quarta-feira, 2 de julho de 2014

Fumar causa ainda mais doenças do que pensávamos

Em uma ampla revisão da literatura científica, o médico mais conceituado dos Estados Unidos concluiu que o consumo de cigarros – muito conhecido por causar câncer de pulmão e doenças cardíacas – também causa diabetes, câncer colorretal e de fígado, disfunção erétil e gravidez ectópica.
Em um relatório o cirurgião-geral em atuação, Dr. Boris D. Lushniak, ampliou significativamente a lista de doenças que podem ser causadas ou influenciadas pelo tabagismo. Os outros problemas de saúde que o relatório lista são perda da visão, tuberculose, artrite reumatóide, função imunitária debilitada e fenda palatina em filhos de mulheres que fumam.

O relatório concluiu, ainda, que não havia provas suficientes para dizer que o fumo causava câncer de próstata. Também haveria provas sugestivas, mas não definitivas, que fumar causa câncer de mama.

O tabagismo tem sido associado a estas doenças, porém o relatório mostrou pela primeira vez que o cigarro as causa. A descoberta não significa que fumar vai lhe dar todos os problemas listados, mas que alguns casos não teriam acontecido não fosse pelo cigarro.

O relatório não é juridicamente vinculativo, mas é amplamente tido como um padrão para a evidência científica entre pesquisadores e formuladores de políticas.

Especialistas não envolvidos na sua elaboração disseram que as descobertas são um resumo abrangente das evidências científicas mais atuais, e, enquanto elas podem não ser surpreendentes para os cientistas, se destinam a informar o público, os médicos e outros profissionais da área sobre os mais novos comprovados riscos do tabagismo.
“Eu acho que a ciência foi muito bem feita e atualizada”, opinou o Dr. Robert Wallace, professor de epidemiologia e medicina interna na Universidade de Iowa (EUA), que ajudou a revisar o relatório.

O novo documento vem 50 anos após o lançamento do relatório crucial do cirurgião-geral Dr. Luther Terry, em 1964, em que o governo americano concluiu pela primeira vez que o fumo causava câncer de pulmão. O tabagismo era profundamente enraizado na cultura americana na época: metade dos homens adultos e um terço das mulheres eram fumantes. Mesmo os médicos fumavam. Esse relatório recebe o crédito pelo início das mudanças do público em relação a fumar. Em 1965, cerca de 43% dos adultos eram fumantes, e em 2012, só cerca de 18% eram.

No Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 1989 cerca de 32% da população de 15 anos ou mais era fumante, enquanto que, no ano de 2008, a prevalência de fumantes era de 17,2% (existiam cerca de 25 milhões de fumantes e 26 milhões de ex-fumantes). Já dados mais recentes do VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) revelaram que o número de fumantes no Brasil acima de 18 anos de idade era de 14,8% em abril de 2012.

Como se vê, o declínio não parou, mas desacelerou nos últimos anos. O novo relatório pede uma ação mais forte na luta contra o tabagismo. Este mal é a maior causa de morte prematura nos EUA, matando mais de 400 mil pessoas por ano. O relatório observa que muito mais norte-americanos morreram prematuramente de tabagismo do que em todas as guerras já travadas pelo país.

Embora o tabagismo provoque a maioria dos casos de câncer de pulmão, causa apenas uma pequena fração dos casos de câncer de fígado e colorretal. Um fumante tem 25 vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão do que alguém que nunca fumou, porém tem apenas cerca de 1,5 vezes mais chances de desenvolver câncer de fígado.
“É uma associação bastante modesta, mas como muitas pessoas ainda fumam, ainda é uma importante causa desses cânceres”, disse Neal Freedman, epidemiologista do Instituto Nacional do Câncer.

O relatório também conclui que os riscos de câncer de pulmão são muito maiores hoje do que em décadas passadas, embora os fumantes atuais consumam menos cigarros. Em 1959, as mulheres que fumavam eram 2,7 vezes mais propensas a desenvolver câncer de pulmão que as mulheres que nunca fumaram, e, em 2010, o risco adicional saltou quase dez vezes. Para os homens, o risco dobrou no mesmo período. O relatório disse que as mudanças no projeto dos cigarros, ou seja, o filtro, contribuiu para o aumento da letalidade. 

Fontes: The New York Times, INCA, hypescience

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