Uma
terapia baseada em células-tronco embrionárias para degeneração macular
relacionada à idade (DMRI) – principal causa de cegueira entre idosos –
começará a ser testada em humanos no início de 2013.
O anúncio
foi feito pelo cientista britânico Pete Coffey, da University College London,
durante o 7º Congresso Brasileiro de Células-Tronco e Terapia Celular,
realizado em São Paulo em outubro.
A
pesquisa britânica está sendo conduzida no âmbito do London Project to Cure
Blindness, uma parceria entre Coffey e o cirurgião Lyndon da Cruz, do Hospital
Moorfields Eye, de Londres.
A
técnica, que consiste em aplicar na região afetada da retina uma espécie de
curativo contendo células-tronco embrionárias já diferenciadas em células da
retina, foi testada com sucesso em ratos, camundongos e porcos.
“Agora,
vamos testá-la em dez pacientes. Um grupo pequeno e bem específico no início,
pois o objetivo é avaliar a segurança do tratamento.
Segundo o
pesquisador, a DMRI acomete a região central da retina, conhecida como mácula,
onde há grande concentração de fotorreceptores responsáveis pela visão de cores
e detalhes. Abaixo dessa camada de fotorreceptores, existe o epitélio
pigmentado e, ainda mais abaixo, a membrana de Bruch.
Com o
envelhecimento, nos indivíduos predispostos restos celulares começam a formar
cristais no fundo do olho conhecidos como drusas, que destroem os
fotorreceptores e provocam proliferação anormal de vasos sanguíneos sob a
retina. Isso afeta a integridade da mácula e compromete a visão central e a
capacidade de distinguir cores.
A doença
é comum em pacientes com mais de 55 anos e chega a atingir mais de 25% das
pessoas acima de 75 anos. Cerca de 90% dos casos correspondem à forma seca da
doença, de evolução lenta e ainda sem tratamento.
Os demais
pacientes apresentam a forma úmida, bem mais agressiva e caracterizada por
hemorragias que comprometem o tecido da retina. O tratamento atual consiste em
aplicação de lasers ou injeção de drogas que inibem a formação de novos vasos
sanguíneos na região.
“Nos
casos mais graves, a camada intermediária da retina (epitélio pigmentado) se
rompe levando à perda de visão nesse ponto. Esses casos são os que pretendemos
tratar”, disse Coffey.
Inicialmente,
a equipe do projeto inglês desenvolveu uma técnica cirúrgica que consistia em
retirar células saudáveis do epitélio pigmentado do próprio paciente e
transplantá-las para a região afetada. “Tivemos bons resultados, mas a cirurgia
é demorada, pode durar até três horas, o que aumenta muito os riscos”, disse
Coffey.
Para
diminuir o tempo e o risco da operação – e poder beneficiar pacientes com
estágios menos avançados da doença –, os cientistas tiveram a ideia de aplicar
na camada intermediária da retina uma membrana previamente preparada em
laboratório contendo células de epitélio pigmentado obtidas a partir de
células-tronco embrionárias humanas.
“Nos
testes em animais não registramos formação de tumores, pois o processo de
diferenciação celular ocorre em laboratório. Se a terapia também se mostrar
segura em humanos e se conseguirmos manter uma boa visão em três ou quatro dos
dez primeiros pacientes, os testes clínicos serão considerados bem-sucedidos”,
disse Coffey.
Por: Karina Toledo - Fapesp