
Experiências
realizadas em macacos mostraram uma redução no peso corporal e no índice de
massa corpórea (IMC) de aproximadamente 10% entre a quinta e a sexta semana
após a primeira injeção com a substância. A perda de peso começou uma semana
após a segunda aplicação do anticorpo — houve um intervalo de duas semanas da
primeira — e teve seu efeito prolongado por dois meses. Foi registrada ainda
uma diminuição na circunferência abdominal e na dobra cutânea das cobaias. Para
comprovar os efeitos dos anticorpos criados pelos pesquisadores, também foi
monitorada a ingestão de alimentos.
Em
geral, o consumo foi ligeiramente reduzido no início da experiência, mas
retornou aos níveis iniciais (iguais aos do grupo de controle) por volta do 20º
dia, sugerindo que uma possível redução da ingestão de alimentos não seria a
responsável pelo emagrecimento dos animais. A segunda principal consequência do
tratamento foi a redução significativa dos níveis de insulina no plasma
sanguíneo tanto nos animais em jejum quanto na análise de cobaias logo após
elas se alimentarem, o que pode indicar potencial melhora na sensibilidade dos
macacos ao hormônio.
Segundo
os pesquisadores, os índices de insulina dos animais durante o jejum e após
alimentados foram significativamente menores, assim como as taxas de glicose em
um teste de tolerância, sem ter como efeito colateral a hipoglicemia. “A
redução significativa dos triglicérides plasmáticos, do peso corporal, do IMC e
da circunferência abdominal indica uma perda preferencial da massa adiposa. Os
efeitos leves no consumo de alimentos sugerem que houve um aumento do gasto
energético potencial”, afirma Ian Foltz, autor principal da pesquisa. Os
benefícios tiveram uma duração mínima de cinco semanas e, para alguns dos
parâmetros metabólicos medidos, os resultados duraram até dois meses após a
injeção da substância.
Cópia
aprimorada
O
mimAb1, como foi denominado o anticorpo, foi projetado com base no
funcionamento de uma proteína do organismo humano, o fator de crescimento de
fibroblastos 21 (FGF21). Ele provém de uma família de moléculas conhecidas por
diminuírem o peso corporal e controlarem o metabolismo da glicose, e que já
havia atraído a atenção de pesquisadores. Estudos anteriores, no entanto,
mostraram que o FGF21 atua de forma muito pobre como um medicamento. Por esse
motivo, Ian Foltz e sua equipe projetaram uma molécula alternativa que imita as
ações do FGF21.
Foltz
ressalta que os efeitos encontrados por eles com o mimAb1 são consistentes com
diversos estudos anteriores sobre a função do FGF21 em roedores e comparáveis
ao que foi encontrado em outro relatório semelhante sobre o uso do FGF21 em
macacos. Ainda assim, ele alerta que ainda precisam ser realizados muitos
outros experimentos para que a tecnologia possa ser traduzida em humanos, como
testes de toxicidade, de segurança e de efeitos colaterais. “Mas os dados de
eficácia iniciais em primatas não humanos sugerem que esse anticorpo está a
caminho para ajudar no tratamento de pacientes com obesidade e diabetes”,
conclui.
Expectativas
A
notícia foi recebida de forma animadora pelo endocrinologista Carlos Eduardo
Couri, da equipe de transplante de células-tronco da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e coordenador do Departamento de
Novas Terapias da Sociedade Brasileira de Diabetes. Na opinião de Couri, existe
uma grande perspectiva futura de uso do mimAb1 em humanos, já que ele age tanto
no metabolismo da glicose quanto no energético. “Os macacos que receberam essa
injeção endovenosa tiveram redução de mais de 15% de triglicerídeos em 50% dos
casos. Isso é fantástico por ser uma aplicação endovenosa e não a administração
de um comprimido oralmente todos os dias. A vantagem é obter efeitos a longo
prazo”, acredita.
Couri
alerta, no entanto, para a tradução do estudo em humanos, o que pode levar a
uma terapia um pouco diferente. “Uma das questões é quanto tempo cada injeção
durará no nosso organismo. Se for somente um dia, muito dificilmente alguém vai
preferir a terapia injetável diária”, analisa. O presidente da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Airton Golbert, afirma que talvez
esse seja o principal impasse do estudo. “É extremamente experimental e com um
efeito agudo muito rápido. É possível imaginar um tratamento como esse no
futuro, mas as buscas são muitas. Infelizmente, estamos com dificuldade de
conseguir algo efetivo para o emagrecimento. O que já existia saiu do mercado”,
declara, referindo-se à proibição, no ano passado, pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) da venda de anfetamínicos.
Segundo
Golbert, os medicamentos para o diabetes tradicionalmente fazem com que o
paciente engorde, inclusive a insulina. Por esse motivo, a comunidade
científica se dedica a conseguir tratamentos que observem as duas condições. Há
dois medicamentos no mercado nessa linha. Eles aumentam a ação da proteína GLP1
no organismo, melhorando a condição do pâncreas para a secreção de insulina. O
anticorpo desenvolvido pelos pesquisadores da multinacional, no entanto, atua
diretamente na corrente sanguínea e, no teste em macacos, teve os efeitos após
a injeção prolongados.
Avaliação completa
Com
o IMC e a circunferência abdominal, a avaliação da dobra cutânea compõe o grupo
dos principais medidores de massa corporal. Nela, o objetivo é medir a
espessura de uma camada dupla de pele em determinada região do corpo e
registrar a quantidade de gordura nela. O exame, normalmente feito com um
compasso, é muito comum em academias de ginástica.
Emagrecedores banidos
Em
outubro de 2011, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) decidiu proibir a venda de medicamentos para emagrecer à base de
anfetaminas e manter o uso dos derivados de sibutramina com restrições. A
agência proibiu comercialização de anfepramona, femproporex e mazindol. A
decisão teve como base estudos internacionais que constataram a baixa eficácia
desses medicamentos na perda de peso e riscos à saúde do paciente.
Fonte:
CORREIO BRASILIENSE – DF