A meia-idade –
faixa etária compreendida entre os 40 e 60 anos – é uma fase do desenvolvimento
humano bastante peculiar. Devido a algumas de suas características de ser um
estágio de transição, pode ser comparada com a adolescência. A adolescência é
um período de transição entre a infância e a idade adulta, enquanto que a
meia-idade é uma fase de transição entre a idade adulta e a velhice, período de
mudanças e adaptações frente a uma nova realidade.
Ao contrário do que se pode pensar,
nem a adolescência e nem a meia-idade são, necessariamente, períodos de crises.
Realmente existem pessoas que apresentam dificuldades de adaptação frente às
mudanças biopsicossociais que ocorrem nesses períodos, porém, nem todas as
pessoas passarão por esses problemas.
Nossa sociedade vem passando por uma
série de transformações, as quais implicam, inclusive, nos eventos considerados
comuns à meia-idade. Por exemplo, sabe-se que as pessoas estão vivendo mais,
estão investindo mais em sua formação profissional, o que acaba adiando a época
de se casar e de ter filhos.
Uma questão da meia-idade diz respeito
às alterações biológicas do organismo. Pequenos déficits na acuidade sensorial
(como, por exemplo, a "vista cansada"), os primeiros cabelos brancos,
as rugas, uma diminuição do tônus muscular podem fazer com que a pessoa na
meia-idade apresente problemas de autoaceitação que, consequentemente,
influirão negativamente em sua autoestima. Nesse sentido, a menopausa é um
acontecimento que pode ser encarado de diferentes formas pelas mulheres que
passam por esse período. Algumas encaram como um acontecimento normal pelo qual
irão passar, outras ainda carregam consigo o estigma de que o fim da vida reprodutiva implica na inutilidade da
mulher e elas podem apresentar, com isso, problemas relativos à autoestima,
consequências negativas na relação do casal, sentimentos de inutilidade, dentre
outros sentimentos negativos.
Antigamente dizia-se que a pessoa na
meia-idade tinha que lidar com filhos adolescentes, porém atualmente observa-se
uma mudança. Como já foi introduzido anteriormente, há pessoas que têm filhos
adolescentes, enquanto que outras são pais de filhos pequenos ou mesmo já são
avós. Algumas entram na meia-idade ainda indecisas se desejam ou não ter
filhos. Filhos de diferentes faixas etárias ou a existência de netos podem
mudar a rotina dos indivíduos. Por exemplo, pais (na meia-idade) de filhos
adolescentes podem ter uma relação mais difícil quando os conflitos da
meia-idade batem de frente com os conflitos da adolescência de seus filhos.
Além de conviver com filhos
adolescentes, outras pessoas na meia-idade estreiam no papel de pais,
desdobrando-se perante as atribuições de quem tem filhos pequenos: noites mal
dormidas, reuniões escolares, decidir quem tomará conta das crianças em seu
horário de trabalho, novas rotinas em função do cotidiano da criança. Outros
dividem, além dessas tarefas, o papel de avós, incluindo nas suas atividades
diárias auxiliar os filhos no cuidado dos netos. Sem dúvida ter filhos e
netos é extremamente prazeroso, mas algumas funções relacionadas ao cuidado de
crianças modificam bastante toda a dinâmica familiar, o que pode se tornar algo
estressante, principalmente para uma pessoa que pode estar passando por
conflitos internos ou externos relacionados a questões concernentes à sua faixa
etária.
Como já foi citado anteriormente,
observa-se um ingresso mais tardio no mercado de trabalho, se compararmos as
gerações atuais às anteriores, visto que muitas pessoas desejam investir mais
em sua formação acadêmica. Esse fato, associado à reforma da Previdência,
contribui para que a aposentadoria – fenômeno que anteriormente acontecia na
meia-idade – seja adiada para a terceira idade – o que pode ser encarado de
maneira positiva ou negativa, dependendo das experiências do indivíduo em
relação à vida pós-aposentadoria.
Paralelo a esses acontecimentos, nessa
faixa etária costuma acontecer algo muito difícil: lidar com a doença dos pais
ou enfrentar a morte dos mesmos. É comum o relato de pessoas sobrecarregadas
por se tornarem cuidadoras dos pais idosos e doentes, além de também exercerem
seus papéis de pais, avós, profissionais e cônjuges. Em algumas situações, o
processo é tão sofrido e conflituoso que a pessoa em idade madura se vê obrigada
a abrir mão de um desses papeis (por exemplo, de cônjuge ou profissional) para
se dedicar em tempo integral ao genitor que necessita de cuidados. Cuidar dos pais idosos é tarefa
estressante, porém necessária, mas, caso o cuidador não tenha certos cuidados e
deixe em segundo plano sua vida pessoal, pode ter sua qualidade de vida
negativamente influenciada.
Observa-se que a meia-idade é uma fase
do desenvolvimento que costuma ser negligenciada, mas, assim como os outros
estágios, possui suas peculiaridades e merece ser mais bem estudada, já que
alguns eventos normativos dessa fase podem trazer importantes implicações
psicossociais no indivíduo da meia-idade e em seu grupo familiar.
Por Luciene Corrêa Miranda