A síndrome de Klinefelter foi descrita pela primeira vez em
1942 por Klinefelter, Reifenstein e Albright, sendo esta a primeira
anormalidade de cromossomo sexual humana relatada. Nos pacientes com síndrome
de Klinefelter ocorre a presença de um cromossomo a mais no par sexual, sendo
descrito como 47,XXY. Esta afecção ocorre por não disjunção meiótica (defeito
de segregação de cromossomas homológos ou de cromatides-irmã, resultando na
produção de gametas com mais ou menos material genético que o normal), durante
a primeira ou segunda divisão. Raramente ocorre por erro de fertilização. Aproximadamente
15% dos indivíduos são mosaicos (que possuem duas linhas celulares diferentes
com distinto genótipo), cariótipo (conjunto cromossômico) 46,XY/47,XXY. A
incidência desta afecção está estimada em 1:1.000 homens nativivos ou 1:2.000
nascimentos.
Os indivíduos afetados são fisicamente normais até a
puberdade, fase na qual o hipogonadismo (termo médico para um defeito no
sistema reprodutor que resulta na diminuição da função das gônadas - ovários ou
testículos) torna-se óbvio, tratando-se aqui da maior causa de infertilidade
nos homens. Os testículos são pequenos (menor que 2 cm) em adultos, e os níveis
de testosterona são baixos, impossibilitando os caracteres secundários de se
desenvolverem totalmente. Os caracteres que normalmente são alterados e chamam
a atenção do médico para o diagnóstico são: estatura elevada, comprimento dos
membros superiores maior que a distância tronco-cefálica, envergadura superior
à estatura, musculatura pouco desenvolvida, obesidade, corpo eunucoide
(indivíduo sexualmente deficiente), pênis pequeno, pouca pilosidade com
distribuição pubiana do tipo feminino, voz aguda e varizes nos membros
inferiores. Outros problemas incluem escoliose, enfisema, osteoporose, diabetes
mellitus. Casos com ginecomastia (crescimento das mamas) unilateral ou
bilateral são comuns (25 a 35%), mas esse não é um sinal obrigatório desta
doença. O risco de câncer de mama nos casos com ginecomastia é de 20 a 50 vezes
maior do que em homens 46,XY.
Casos com deficiência mental grave são raros. A deficiência
mental moderada ou leve nestes pacientes representa um percentual significativo
entre os meninos que necessitam de uma educação especial. Dificuldades de
linguagem podem levar a vergonha, insegurança e imaturidade.
Diagnóstico/teste
O exame laboratorial usado no diagnóstico da síndrome de
Klinefelter é a análise citogenética. A técnica de bandeamento GTG permite
identificar a presença de um cromossomo X a mais no par sexual (livre,
translocação e mosaicismo) em todos os casos analisados, sendo esse o melhor
exame indicado para o diagnóstico. Em todos os casos de translocação envolvendo
um cromossomo X, é obrigatória a realização dos cariótipos dos pais. Nos casos
de gravidez de mulheres com idade avançada (acima de 35 anos), pode ser
detectada essa anomalia cromossômica no feto por cariótipo pré-natal.
Na infância é muito difícil o diagnóstico. Na puberdade,
devido às alterações que podem ocorrer no desenvolvimento dos caracteres
sexuais secundários, quando há queixa de anomalia da genitália externa,
distúrbio de comportamento e/ou aprendizado (70% dos casos), o médico pode
suspeitar de síndrome de Klinefelter e o exame citogenético definirá a presença
de um aumento no número de cromossomos X.
Os principais tratamentos para os portadores de síndrome de
Klinefelter são a administração de hormônio masculino (testosterona), que
promove o desenvolvimento sexual secundário, melhora a autoestima e o
desempenho sexual dos indivíduos, e acompanhamento psicológico adequado.
Aconselhamento genético
O risco de recorrência desta afecção é de 1%. Em casos de o
portador apresentar fertilidade, passa a ser necessário o diagnóstico
pré-natal, uma vez que o risco de recorrência para portadores da síndrome é de
50%.
Escrito por Danilo Moretti-Ferreira e Bruno