A introdução de períodos sem medicação em alguns
tratamentos contra o câncer poderia manter os pacientes vivos por mais tempo,
segundo indica um novo estudo.
A pesquisa, publicada na revista especializada Nature,
avaliou camundongos com melanoma (câncer de pele), que rapidamente se tornaram
resistentes aos tratamentos.
O estudo indicou que os tumores também ficavam
dependentes das drogas para sobreviver. A retirada do tratamento levou os
tumores a diminuírem de tamanho.
Os especialistas dizem que a descoberta é
animadora, mas dizem que são necessários ainda mais estudos para saber se o
mesmo se aplica a seres humanos.
A equipe de cientistas da Universidade da
Califórnia e do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, investigava como
as células de melanoma se tornavam resistentes a uma droga, o vemurafenib.
A droga pode reduzir o desenvolvimento de um tumor
no curto prazo, mas ela logo se torna ineficaz.
Dependência
Os tumores ganhavam resistência ao mudar a
composição química dentro da célula. Porém os pesquisadores mostraram que o
processo deixava a célula cancerígena dependente da droga.
Quando os camundongos pararam de receber o
medicamento, os tumores começaram a encolher.
Pesquisadores dizem que ainda é preciso verificar
resultados em testes clínicos com humanos
Os cientistas usaram esse conhecimento para testar
uma nova forma de prescrever a droga. Em vez de tomar a medicação todos os
dias, os camundongos recebiam a droga por quatro semanas, seguidas de duas
semanas de "férias do medicamento", antes de começar o
mesmo padrão novamente.
"Notavelmente, a dosagem intermitente com
vemurafenib prolongou a vida dos camundongos com tumores de melanoma
resistentes a drogas", observa Efim Guzik, professor de biologia do câncer
na Universidade da Califórnia.
"Ao procurar entender os mecanismos de
resistência à droga, também descobrimos uma maneira de melhorar a durabilidade
da resposta à droga", observa.
Custo-benefício
Para Mark Middleton, diretor do Centro de Medicina
Experimental de Câncer da ONG Cancer Research UK, "os resultados sugerem
uma maneira na qual esse importante novo tratamento poderia ser capaz de
aumentar os benefícios para os pacientes e suas famílias".
"Eles também oferecem a possibilidade de
tratamentos com melhor custo-benefício e com menos efeitos colaterais, porque
os pacientes poderiam passar algum tempo sem o vemurafenib", diz.
Richard Marais, do Instituto Paterson para
Pesquisas sobre o Câncer, de Manchester, que participou da descoberta do
mecanismo de ação do vemurafenib, diz que os resultados do novo estudo são
"muito convincentes".
"Esse novo estudo é animador, porque sugere
uma forma de combater a evolução da resistência à droga em pacientes de
melanoma usando as drogas que já temos, em vez de termos que desenvolver novas
drogas", disse.
"Será interessante ver se esses resultados de
laboratório serão repetidos em testes clínicos", afirma.
Marais diz que é possível que o mesmo efeito seja
verificado em outros tratamentos de câncer.
Fonte:
BBC