segunda-feira, 9 de abril de 2018

Vitamina D ligada a síndrome metabólica em mulheres após a menopausa

As mulheres com deficiência de vitamina D após a menopausa têm maior risco de apresentar síndrome metabólica do que as com níveis suficientes da substância, sugerem dados de um estudo de coorte transversal. Os níveis de 25-hidroxivitamina D (25-OH) abaixo de 20 ng/mL também foram relacionados a maior probabilidade de aumento dos níveis de triglicerídeos e diminuição da lipoproteína de alta densidade (HDL, do inglês High-Density Lipoprotein) do colesterol.

"Estes resultados sugerem que a manutenção de níveis plasmáticos adequados de 25-OH vitamina D nas mulheres após a menopausa pode reduzir o risco de síndrome metabólica, doença conhecida por estar relacionada a eventos cardiovasculares e mortalidade neste grupo", escrevem a Dra. Eneida Boteon Schmitt, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, e colaboradores.

Os pesquisadores observam, contudo, que o desenho observacional e transverso do estudo impede inferências causais, e que fatores de confusão não considerados podem desempenhar algum papel nestas observações. Além disso, como 90% das participantes do estudo eram brancas, os resultados podem não ser generalizáveis para outras raças/etnias.

O estudo, publicado na edição de janeiro 2018 do periódico Maturitas, foi feito com 463 mulheres dos 45 aos 75 anos de idade, que não tinham menstruado durante pelo menos um ano, não tomavam suplementos de vitamina D e tinham diagnóstico de doença cardiovascular. Os pesquisadores dosaram os níveis de colesterol total, HDL, lipoproteína de baixa densidade (LDL, do inglês Low-Density Lipoprotein), triglicerídeos, glicose, insulina e 25-OH vitamina D.

A deficiência de vitamina D foi definida como níveis séricos de 25-OH vitamina D abaixo de 20 ng/mL, enquanto os níveis entre 20 e 29 ng/mL foram considerados insuficientes. Níveis de pelo menos 30 ng/mL foram consideradas suficientes. Para o diagnóstico da síndrome metabólica foi necessário haver pelo menos três dos cinco critérios: circunferência da cintura acima de 88 cm e triglicerídeos de pelo menos 150 mg/dL, HDL abaixo de 50 mg/dL, pressão arterial de pelo menos 130/85 mmHg e glicose de pelo menos 100 mg/dL.

Pouco menos de um terço (32,0%) das mulheres tinha níveis de vitamina D suficientes, e uma proporção semelhante (32,6%) tinha níveis insuficientes. As 35,4% restantes tinham deficiência de 25-OH vitamina D. Níveis de atividade física, uso de terapia de reposição hormonal, tabagismo e prevalência de diabetes ou hipertensão arterial foram semelhantes entre os três grupos de mulheres. Idade, índice de massa corporal, HDL e LDL, glicose, circunferência da cintura, pressão arterial, idade da menopausa e tempo desde o início da menopausa também foram relativamente semelhantes entre os grupos.

Mais de metade (57,8%) das mulheres sem níveis suficientes de vitamina D (abaixo de 30 ng/mL) tinham síndrome metabólica quando comparadas aos 39,8% de mulheres com níveis de vitamina D suficientes (P = 0,003).

Níveis de vitamina D abaixo de 30 ng/mL foram associados a aumento do colesterol total, dos triglicerídeos e dos níveis de insulina. Também foram associados a maior pontuação na avaliação do modelo da homeostase de resistência à insulina, no qual a resistência à insulina é definida como um valor acima de 2,7.

Após o ajuste por idade, tempo desde o início da menopausa, índice de massa corporal, tabagismo, e nível de atividade física, as mulheres com deficiência de 25-OH vitamina D tiveram quase o dobro de probabilidade de síndrome metabólica e, relação às mulheres com níveis suficientes (odds ratio, OR = 1,90). As mulheres com deficiência de vitamina D também tiveram 55% mais probabilidade de apresentar aumento dos triglicerídeos e 60% mais probabilidade de ter baixos níveis de HDL. Concentrações reduzidas de 25-OH vitamina D se correlacionaram ao aumento do número de critérios de síndrome metabólica presentes.

"Há vários mecanismos fisiopatológicos passíveis de explicar o efeito da vitamina D sobre os componentes da síndrome metabólica", escrevem os autores. "A explicação mais plausível é que a vitamina D influencia a secreção de insulina e a sensibilidade à insulina, que desempenham um papel importante na síndrome metabólica".

Os pesquisadores também observaram fatores de risco comuns entre as mulheres diabéticas e aquelas com baixos níveis de 25-OH vitamina D, como idade avançada, ser de minoria étnica/racial, ter obesidade e ser sedentária.

"Embora a deficiência de vitamina D seja prevalente (...) ao longo de toda a faixa etária adulta, a diminuição das atividades ao ar livre, e a possível diminuição da capacidade da pele envelhecida de sintetizar a 25-OH vitamina D, podem contribuir para a alta prevalência de deficiência entre as mulheres depois da menopausa", acrescentam os autores.

Embora os pesquisadores especulem que seja plausível uma relação causal entre os baixos níveis de vitamina D e as alterações dos níveis do colesterol, eles também apontam explicações alternativas e ressaltam a necessidade de novos estudos para esclarecer essa relação.

"As pessoas que fazem muito exercício físico ao ar livre, o que poderia elevar os níveis de 25-OH vitamina D pela maior exposição ao sol, podem também ser mais propensas a ter hábitos alimentares saudáveis, o que poderia modificar favoravelmente o perfil lipídico delas", escrevem.

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e os autores informaram não possuir conflitos de interesses relevantes.

Maturitas. 2018;107:97-102. Artigo

Com informações do Medscape

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