Especialistas australianos descobriram um tipo do vírus da Influenza A (H1N1) resistente ao Tamiflu (oseltamivir), medicamento antiviral comumente prescrito nos casos de contaminação.
A notícia preocupou os cientistas quanto à possibilidade de um novo surto da chamada gripe suína, que causou a morte de 2.060 pessoas no Brasil em 2009, ano da pandemia da doença. No mundo, cerca de 200 mil pessoas morreram. A descoberta foi apresentada durante o Encontro Científico Anual da Sociedade Australiana de Doenças Infecciosas.
“A principal preocupação é que estes vírus resistentes possam se espalhar globalmente, da mesma forma que ocorreu em 2008 e 2009, quando o então tipo do vírus H1N1 desenvolveu resistência ao oseltamivir e percorreu todo o mundo em menos de 12 meses” afirmou à BBC o cientista Aeron Hurt, um dos chefes do estudo e coordenador do Centro Colaborador de Referência e Pesquisa sobre Influenza, em Melbourne (Austrália), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Medicamento menos utilizado, o Relenza (zanamivir) ainda tem efeito contra o vírus “H1N1pdm09”, como foi chamado o tipo resistente pelos australianos.
Casos similares foram registrados em oito pessoas no Reino Unido, e sua agência de proteção à saúde já informou que está monitorando a situação.
Risco de novo surto global
Este tipo de vírus resistente ao Tamiflu é, entretanto, relativamente raro e afeta cerca de 2% dos que foram infectados pela gripe suína, mostraram os estudos na Austrália. Ainda assim, como os tipos de gripe suína são bastante sujeitos a mutações, eles alertam para a possibilidade de outras variações desenvolverem esta resistência.
“A transmissão e circulação do vírus H1N1pdm09 permanece um risco para o futuro” disse Hurt. “O monitoramento cuidadoso entre os pacientes é muito importante”.
A resistência ao Tamiflu ocorre quando um indivíduo em tratamento recebe a droga para controle dos sintomas. Na maioria dos vírus da gripe, as mutações que tornam o vírus resistente ao tratamento também o tornam menos potencialmente transmissíveis. Com a gripe suína, isto não aconteceu, e o vírus continuou forte o suficiente para se espalhar. Uma pesquisa com pacientes em Newcastle, na Austrália, em 2011, mostrou que doentes desenvolveram resistência mesmo sem terem tomado o Tamiflu, já que apenas um deles tinha feito uso do medicamento, enquanto 20% dos pacientes contaminados com o H1N1 na região tinham resistência a ele.
“A transmissão generalizada de uma cepa resistente é uma preocupação de saúde pública” defendeu o pesquisador. “A resistência às drogas reduz significativamente as opções de tratamento especialmente para pacientes graves. A única forma de combater o crescimento da resistência destes tipos de vírus é controlar o uso de medicamentos, para serem utilizados apenas no casos mais necessários”.
A contaminação do vírus do H1N1 se dá por via oral, de pessoa para pessoa, e provoca o surgimento de febre e tosse ou dor de garganta, dor de cabeça, muscular ou nas articulações. Segundo o Ministério da Saúde, hoje os médicos brasileiros estão orientados a prescrever o Tamiflu aos pacientes que apresentarem os sintomas, até mesmo antes do resultado dos exames.
Oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a droga tem eficácia nas primeiras 48 horas de infecção. Ela também é encontrada em farmácias e vendidas com receita médica.
Durante o surto mundial do vírus, registrado em 2009, pesquisadores descobriram que mulheres grávidas, crianças abaixo de 5 anos ou idosos acima de 65 anos são os suscetíveis à doença.
Campanhas de vacinação sazonais são feitas hoje como forma de controlar novos surtos.
Fonte: O Globo