O princípio ativo sildenafil, encontrado num dos medicamentos mais utilizados no tratamento da disfunção erétil, pode causar respostas visuais anormais nos indivíduos que apresentam uma mutação num gene associado à retinite pigmentosa, podendo ter efeitos prejudiciais e prolongados na sua visão, defende um estudo publicado no “Experimental Eye Research”.
A retinite pigmentosa é uma doença da retina que leva à cegueira, podendo ser causada pela mutação num gene que codifica a enzima PDE6. Os indivíduos com duas cópias do gene mutado desenvolvem a doença, enquanto os portadores de apenas uma cópia têm uma visão normal.
Os investigadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, referem que o sildenafil pode inibir esta enzima que tem um papel importante na transmissão de sinais da retina para o cérebro. Adicionalmente, alguns ensaios clínicos realizados com o medicamento habitualmente utilizado no combate da disfunção erétil indicaram que este poderia causar distúrbios visuais transientes nos indivíduos saudáveis. Estes efeitos incluíam sensibilidade à luz, visão turva e alteração das cores.
“Receamos que os indivíduos com visão normal, mas que tenham uma única cópia do gene mutado para a retinite pigmentosa sejam mais suscetíveis a estas alterações”, referiu, em comunicado de imprensa, a primeira autora do estudo, Lisa Nivison-Smith.
Assim, foi neste âmbito que os investigadores decidiram avaliar os efeitos de uma única dose de sildenafil em ratinhos normais e noutros que apresentavam uma única cópia do gene mutado. Verificou-se que os ratinhos controle apresentaram uma perda transiente da função visual após o tratamento. Contudo, este efeito foi aumentado nos ratinhos com o gene mutado, tendo a resposta perdurado por um maior período de tempo.
Os investigadores também observaram sinais precoces de morte celular apenas nos olhos dos ratinhos com a mutação, o que sugere que o sildenafil pode causar degeneração nos portadores da doença.
“Estes resultados são importantes uma vez que um em cada 50 indivíduos é portador dos genes recessivos que causam a doença da retina, mas não o sabem, pois a sua visão é normal”, explicou Lisa Nivison-Smith.
Os investigadores concluem que um melhor conhecimento do efeito desta família de fármacos para a disfunção erétil pode ajudar os investigadores e os clínicos a planear estratégias terapêuticas mais eficazes.
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