A Nanox obteve o registro da Food and Drug Administration (FDA), agência regulamentadora de alimentos e fármacos dos Estados Unidos, para comercializar materiais bactericidas para aplicação em embalagens plásticas de alimentos. A empresa foi criada a partir de um grupo de pesquisa do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.
A empresa também foi contemplada, pela segunda vez, pelo programa Global Entrepreneurship Lab (G-LAB), da Escola de Administração do Massachusetts Institute of Technology (MIT Sloan). Desde setembro recebe consultoria de estudantes da instituição no desenvolvimento de um plano de negócios para preparar sua entrada no concorrido mercado norte-americano. Em janeiro, uma equipe de estudantes do programa visitou a sede da empresa, em São Carlos, no interior de São Paulo, para concluir o trabalho.
Com o plano de negócios em mãos, a Nanox pretende abrir uma subsidiária nos Estados Unidos e atrair investidores para auxiliá-la a montar a operação.
“Nós já conversamos com representantes de alguns fundos de investimento no Vale do Silício para ajudar a desenvolver toda a parte estrutural da subsidiária que pretendemos abrir nos Estados Unidos”, disse Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.
De acordo com o pesquisador, o material bactericida que pretendem comercializar nos Estados Unidos é a mais recente aplicação de uma linha de antimicrobianos inorgânicos – batizada de “NanoxClean” –, que começaram a desenvolver em 2005.
Por meio de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequena Empresa (PIPE), a empresa, que na época tinha o nome Science Solution, começou a produzir inicialmente partículas nanoestruturadas (em escala na bilionésima parte do metro) à base de prata, com propriedades bactericidas, antimicrobianas e autoesterilizantes.
O material foi aplicado na superfície de metais – em instrumentos médicos e odontológicos, como pinças, bisturis e brocas –, em secadores de cabelo, purificadores de água, tintas, resinas e cerâmicas.
A partir de 2007, passaram a estender a aplicação do produto para plásticos usados para embalar e conservar alimentos, com certificação obtida da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2012 para essa finalidade.
“A tecnologia que desenvolvemos para colocar prata em uma matriz cerâmica e, depois, adicionar esse material a um polímero, também resultou no depósito de algumas patentes no Brasil e nos Estados Unidos”, contou Simões.
Aumento da vida útil
Segundo Simões, as embalagens plásticas com os antimicrobianos inorgânicos desenvolvidos por eles aumentam o prazo de validade de alimentos acondicionados com o material. Dessa forma, o produto pode ser consumido por muito mais tempo.
“Um produto que durava seis meses, por exemplo, se armazenado em uma embalagem com o material bactericida, passa a durar de oito meses a um ano”, comparou.
O material, segundo Simões, pode ser aplicado em qualquer tipo de plástico de alimento – de sacos de supermercados a plásticos mais rígidos, como potes de margarina –, com um aumento de custo muito baixo em relação ao polímero convencional.
Para iniciar a comercialização do produto nos Estados Unidos, a Nanox realiza atualmente testes com cinco potenciais clientes – entre eles uma grande rede de supermercados e um fabricante de embalagens.
A empresa é a única fabricante do produto no Brasil. No mercado internacional, no entanto, enfrenta a concorrência de indústrias japonesas, que desenvolveram inicialmente a tecnologia, além de alemãs, que dominam a fabricação de produtos à base de prata.
A Nanox, contudo, desenvolveu uma tecnologia própria que utiliza entre 10 a 15 vezes menos prata do que seus concorrentes, ao mesmo tempo em que mantém a transparência do plástico – atributo considerado fundamental para o produto.
Ampliação de mercado
A Nanox pretende obter a certificação do produto nos Estados Unidos para outras aplicações, como, por exemplo, em saúde. O processo de registro de um produto na área de saúde junto ao FDA, no entanto, é mais demorado e complexo do que em aplicações em alimentos, exigindo a realização de estudos clínicos para garantir a segurança dos consumidores.
“Nossa previsão é de comercializar o produto para embalagens alimentícias no mercado norte-americano entre três e cinco anos e, depois disso, obtermos certificações para aplicação em cateteres e equipamentos de ultrassom, por exemplo”, disse Simões.
A Nanox já exporta para o México e a Itália e começou a ingressar no mercado chinês. De modo a conseguir manter seu plano de expansão e crescimento, por meio de um projeto PAPPE/PIPE fase 3, a empresa começou a aumentar nos últimos anos sua escala de produção.
A meta da empresa é aumentar dez vezes a escala de produção de partículas antimicrobianas nanoestruturadas, saltando dos atuais 10 quilos para 100 quilos por dia. “Estamos testando diversas metodologias para aumentar nossa escala de produção”, disse Simões.
Fonte: Fapesp