Diagnóstico antes dos sintomas
Passar longos períodos no espaço, a bordo da Estação Espacial Internacional, por exemplo, enfraquece o sistema imunológico dos astronautas.
A descoberta foi feita por cientistas da NASA e da ESA (Agência Espacial Europeia).
A boa notícia é que o mecanismo que faz os astronautas adoecerem mais facilmente está fornecendo pistas sobre como detectar doenças aqui embaixo, antes mesmo que os sintomas surjam.
Sistema imunológico sem gravidade
Desde os primeiros voos espaciais tripulados que se sabe que os astronautas estão sujeitos a infecções que, em pessoas saudáveis na Terra, rapidamente são combatidas pelo próprio organismo.
Contudo, até agora não se sabia o que bloqueia o sistema imunológico dos astronautas, impedindo-o de funcionar normalmente.
O astronauta da ESA, Thomas Reiter, fez uma experiência em uma incubadora espacial, chamada Kubik, a bordo da Estação Espacial Internacional.
Uma amostra de células imunológicas humanas ficou nas condições de ausência de gravidade do espaço - a chamada microgravidade -, enquanto outra amostra foi mantida na centrifugadora Kubik para simular a gravidade.
As células foram preservadas de forma a serem analisadas depois em terra, o que permitiu ver que as células que foram centrifugadas mantiveram-se em boa saúde, ao contrário daquelas que passaram pela experiência da microgravidade.
Pela comparação das amostras, os pesquisadores perceberam que o que impede o funcionamento normal das células imunológicas é um transmissor específico dessas células, chamada via Rel/NF, que deixa de funcionar na ausência de gravidade.
Identificação dos genes
Mais do que isso, estudar as células que voaram na Estação Espacial está permitindo aos pesquisadores descobrir mais detalhes sobre o funcionamento do nosso sistema imunológico.
A comparação das amostras está mostrando onde procurar para descobrir quais genes controlam as nossas células imunológicas e a reação destas às doenças.
"Normalmente, quando o nosso corpo sente uma invasão, ocorre uma cascata de reações que são controladas pela informação dos nossos genes, numa espécie de livro de instruções," explica Isabelle Walther, uma das responsáveis pelo experimento.
Mas descobrir qual gene faz o que só é possível com experimentos desse tipo, que só variam um elemento - neste caso, a gravidade - e deixam todos os demais constantes.
Ligando ou desligando genes
A identificação dos genes poderá ser útil de duas maneiras opostas.
Travando os genes que ativam o nosso sistema imunológico poderá aliviar os sintomas em pessoas que sofrem de doenças autoimunes como a artrite reumatoide.
Por outro lado, a indústria farmacêutica poderá desenvolver compostos que ativem os genes para combater doenças específicas ou desenvolver anticorpos contra elas.
"Se imaginarmos o nosso sistema imunológico respondendo às doenças como uma queda d'água, até agora temos lutado contra as doenças lá onde a água bate no chão," compara Millie Hughes-Fulford, da NASA.
"No futuro, poderemos atuar ao nível das gotas de água antes que elas comecem a cair pela queda d'água. Estamos vivemos tempos entusiasmadores," conclui.
Fonte: ESA