Investigadores do Reino Unido descobriram como o ouvido humano é formado, o que poderá ajudar a explicar por que motivo as crianças são suscetíveis às infecções, nomeadamente às otites serosas, revela um estudo publicado na revista “Science”.
Estima-se que uma em cada cinco crianças com cerca de dois anos seja afetada por otite serosa, que consiste numa acumulação de líquido no ouvido médio. O ouvido médio é uma pequena câmara constituída por três ossos que transmitem as vibrações do som do tímpano para o ouvido interno.
Contudo, quando há acumulação de líquido nesta câmara, os três ossos, denominados martelo, estribo e bigorna, tornam-se incapazes de se movimentar livremente e consequentemente não transmitem as vibrações sonoras para o ouvido interno, o que causa uma perda de audição temporária. Até à data, não se sabia por que motivo algumas crianças eram mais propensas a desenvolver problemas crônicos nos ouvidos.
Após terem realizado estudos em ratinhos, os investigadores do King's College London, no Reino Unido, descobriram que as células que revestem o ouvido médio são provenientes de dois tipos de tecidos, a endoderme e a crista neural. Enquanto a zona proveniente da endoderme é coberta de cílios que ajudam a limpar os detritos no ouvido, a zona proveniente da crista neural não tem cílios. Desta forma, parte do ouvido interno é menos eficaz na remoção de detritos, o que a torna mais suscetível à infecção.
“O nosso estudo explora um novo mecanismo no que diz respeito ao desenvolvimento do ouvido médio, identificando um possível motivo para a suscetibilidade à infecção. O fato de as células da crista neural fazerem parte do ouvido médio parece ser fundamental, uma vez que estas células não são capazes de limpar o ouvido de forma eficaz”, revelou em comunicado de imprensa, uma das autoras do estudo, Abigail Tucker.
A investigadora refere que o fato de nos mamíferos o ouvido interno ter evoluído de forma a criar espaço para albergar os três ossos essenciais para a audição, este mesmo processo deixou os mamíferos mais suscetíveis a infecções. Esta é uma falha evolutiva.
"Estes resultados contrariam tudo o que se pensava e sabia sobre o desenvolvimento do ouvido. Todos os livros referem que o revestimento do ouvido médio é constituído pelas células da endoderme e formado a partir de uma extensão de outra zona do ouvido médio – a trompa de Eustáquio. Agora os livros terão que ser todos reescritos”, conclui a investigadora.
Fonte: ALERT Life Sciences Computing, S.A