PARIS - A expansão do crescimento
populacional e as mudanças climáticas estão empurrando o planeta rumo a
episódios de fome, que só uma revisão do sistema alimentar pode reverter,
alertou um painel de especialistas. "No ponto em que estamos no século
XXI, temos um conjunto maior de ameaças convergentes", afirmou John
Beddington, professor britânico que chefiou uma pesquisa de 9 meses, realizada
pela entidade, composta por 13 membros.
"Há o crescimento populacional, o
uso insustentável de recursos e grandes pressões sobre a humanidade para
transformar a forma como usamos a comida", explicou Beddington por
teleconferência. "Mas isto se vincula intimamente a questões de água e
energia, e certamente com as mudanças climáticas", acrescentou.
Beddington disse que em 2007-2008, uma
elevação nos preços dos alimentos empurrou 100 milhões de pessoas para a
pobreza, e outros 40 milhões os seguiram na alta de 2010-2011. "Há uma
preocupação real a respeito da fome e há consequências no nível em que o
aumento nos preços dos alimentos causa instabilidade", afirmou.
A Comissão sobre Agricultura
Sustentável e Mudanças Climáticas foi criada em fevereiro pelo Grupo Consultivo
sobre Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR, na sigla em inglês), uma
organização guarda-chuva, financiada por governos nacionais, organizações
regionais e institutos de pesquisa.
Com base em estudos publicados, o
painel oferece orientação sobre como produzir alimentos em um mundo cuja
população deve saltar de 7 bilhões para mais de 9 bilhões em meados do século,
com uma dieta que muda para um maior consumo de calorias, gordura e carne.
Durante este período, os gases estufa
emitidos nas últimas décadas terão um efeito inevitável no sistema climático,
aumentando o risco de secas e inundações. "O desafio que temos à frente
globalmente é realmente bem difícil até mesmo de compreender", reconheceu
Megan Clark, chefe-executiva da Commonwealth Scientific and Industrial Research
Organisation (CSIRO), da Austrália.
"Precisamos aumentar a produção
mundial de alimentos até 2050 entre 30% e 80% e reduzir nossas emissões [de
carbono] pela metade", acrescentou. "Dito de outra forma, à medida
que meus filhos forem envelhecendo nos próximos 60 anos, teremos que produzir
tanta comida quanto foi produzida na história humana e, ao mesmo tempo durante
este período teremos que aprender a cortar pela metade nossa taxa de emissões
da agricultura", continuou.
O painel divulgou um resumo com sete
recomendações e o relatório final será publicado no começo do ano que vem.
As propostas incluem um grande foco no
controle dos resíduos, através da implantação de cadeias de abastecimento mais
inteligentes, já que cerca de um terço da comida produzida para consumo humano
se perde ou é desperdiçada ao longo do sistema alimentar global.
Métodos sustentáveis e apoio aos
agricultores pobres e pequenos também foram promovidos. O uso excessivo de
fertilizantes foi citado como um problema, bem como métodos que destroem as
terras produtivas. "Estima-se que 12 milhões de hectares de terras
agricultáveis e seu potencial de produzir 20 milhões de toneladas de grãos se
percam anualmente devido à degradação do solo", disse Lin Erda, diretora
do Centro de Pesquisas de Agricultura e Mudanças Climáticas da Academia Chinesa
de Ciências Agrícolas.
Perguntado qual deveria ser o papel de
cultivos geneticamente modificados, Clark afirmou que "a comissão não
escolhe vencedores com relação à agricultura". "Olhamos para os
principais fatores que aumentarão a resiliência, a produtividade e o uso sustentável",
disse Clark. "Realmente, chegamos à conclusão de que é preciso
diversificar as respostas, da orgânica à genética", concluiu.
Por: France Presse