretensa
redução nos casos avançados da doença não foi encontrada. O que apareceu foi um
aumento substancial nos falsos positivos.
Com base nos seus
números, os cientistas calcularam que, em um grupo de 2.500 mulheres que façam
mamografias preventivas, entre 2.470 e 2.474 nunca receberão um diagnóstico de
câncer de mama, e 2.499 delas nunca morrerão por causa de um câncer de mama.
Assim, apenas uma
morte terá sido evitada pela prática da mamografia preventiva.
O problema é que,
no mesmo grupo, entre 6 e 10 mulheres receberão um falso positivo de um câncer de mama.
Fonte: Diário da Saúde
