segunda-feira, 2 de abril de 2012

Gel anestésico de nanopartículas é promissor para eliminar agulha na Odontologia


 Produto desenvolvido na Unicamp tem maior eficiência anestésica, agindo por um período equivalente a dez horas de anestesia tópica

Um novo gel anestésico à base de ropivacaína encapsulada em nanopartículas, que está sendo desenvolvido na Unicamp, pode se tornar uma alternativa para eliminar o uso de agulhas na odontologia. A formulação apontou maior eficiência anestésica em relação a outras testadas em camundongos com um tempo de analgesia superior a 600 minutos, período equivalente a dez horas de anestesia tópica. A proposta da pesquisa é o uso da ropivacaína como anestesia dérmica, hoje inexistente no mercado.
As aplicações, segundo a autora do estudo, Sheila Maria Stoco, são variadas, sendo a mais promissora para a área de Odontologia, que visa eliminar de vez o uso das agulhas. No momento, avalia-se inclusive a possibilidade de transformar a formulação em produto.
Para a pesquisa também foram realizados testes de viabilidade celular, que permitiram constatar que o gel desenvolvido não apresentou potencial irritativo para a pele de animais. Essa melhor formulação exibiu ainda uma boa penetração através da pele, um reduzido time lag (tempo para o início da ação, que está em aproximadamente 35 minutos) e uma citotoxicidade inferior a 50%, tanto em fibroblastos 3T3 quanto em células de melanoma murinho, que foram as células modelo de citotoxicidade avaliadas, cultivadas no Laboratório de Biomembranas e cedidas pelo professor do IB Marcelo Lancellotti.
De acordo com a bióloga, a ropivacaína - pertencente à classe das aminas amidas - demonstrou ser um anestésico local semelhante à bupivacaína (outra droga potente) em termos de tempo de analgesia, mas trouxe menor toxicidade aos sistemas nervoso central e cardiovascular. Outros pontos favoráveis foram que o anestésico não induziu a meta-hemoglobinemia (uma condição na qual se verificam níveis anormais de hemoglobina oxidada, que são incapazes de se ligar ao oxigênio para efetuar seu transporte às células, ocasionando hipóxia tecidual) e nem o potencial alergênico de outros anestésicos tópicos, como a benzocaína e a lidocaína, os mais habitualmente utilizados e disponíveis comercialmente. "Nosso estudo basicamente consistiu em produzir formulações que continham a ropivacaína em uma base-gel associada a diferentes promotores de absorção ou a carreadores como nanopartículas de alginato-quitosana" , explica.
Apesar da ropivacaína ser indicada hoje com boa eficácia, predominantemente em casos como bloqueios regionais e em anestesias epidurais (chamadas também peridurais), no estudo de Sheila Stoco, que é bióloga de formação, ela trouxe uma nova aplicação para a ropivacaína na linha de anestesia tópica. Anteriormente a droga era empregada de uma forma bastante restrita: por via infiltrativa.
A grande vantagem do novo gel, que provavelmente poderá ser adotado em procedimentos ambulatoriais, é que ele deve ser prescrito como adjuvante antes de se iniciar a execução da anestesia local, caso novos estudos complementares mostrem eficácia e segurança para a sua efetiva introdução clínica. O intuito é amenizar a dor e a ansiedade dos procedimentos cirúrgicos, principalmente dermatológicos. Com ele, consegue-se eliminar, por exemplo, o incômodo da picada da agulha ao se realizarem as remoções de tatuagens, punções venosas, curetagens e biópsias, representando um enorme avanço dentro da prática clínica.

Dissertação

Das várias formulações experimentadas no estudo, que faz parte de uma dissertação de mestrado defendida pela pesquisadora Sheila Maria Stoco, apresentado ao Instituto de Biologia (IB), a mais exitosa foi a que empregou ropivacaína 2% encapsulada em nanopartículas de alginato-quitosana. Os resultados foram alcançados, devido a um trabalho colaborativo envolvendo o professor Leonardo Fernandes Fraceto, docente da Unesp-Sorocaba, que preparou as nanopartículas, e a pós-graduanda Sheila Stoco, que fez a encapsulação da ropivacaína.
Por associação desses processos, conseguiu-se obter um gel que sinalizou tanto uma melhor performance quanto uma melhor penetração na pele em relação a todas as outras formulações. De acordo com a orientadora da dissertação, não foram, porém, realizados estudos em mucosa. "Os estudos de permeação efetuados para verificar o fluxo de penetração do gel através da pele e o tempo para início de ação foram de permeação in vitro, utilizando-se como modelo pele de orelha de porco", enfatiza Daniele Ribeiro. Esta investigação foi feita dentro da linha de pesquisa de anestésicos locais, coordenada pela professora Eneida de Paula.
A intenção agora é efetuar estudos de biocompatibilidade na pele de roedores e em pele humana para ver se a formulação final não será responsável por provocar lesões aos tecidos (se ocasiona necrose ou se tem algum potencial inflamatório), além de estudos de microscopia com focal que colaborem para esclarecer em quais regiões da pele a ropivacaína está penetrando. "Temos atualmente o melhor estudo para observar o seu poder de penetração e pretendemos buscar aplicação odontológica e em procedimentos do segmento. Esse é o nosso principal objetivo, bem como notar a possibilidade da utilização do gel na anestesia pulpar e gengival", expõe a pesquisadora. Não obstante os presentes resultados indicarem que a formulação que está sendo estudada possui viabilidade para uso clínico, tornam-se necessárias ainda outras investigações complementares que sejam capazes de atestar se de fato há eficácia e segurança suficientes para que o produto seja introduzido na prática clínica, realça.

Fonte: Isaude.net