Um vírus amazônico que causa sintomas parecidos com os da dengue teve parte de seu mecanismo de ação desvendado por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A má notícia é que ele consegue invadir as células de parasitas mais rapidamente que os vírus da gripe ou da dengue.
É mais um sinal indicando que é preciso monitorar com cuidado o vírus Mayaro, o qual, por enquanto, afeta principalmente pessoas que adentram a floresta.
Pelo que os cientistas sabem, ainda não aconteceu um surto urbano, mas existe um perigo real.
Os pesquisadores apresentaram os novos dados sobre a dinâmica de ataque do Mayaro durante a última reunião da Fesbe (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), realizada em Caxambu (MG).
O vírus é conhecido desde os anos 1950, com cerca de mil casos confirmados de infecção (o número real deve ser maior por causa da semelhança da doença com a dengue).
Acredita-se que o Mayaro circule no organismo de macacos e no de outros animais, como aves. Seu vetor (organismo transmissor) são os mosquitos do gênero Haemagogus, que podem picar pessoas e transmitir o vírus.
Há casos registrados de pessoas que foram picadas na Amazônia e depois manifestaram os sintomas em seus países natais na Europa, afirma pesquisadores da UFRJ.
RUMO AO AEDES?
Em laboratório, já ficou demonstrado que o Mayaro pode ser transmitido também pelo mosquito Aedes aegypti, famigerado vetor da dengue. Se o vírus evoluir de modo a "colonizar" o A. aegypti com mais frequência e eficiência, estaria armado o cenário para a transmissão urbana do patógeno.
Não seria uma hecatombe --não há casos de mortes causadas pelo Mayaro--, mas o dano ainda seria grave porque o vírus leva a inflamações nas articulações.
Havia pouca informação sobre como o Mayaro chegava às células do hospedeiro, e aí é que entra o trabalho da equipe da UFRJ. Os pesquisadores usaram uma espécie de marcador fluorescente para acompanhar o trajeto do vírus rumo ao interior de células do macaco-verde-africano (Chlorocebus pygerythrus).
O vírus Mayaro toma partido de um processo natural da célula, a endocitose, na qual ela traz para dentro de si produtos que "interessam". O vírus simplesmente imita uma dessas moléculas e é "endocitado", como se diz.
O processo leva três minutos para acontecer, contra dez no caso do vírus da dengue.
A pesquisa também achou indícios de que, nesse processo, o vírus se funde a uma membrana de uma das organelas (os "órgãos internos" da célula). O próximo passo é descobrir qual.
Segundo os cientistas, as informações são necessárias para se pensar numa estratégia racional contra o vírus. Do contrário, vão ficar sempre tratando apenas os sintomas que ele causa.
Fonte: Folha de S.Paulo
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