segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Saiba quais conflitos surgem com a meia-idade e como lidar com eles


 A meia-idade  – faixa etária compreendida entre os 40 e 60 anos – é uma fase do desenvolvimento humano bastante peculiar. Devido a algumas de suas características de ser um estágio de transição, pode ser comparada com a adolescência. A adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, enquanto que a meia-idade é uma fase de transição entre a idade adulta e a velhice, período de mudanças e adaptações frente a uma nova realidade.
Ao contrário do que se pode pensar, nem a adolescência e nem a meia-idade são, necessariamente, períodos de crises. Realmente existem pessoas que apresentam dificuldades de adaptação frente às mudanças biopsicossociais que ocorrem nesses períodos, porém, nem todas as pessoas passarão por esses problemas.
Nossa sociedade vem passando por uma série de transformações, as quais implicam, inclusive, nos eventos considerados comuns à meia-idade. Por exemplo, sabe-se que as pessoas estão vivendo mais, estão investindo mais em sua formação profissional, o que acaba adiando a época de se casar e de ter filhos.
Uma questão da meia-idade diz respeito às alterações biológicas do organismo. Pequenos déficits na acuidade sensorial (como, por exemplo, a "vista cansada"), os primeiros cabelos brancos, as rugas, uma diminuição do tônus muscular podem fazer com que a pessoa na meia-idade apresente problemas de autoaceitação que, consequentemente, influirão negativamente em sua autoestima. Nesse sentido, a menopausa é um acontecimento que pode ser encarado de diferentes formas pelas mulheres que passam por esse período. Algumas encaram como um acontecimento normal pelo qual irão passar, outras ainda carregam consigo o estigma de que o fim da vida reprodutiva implica na inutilidade da mulher e elas podem apresentar, com isso, problemas relativos à autoestima, consequências negativas na relação do casal, sentimentos de inutilidade, dentre outros sentimentos negativos.
Antigamente dizia-se que a pessoa na meia-idade tinha que lidar com filhos adolescentes, porém atualmente observa-se uma mudança. Como já foi introduzido anteriormente, há pessoas que têm filhos adolescentes, enquanto que outras são pais de filhos pequenos ou mesmo já são avós. Algumas entram na meia-idade ainda indecisas se desejam ou não ter filhos. Filhos de diferentes faixas etárias ou a existência de netos podem mudar a rotina dos indivíduos. Por exemplo, pais (na meia-idade) de filhos adolescentes podem ter uma relação mais difícil quando os conflitos da meia-idade batem de frente com os conflitos da adolescência de seus filhos.
Além de conviver com filhos adolescentes, outras pessoas na meia-idade estreiam no papel de pais, desdobrando-se perante as atribuições de quem tem filhos pequenos: noites mal dormidas, reuniões escolares, decidir quem tomará conta das crianças em seu horário de trabalho, novas rotinas em função do cotidiano da criança. Outros dividem, além dessas tarefas, o papel de avós, incluindo nas suas atividades diárias auxiliar os filhos no cuidado dos netos. Sem dúvida ter filhos e netos é extremamente prazeroso, mas algumas funções relacionadas ao cuidado de crianças modificam bastante toda a dinâmica familiar, o que pode se tornar algo estressante, principalmente para uma pessoa que pode estar passando por conflitos internos ou externos relacionados a questões concernentes à sua faixa etária.
Como já foi citado anteriormente, observa-se um ingresso mais tardio no mercado de trabalho, se compararmos as gerações atuais às anteriores, visto que muitas pessoas desejam investir mais em sua formação acadêmica. Esse fato, associado à reforma da Previdência, contribui para que a aposentadoria – fenômeno que anteriormente acontecia na meia-idade – seja adiada para a terceira idade – o que pode ser encarado de maneira positiva ou negativa, dependendo das experiências do indivíduo em relação à vida pós-aposentadoria.
Paralelo a esses acontecimentos, nessa faixa etária costuma acontecer algo muito difícil: lidar com a doença dos pais ou enfrentar a morte dos mesmos. É comum o relato de pessoas sobrecarregadas por se tornarem cuidadoras dos pais idosos e doentes, além de também exercerem seus papéis de pais, avós, profissionais e cônjuges. Em algumas situações, o processo é tão sofrido e conflituoso que a pessoa em idade madura se vê obrigada a abrir mão de um desses papeis (por exemplo, de cônjuge ou profissional) para se dedicar em tempo integral ao genitor que necessita de cuidados. Cuidar dos pais idosos é tarefa estressante, porém necessária, mas, caso o cuidador não tenha certos cuidados e deixe em segundo plano sua vida pessoal, pode ter sua qualidade de vida negativamente influenciada.
Observa-se que a meia-idade é uma fase do desenvolvimento que costuma ser negligenciada, mas, assim como os outros estágios, possui suas peculiaridades e merece ser mais bem estudada, já que alguns eventos normativos dessa fase podem trazer importantes implicações psicossociais no indivíduo da meia-idade e em seu grupo familiar.

Por Luciene Corrêa Miranda