domingo, 17 de março de 2013

Estudos que usam ressonância magnética funcional podem estar incorretos


Desvio intrínseco

Um grande número de pesquisas científicas na área de neurociências e comportamento tem utilizado exames de ressonância magnética funcional para monitorar o que acontece no cérebro.

A ressonância magnética funcional cria imagens do cérebro medindo o fluxo sanguíneo, o que permite ver quais áreas estão sendo ativadas em resposta a cada estímulo.

Agora, porém, cientistas descobriram que alguns desses exames possuem um erro intrínseco, que deturpa os resultados, alterando as regiões do cérebro que parecem estar sendo ativadas.

Isso significa que centenas, ou milhares, de artigos científicos podem ter apresentado conclusões inválidas de forma não intencional.

Por exemplo, a identificação de quais estruturas são ativadas no cérebro estão no centro de um grande debate científico sobre os circuitos de recompensa - um assunto com relevância para nosso entendimento de questões que vão desde o vício em substâncias químicas até as decisões entre comprar um carro ou fazer uma viagem.

Imagens virtuais

Como na maioria das tecnologias atuais, o grande trabalho no exame de ressonância magnética funcional - também conhecido como fMRI - é feito por programas de computador.

Assim, é fácil esquecer que as chamadas "imagens do cérebro" não são de fato fotografias reais da atividade do cérebro real.
Em vez disso, cada imagem é o resultado de muitas camadas de análise e interpretação, com o resultado final estando muito distante dos dados iniciais colhidos pelo aparelho.

"[A imagem] é apenas uma representação da atividade cerebral. Essa imagem muda de acordo com a forma como você processa os dados," disse Matthew Sacchet, da Universidade de Stanford, um dos autores do estudo que descobriu a falha nos exames.

Desvio na ressonância magnética funcional

Os pesquisadores explicam que o que um sinal de ressonância magnética funcional realmente detecta é o resultado das diferenças magnéticas entre o sangue oxigenado e o sangue desoxigenado.

O problema é que há muito "ruído" nesse sinal, o que exige que ele seja tratado estatisticamente para retirar o que é válido.

Uma das abordagens mais comuns para fazer isso é conhecida como "suavização espacial", que envolve tirar a média da atividade de cada uma das regiões do cérebro em relação às áreas vizinhas.

O que os pesquisadores descobriram é que alguns algoritmos de processamento fazem médias entre áreas grandes demais do cérebro, alterando ou mesmo deslocando as atividades de estruturas menores para outras áreas, que recebem mais fluxo de sangue, e onde o nível do sangue oxigenado é mais forte.

Alguns aparelhos, por exemplo, fazem amostragens de 4 milímetros, enquanto outros usam 8 milímetros.

"Pode parecer estranho que um viés sistemático como esse possa influenciar todo um campo de pesquisas," disse Brian Knutson, orientador do estudo. "Mas se a metade das pessoas usa 8mm e a outra metade usa 4mm, você vai acabar com resultados muito diferentes, e isso pode ir se somando."

Segundo ele, essas armadilhas estatísticas são particularmente evidentes quando se estuda estruturas pequenas e complexas, como o núcleo accumbens, envolvido em pesquisas sobre dor crônica, vacinas anticocaína e até sobre o efeito analgésico do amor.

Segundo os cientistas, quando maior for a área de amostragem usada pelo aparelho, maior será o desvio nos resultados.

Eles ressaltam, contudo, que a descoberta poderá levar a resultados mais precisos no futuro, e que vários grupos de pesquisas já usam em seus trabalhos exames de ressonância magnética funcional com o menor nível de desvio.

Fonte: Diário da Saúde