A maconha medicinal pode conter uma promessa no tratamento de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia (NVIQ) e de convulsões em crianças e adolescentes, sugere uma nova revisão sistemática e meta-análise publicada na edição de novembro do periódico Pediatrics.
"A evidência de benefício da maconha medicinal foi mais forte para náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, com evidências crescentes de benefício para a epilepsia", escrevem o Dr. Shane Shucheng Wong e o Dr. Timothy E. Wilens, ambos do Massachusetts General Hospital, em Boston. No entanto, "neste momento, não há evidências suficientes que embasem o uso para espasticidade, dor neuropática, transtorno de estresse pós-traumático e síndrome de Tourette".
Dois canabinoides sintéticos, dronabinol e nabilona, foram aprovados pela US Food and Drug Administration (FDA) para uso clínico nos Estados Unidos.
No entanto, de acordo com os autores, a legalização da maconha medicinal apenas ampliou a lacuna entre a acessibilidade e a evidência limitada de se usar canabinoides como tratamento médico em pacientes pediátricos.
Dessa forma, o Dr. Wong e o Dr. Wilens avaliaram a base de evidências de canabinoides como tratamento médico em crianças e adolescentes.
Eles realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de estudos que pesquisaram os benefícios médicos dos canabinoides em pacientes jovens. O trabalho abarcou 795 pacientes em 22 estudos pediátricos, incluindo seis em NVIQ e 11 em epilepsia.
Os estudos examinados incluíram cinco ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs), cinco relatos de casos, cinco revisões retrospectivas, quatro ensaios abertos, dois levantamentos feitos com pais, e uma série baseada em um caso.
Entre os estudos em NVIQ, quatro dos quais eram ensaios clínicos controlados randomizados, os pesquisadores descobriram que os canabinoides medicinais foram significativamente melhores do que os fármacos convencionais contra náusea para reduzir NVIQ em pacientes jovens.
"Esta evidência é semelhante ao observado na literatura adulta", escrevem os autores.
Por exemplo, um estudo relatando dois ensaios clínicos controlados randomizados duplo-cegos mostrou que o δ-9-tetrahidrocannabinol reduziu significativamente náuseas e vômitos em comparação com a metoclopramida (P < 0,01) e a proclorperazina (P < 0,001).
Os estudos de epilepsia também mostraram que os canabinoides medicinais reduziram a frequência de convulsões em pacientes, incluindo alguns com epilepsia resistente ao tratamento.
Por exemplo, o único ensaio clínico controlados randomizado em epilepsia envolveu pacientes com convulsões resistentes a medicamentos associadas à síndrome de Dravet. Aqueles que receberam canabidiol tiveram uma redução significativa (P = 0,01) na frequência mediana de crises convulsivas mensais (de 12,4 a 5,9) em comparação com aqueles que receberam placebo (de 14,9 a 14,1).
"Isso representou uma redução ajustada na frequência mediana de convulsões em 22,9% com o canabidiol em comparação com um placebo", afirmam os autores.
No entanto, além do potencial uso em NVIQ e epilepsia, o Dr. Wong e o Dr. Wilens não encontraram evidências suficientes para embasar o uso de canabinoides medicinais para tratar outras indicações clínicas, como espasticidade, dor neuropática, distúrbio de estresse pós-traumático e síndrome de Tourette.
"Estudos adicionais maiores, prospectivos e controlados são necessários para delinear melhor a utilidade médica dos canabinoides em diferentes transtornos pediátricos", concluem os autores.
Os autores não relataram conflitos de interesses relevantes.
Pediatrics. 2017;140(5):e20171818. Resumo
Com informações de Medscape
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