Uma nova abordagem para o tratamento de picadas de cobras venenosas promete salvar a vida de milhares de pessoas.
Em lugar do soro antiofídico tradicional, que quase nunca está disponível onde é mais necessário, os médicos estão avaliando a administração de medicamentos antiparalisantes topicamente, através de um spray nasal.
A nova terapia, sem agulhas, pode reduzir drasticamente o número de mortes causadas por picadas de cobra, estimadas em 125 mil por ano.
No Brasil, os ataques de animais venenosos dobraram nos últimos 10 anos, e as picadas de cobra já matam mais do que a dengue.
Spray contra picada de cobras
Os soros antiofídicos são uma solução imperfeita por várias razões, mesmo se a cobra for identificada e o soro correspondente existir.
Estima-se que 75% das vítimas de picada de cobra morram antes mesmo de chegar ao hospital porque moram em locais distantes dos grandes centros.
Além disso, esses "antivenenos" são caros, exigem refrigeração para serem conservados, e dependem de pessoal especializado para serem administrados - mesmo muitos médicos não estão preparados para atender vítimas de animais venenosos.
"Nós estamos tentando mudar a maneira como as pessoas pensam sobre esse problema antigo e persistente, desenvolvendo um tratamento barato, termoestável e fácil de usar, que pelo menos dará às pessoas tempo suficiente para chegar ao hospital," disse Matt diz Lewin, da Academia de Ciências da Califórnia (EUA).
Para isso, Lewin e seus colegas estão começando a testar um tratamento genérico - independente da cobra responsável pela picada - e que possa ser aplicado na forma de um spray.
Antiparalisantes
Normalmente, as vítimas da picada de cobra ficam paralisadas pela ação das neurotoxinas do veneno, resultando em morte por insuficiência respiratória.
Mas existe um grupo de medicamentos chamados anticolinesterásicos, que têm sido utilizados há décadas para reverter a paralisia quimicamente induzida em salas de cirurgia e, na sua forma intravenosa, para tratar as vítimas de picada de cobra quando não há soro antiofídico disponível ou quando ele não se mostra eficaz.
O problema é que essas drogas são tão difíceis de administrar quanto o soro tradicional.
Por isso Lewin está desenvolvendo uma forma de aplicar esses medicamentos por via nasal.
A equipe já demonstrou o sucesso do novo tratamento em laboratório, e os seus resultados foram publicados na revista Clinical Case Reports.
Lewin e seus colegas estão agora realizando estudos adicionais em cobaias para desenvolver novos métodos e novas combinações dos medicamentos disponíveis, já que existem muitas combinações de anticolinesterásicos e anticolinérgicos.
Além disso, é necessário monitorar cuidadosamente os efeitos das drogas quando elas são aplicadas através das mucosas - do nariz ou mesmo dos olhos, por exemplo.
A equipe deverá realizar os primeiros testes com a colaboração de colegas da Índia.
Fonte: Diário da Saúde