Riscos
dos corantes
Pesquisadores
da USP estão jogando por terra o mito de que corantes não
fazem mal à saúde.
Os estudos,
coordenados pela professora Danielle Palma de Oliveira, têm chegado a
resultados preocupantes sobre a ação destes componentes.
O grupo está
estudando o uso de corantes na indústria têxtil, que entram em contato com a
pele humana, na indústria de cosméticos, sobretudo tinturas para cabelos, e na indústria
alimentícia.
Os principais
riscos verificados estão ligados a danos genéticos, com a quebra das moléculas
de DNA na células.
Em princípio,
esse comportamento mutagênico pode levar ao desenvolvimento do câncer, embora
esta associação não tenha sido pesquisada pelo grupo.
Corantes
têxteis
As pesquisas
começaram observando a presença de corantes químicos ligados à indústria
têxtil, em um rio próximo à região metropolitana de São Paulo.
O grupo
detectou que a exposição aos corantes provocava ações mutagênicas, como a
quebra do DNA de células.
Os estudos
agora já envolvem mais de 10 corantes da classe química AZO, e todos tiveram
seus riscos à saúde comprovados: "Eles apresentaram danos ao material
genético, com quebra de DNA ou de cromossomos," diz a pesquisadora.
Segundo
Danielle, tais corantes são utilizados principalmente pela indústria têxtil,
para o tingimento de fibras.
O risco para a
saúde está no contato do corante com o suor, que pode fazer com que ele seja
transferido para a pele. Visando comprovar estes efeitos, o grupo está
desenvolvendo culturas de células de pele humana para realização de testes.
Corantes
para cabelos
Com os avanços
na questão dos corantes têxteis, Danielle iniciou o estudo de corantes ligados
a outras indústrias, como os utilizados para mudança de coloração dos cabelos.
A pesquisa
ainda está em fase inicial, mas já revelou alguns efeitos da utilização do
produto.
"Já foi
identificado que esses corantes são tóxicos, mas ainda não conseguimos
verificar se eles também causam lesões ao DNA", declara.
Segundo
Danielle, pesquisas sobre a ação destes componentes crescem principalmente nos
Estados Unidos e na Comunidade Europeia, que não têm legislações específicas
sobre as questões da utilização de corantes.
Corantes
em alimentos
Um dos motivos
do alerta se deu por conta de resultados em pesquisas europeias relacionadas às
ações de corantes em alimentos infantis.
"Foi
demonstrado que algumas papinhas podem levar as crianças a sofrerem alteração
de comportamento e alergias, mas em pouco tempo [as substâncias prejudiciais]
já estarão fora de circulação", conta a professora.
Legislação
sobre corantes
A questão do
risco dos corantes nunca foi estudada do modo devido por conta da suposição de
que estes eram componentes inofensivos.
Porém, em
virtude das descobertas recentes, a situação pode ser mais complexa. "Os
corantes são substâncias perigosas e merecem mais atenção", declara
Danielle.
No Brasil a
legislação acerca do uso de corantes para a indústria têxtil também é
inexistente, havendo regulação somente para o setor alimentício.
A professora,
a partir dos resultados de suas pesquisas, propõe uma mudança na questão.
"Nós procuramos utilizar os resultados de nossas pesquisas para embasar
uma proposta de mudança na legislação", conta.
Porém, com os
estudos em fase inicial, ela admite que esta mudança pode ser lenta.
"Seria necessária uma reunião técnica com os legisladores para mostrar
nossos resultados, mas isso ainda vai demorar um pouco", conclui.
Com
informações da USP