Chumbo
por chumbo
Comportamento
agressivo, atos de vandalismo e baixo desempenho escolar.
Fatores assim,
normalmente associados a problemas psicossociais nos jovens, podem ter uma
causa extra.
Uma pesquisa
da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra que a exposição ao chumbo
leva ao aumento das atitudes transgressoras e causa prejuízos psicológicos.
A pesquisadora
Kelly Polido Kaneshiro Olympio, confirmou a relação, que já havia sido detectada
por pesquisadores estrangeiros, em uma amostra de 173 jovens em Bauru, interior
de São Paulo.
Chumbo
no organismo
O corpo de
crianças absorve chumbo com mais facilidade que o de adultos. Além disso, os
pequenos tendem a colocar objetos como brinquedos na boca, aumentando o risco
da exposição.
"Não há
um nível de exposição ao chumbo que seja seguro à saúde humana. Estudos
recentes têm demonstrado prejuízos neurocomportamentais ligados a concentrações
muito baixas no sangue", diz a pesquisadora.
Kelly analisou
o esmalte - a parte que enxergamos do dente - para identificar a carga corporal
de chumbo nos jovens. Também foram aplicados questionários a pais e filhos
sobre o estabelecimento de comportamento antissocial, cometimento de atos
infracionais, condições familiares e contexto socioeconômico.
O cruzamento
dos dados apontou uma associação entre agressividade, tendência a quebrar
regras, problemas sociais, e queixas físicas com maiores níveis de chumbo no
corpo.
Contaminação
por chumbo
Os mais afetados
viviam em regiões próximas a fábricas que utilizam o chumbo ou que conviviam
com empregados dessas empresas.
"O metal
está presente em muitos itens do nosso cotidiano, como cerâmica, plásticos,
pigmentos e baterias. Também em esmalte anticorrosivo para portões, brinquedos
de baixa qualidade e produtos domésticos de baixa qualidade", explica a
pesquisadora.
Ela ressalta
que a redução do uso de chumbo é muito desejável. "Há um movimento global
da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminação de chumbo em tintas.
Também preocupa a contaminação pelo metal causada pelas baterias, devendo haver
um esforço para que se regule o caminho percorrido por este produto, desde sua
origem até o descarte final", explica.
E é necessário
que haja uma fiscalização mais rigorosa sobre os importados,
"principalmente aqueles de baixa qualidade destinados ao público
infantil", conclui.
Além disso, a
pesquisadora recomenda a conscientização de pessoas que trabalham com chumbo,
para que saibam evitar ou minimizar a exposição e não levem a ameaça para casa.
E é preciso reforçar a vigilância ambiental dessas indústrias, para minimizar a
exposição da população vizinha e os consequentes efeitos à saúde.
Exposição
ao chumbo
Os prejuízos
nos jovens permanecem até idades mais avançadas. Um estudo publicado nos
Estados Unidos, em 2008, mostrou uma associação entre exposição a chumbo
durante o crescimento e comportamento criminoso em adultos. Neles, a exposição
pode causar hipertensão, neuropatias, perda de memória e irritabilidade, entre
outras doenças. Pode-se chegar até a morte, dependendo do nível da exposição.
Segundo Kelly,
a América Latina está pouco preparada para lidar com a situação. No Brasil, só
em 2008 foi aprovada uma lei que limita a quantidade de chumbo na fabricação de
tintas imobiliárias e de uso infantil e escolar, vernizes e materiais
similares.
A situação é
diferente nos Estados Unidos, onde o uso é restrito há mais tempo. Lá, a lei
foi recentemente atualizada, delimitando a concentração de chumbo permitida a níveis
mais baixos do que os fixados no Brasil.
"Ainda
precisamos conhecer a extensão do problema da contaminação por chumbo no
Brasil", diz Kelly.
Por: Thiago
Minami - Agência USP