Passados 85 anos desde a identificação do primeiro caso de febre maculosa em território nacional, a falta de informação continua sendo um dos maiores desafios no enfrentamento da doença.
Com quadro clínico marcado por febre alta, dores de cabeça, náuseas e vômitos, o diagnóstico correto depende do conhecimento dos profissionais de saúde sobre este agravo, que compartilha os mesmos sintomas com diversas doenças.
Nos últimos 20 anos, praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue, segundo levantamento realizado no Rio de Janeiro.
A pesquisadora Elba Lemos, da Fiocruz, alerta para a prevenção da doença que já infectou mais de 1.200 pessoas e levou a óbito cerca de 370, desde 1997 - uma impressionante letalidade de mais de 30%.
O Sudeste é a região do país com o maior número de notificações de febre maculosa, com destaque para São Paulo (562 casos) e Minas Gerais (208 casos). Só em 2014, o número de confirmações já chega a 23, de acordo com a última atualização de dados do Ministério da Saúde, feita em Maio.
O que é a febre maculosa?
Elba Lemos: A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda, que pode causar desde formas assintomáticas até casos mais graves, com alta possibilidade de óbito. No Brasil, é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pelo carrapato da espécie Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. No entanto, existem no mundo mais de 20 espécies de Rickettsia que podem causar febre maculosa.
Por que a doença recebe esse nome?
Por dois motivos: o primeiro, por causar um quadro de febre no paciente, e em segundo, por provocar o aparecimento de manchas avermelhadas na pele, conhecidas como máculas.
Quais são os sintomas?
O quadro clínico é marcado por início brusco, com febre alta e dores de cabeça, podendo haver dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. As manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias.
O surgimento de lesões na pele, no 3º ao 5º dia de doença, aumenta o grau de suspeição, muito embora existam casos nos quais este sinal pode não ser detectado - no caso de pacientes idosos, submetidos a tratamento específico precocemente, ou mesmo em pacientes negros, pela dificuldade de se observar as manchas negras, por exemplo.
Como ocorre a transmissão?
A doença é transmitida ao homem basicamente pelo carrapato infectado, não havendo risco de transmissão pessoa a pessoa. Para que a infecção ocorra, o carrapato precisa ficar aderido à pele, em média, por quatro horas. Se houver lesões na pele, o contágio pode ocorrer no momento do esmagamento do inseto. Uma vez infectados, os carrapatos permanecem assim durante toda a vida, que, de forma geral, dura 18 meses.
Há tratamento para a doença?
Por ser causado por uma bactéria, o tratamento tem como base o uso de antimicrobiano específico e de baixo custo, ministrado por via oral quando o paciente tem condições de ingerir a medicação. No entanto, em pacientes graves, com edema (inchaço) e vômitos, por exemplo, o antibiótico deve ser ministrado por via endovenosa, além do tratamento de suporte, dependendo da gravidade do caso.
Como a bactéria destrói a parede do vaso sanguíneo, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. A partir do 7º dia de doença, a lesão torna-se, geralmente, irreversível e o óbito, inevitável.
Embora exista vacina para a febre maculosa, a sua utilização não é indicada considerando a sua proteção parcial e a falta de indicação de vacinação para o controle de uma doença que responde muito bem ao tratamento antimicrobiano.
O grau de letalidade é alto?
Sim. Apesar de ser considerada uma doença de baixa frequência, a taxa de mortalidade é elevada devido à falta de diagnóstico adequado e de tratamento precoce.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, nos últimos 20 anos praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue. Diante de um caso suspeito, deve-se coletar o sangue para a análise laboratorial e iniciar o tratamento imediatamente, mesmo sem a confirmação laboratorial.
Quais as formas de prevenção da doença?
A melhor forma de se prevenir é evitando áreas infestadas por carrapato, principalmente durante o período de maio a outubro. Vale mencionar a importância de animais como o cachorro, o cavalo e a capivara no ciclo de transmissão da doença, que, além de fonte de alimentação para os carrapatos, podem auxiliar no deslocamento de insetos infectados e estão próximos ao homem. Por isso, é preciso ficar atento à presença do vetor nos animais.
É essencial que toda a população e os profissionais de saúde tenham conhecimento sobre os riscos do contato com carrapatos, direta ou indiretamente, pois esses artrópodes são o segundo maior transmissor de doença para o homem, depois dos mosquitos vetores.
Ao ser observado algum carrapato aderido à pele, é importante removê-lo com cuidado e rapidez.
Outro ponto importante: o controle de carrapatos em animais, assim como o uso de inseticidas/carrapaticidas devem ser realizados somente sob orientação de profissionais de saúde pública, agricultura e meio ambiente, considerando a concentração do produto, o melhor período do ano para o seu uso, e acima de tudo, os efeitos prejudiciais e a presença de resistência. No Brasil, a transmissão ocorre por meio do carrapato da espécie Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela.
Com informações da Agência Fiocruz
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