A caquexia é uma complicação comum entre portadores de doenças crônicas, como câncer, AIDS, insuficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Ela se caracteriza por uma perda de pelo menos 5% do peso corporal, acompanhada de atrofia do tecido muscular e adiposo, fadiga, fraqueza e, frequentemente, perda de apetite.
"O avanço no tratamento da AIDS e da insuficiência cardíaca tem conseguido evitar que os pacientes se tornem caquéticos. Mas a síndrome ainda é comum entre portadores de câncer, principalmente de tumores no sistema gastrointestinal. A incidência chega a 80% nos casos de câncer de pâncreas. E, quando o paciente desenvolve caquexia, torna-se refratário aos tratamentos convencionais contra o câncer," explica Miguel Luiz Batista Júnior.
Miguel, que é pesquisador da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), está fazendo avanços importantes na compreensão, diagnóstico e tratamento dessa síndrome em colaboração com colegas da Universidade de São Paulo (USP).
Caos metabólico
Segundo o Dr. Miguel, os cientistas ainda não sabem como começa e como progride o caos metabólico que resulta na redução progressiva da massa corpórea.
Sabe-se que há fatores inflamatórios envolvidos e que, quando a perda ultrapassa 10% do peso, torna-se praticamente irreversível, sendo muitas vezes a causa da morte dos pacientes oncológicos.
Em experimentos em cobaias, a equipe descobriu que, durante o desenvolvimento da caquexia, o tecido adiposo sofre um processo de remodelamento. Há uma redução no número de adipócitos e um aumento na matriz extracelular, que dá sustentação ao tecido.
Há ainda aumento da lipólise e de células inflamatórias, além de maior liberação de adipocinas (hormônios produzidos nos adipócitos) e ácidos graxos para o organismo, o que parece ser o gatilho do caos metabólico que acaba resultando na caquexia.
Os pesquisadores agora estão estudando o tecido muscular dos pacientes para ver as alterações provocadas pela síndrome. "Alguns estudos anteriores sugeriam que o tecido muscular seria afetado antes do adiposo, mas nossos dados sugerem o contrário", disse.
Eles estão também testando o efeito de drogas experimentais e de exercícios físicos no controle da caquexia.
"Percebemos que todos os marcadores inflamatórios são reduzidos após o período de treinamento e ficam próximos dos níveis normais. Além disso, há melhora no apetite e o paciente para de perder peso", disse Miguel.
Dados preliminares sugerem que o tratamento não apenas evita a perda de massa muscular nos animais com câncer induzido, como também reduz a perda de massa gorda, aumenta a sobrevida em mais de 30% e diminui o crescimento do tumor em mais de 45%.
Fonte: Fapesp
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