Dois especialistas debateram os riscos da utilização de antibióticos na ração dada aos animais para a saúde humana.
David Wallinga, um dos fundadores da campanha “Keep Antibiotcs Working: the Campaign to End Antibiotic Overuse in Animal Agriculture” (mantenha os antibióticos a funcionar: campanha para pôr fim à excessiva utilização de antibióticos na agricultura animal) e David Burch têm perspectivas diferentes relativamente ao uso de antibióticos na ração animal.
Os médicos e os legisladores têm “negligenciado o papel crítico desempenhado pelo uso continuado de antibióticos na pecuária e na avicultura”, é a opinião de David Wallinga. O médico adianta que só nos EUA, entre 2009 e 2011, 72% das vendas de agentes antimicrobianos destinou-se à alimentação e água dadas de rotina dos animais.
O cofundador da campanha pelo fim do uso excessivo dos antibióticos defende ainda que os antibióticos são aditivos à ração, dados como rotina e sem qualquer prescrição, a animais saudáveis e não doentes, tendo como fim acelerar o crescimento dos animais e evitar a ocorrência de doenças nos mesmos (que crescem em ambientes com muito pouco espaço e poucas condições de higiene).
David Wallinga considera que o uso de antibióticos como rotina na indústria animal é desnecessário. Como exemplo, o médico aponta a Dinamarca, o maior exportador mundial de carne de porco. Este país reduziu, desde 1994, o consumo de agentes antimicrobianos em 60%, tendo aumentado a produção de suínos em mais de metade.
As autoridades de saúde pública norte americanas e europeias concordam que o emprego contínuo de antibióticos na ração dos animais contribui para agravar a epidemia da resistência aos mesmos. No entanto, será pouco provável que os políticos adotem qualquer ação.
A posição de David Burch é bem diferente da de David Wallinga, na medida em que sustenta que a alimentação para animais medicada não traz qualquer risco adicional para o desenvolvimento de resistência aos antibióticos do que dar medicamentos antimicrobianos orais a humanos.
O veterinário considera que se deve estar atento à forma como as bactérias que poderão transportar genes resistentes são transmitidas aos humanos, devido às exaustivas avaliações de risco em relação à resistência antimicrobiana pelas autoridades reguladoras, sendo improvável que a utilização de antibióticos na alimentação de animais traga um grande risco para os humanos, principalmente tendo em conta o uso massivo e direto de antibióticos em humanos.