Documento da Sociedade Brasileira
de Pediatria ajuda médicos a diagnosticar e tratar queixas pouco valorizadas
A
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar o Consenso sobre Dores
Pouco Valorizadas em Crianças. O material reúne as mais modernas evidências
científicas para ajudar os médicos a diagnosticar e tratar oito tipos de dores
que, embora sejam bastante comuns em crianças e adolescentes, recebem pouca
atenção nos consultórios.
"Reunimos
as evidências mais modernas e a opinião de médicos especialistas nessas
áreas", conta Claudio Len, professor Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) e membro da SBP. O objetivo, diz, é ressaltar a importância de
reconhecer e tratar essas dores. "Criança tem dor e essa queixa tem de ser
valorizada. Estudos mostram que quando a criança fica muito tempo com dor e não
recebe tratamento, desenvolve uma memória dolorosa e se torna um adulto mais
sensível à dor", explica.
O consenso
também pretende evitar que as crianças recebam remédios inadequados, que além
de não resolverem o problema aumentam o risco de efeitos colaterais.
As queixas de
dor correspondem a mais de um terço das consultas pediátricas, tanto em
pronto-socorros quanto em consultórios e ambulatórios, e acometem crianças de
todas as idades. A cefaleia ou dor de cabeça é a queixa mais frequente da
população infantil, sendo a enxaqueca a principal causa de dor de cabeça
recorrente. A dor abdominal recorrente é a segunda mais comum e atinge cerca de
10% dos escolares.
SAIBA
MAIS SOBRE AS 8 DORES POUCO VALORIZADAS
Cólica do lactente: Caracterizada por irritabilidade, choro inconsolável e grito acompanhado de mão apertada, flexão dos joelhos, excesso de gases e face vermelha. Não apresenta alívio após a alimentação e geralmente aparece ao final da tarde e início da noite. Normalmente, apresenta-se algumas semanas após o nascimento e tem o pico em torno de cinco a oito semanas de vida. Resolve-se espontaneamente até os quatro meses de idade. Não há evidências suficientes para indicar uso de remédios, chás ou mudança de dieta. Mas intervenções para reduzir o estresse dos pais, que pode refletir no estado do recém-nascido,podem ser úteis.
Dor em erupção dental: O incômodo causado depende do limiar de dor individual. Começa por volta do 6.º mês de vida, podendo variar de 3 a 9 meses. Termina por volta dos 2 anos e meio de idade. Os distúrbios locais mais observados são: salivação excessiva; inflamação gengival; irritação local percebida pelo ato de morder e coçar; aumento de sucção dos dedos; vermelhidão e inchaço da gengiva; úlceras bucais; vermelhidão na face; cistos de erupção. As manifestações sistêmicas mais observadas são: irritabilidade, redução de apetite, distúrbios do sono, febre, tendência a morder objetos, diminuição da resistência orgânica e perturbações gastrointestinais. Anestésicos locais, analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados sob prescrição médica.
Desordens Temporomandibulares (DTM): Grupo heterogêneo e complexo de condições caracterizadas por sinais e sintomas envolvendo os músculos da mastigação, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas. A origem é multifatorial, mas fatores psicossociais desempenham um papel importante. Podem se apresentar com vários sinais e sintomas. Os mais prevalentes são sons articulares durante a movimentação mandibular, limitação dos movimentos articulares e dor localizada na região próxima à orelha ou nos músculos da mastigação. O tratamento é multidisciplinar e pode incluir medicamentos, aparelhos ortodônticos, terapia, fisioterapia e até cirurgia.
Dor de cabeça recorrente: a principal causa de cefaleia recorrente em crianças é a enxaqueca. Distúrbios visuais e sinusite são causas pouco frequentes de cefaleia, mas a maior parte das crianças atendidas por médicos generalistas recebe erroneamente esses diagnósticos. Pesquisa recente indicou que mais de 2 milhões de crianças e adolescentes no Brasil sofrem de cefaleia recorrente e mais da metade faz uso abusivo de analgésicos, o que poder piorar o quadro. Há medicamentos para tratar as crises e outros usados na prevenção delas. Também é preciso evitar os gatilhos da dor, o que pode exigir mudanças na alimentação, sono e hábitos de vida.
Dor do crescimento: Ocorre predominantemente nas meninas na faixa entre 4 e 14 anos. É a terceira causa de dor recorrente em crianças e adolescentes, após a cefaleia e as dores abdominais. Afeta principalmente os membros inferiores e costuma aparecer à tarde ou à noite. A dor pode causar despertar noturno e sumir completamente pela manhã. Analgésicos, massagens e alongamento ajudam a aliviar o incômodo.
Fibromialgia juvenil: É uma das causas mais comuns de dores musculares crônicas e pode vir acompanhada de sintomas como fadiga crônica, sensação de peso ou inchaço nas extremidades, distúrbio do sono, depressão, ansiedade e baixa autoestima. O tratamento inclui atividade física regular e terapia cognitivo-comportamental.
Dores relacionadas à pratica de esportes: Entre as crianças e os adolescentes, as queixas mais frequentes são a dor muscular crônica, a dor na região lombar e a dor no púbis. Fisioterapia e medicamentos podem ser indicados de acordo com o diagnóstico.
Dor abdominal recorrente: É definida na presença de pelo menos três episódios de dor, suficientemente fortes para interferir nas atividades habituais da criança por um período mínimo de três meses. Várias causas estão relacionadas, como processos infecciosos (por exemplo, infecção do trato urinário), inflamatórios (doença de Crohn), distensão ou obstrução de vísceras, doenças parasitárias e constipação. Há medicamentos que podem ser indicados pelo médico de acordo com as diferentes causas.
Por: Karina Toledo - O Estado de S. Paulo