Epigenética

As informações epigenéticas podem
ser herdadas sem afetar o DNA. Na verdade, pesquisas indicam que a herança não-genética pode ser
mais frequente do que a herança pelo DNA.
A pesquisadora Marina Felisbino descobriu que o ácido valpróico
provoca alterações estruturais importantes na cromatina, estrutura que regula
diversos processos essenciais para funções celulares.
O ácido valpróico é amplamente utilizado no tratamento de surtos epilépticos.
"Em sua definição mais recente, a epigenética
é o estudo de qualquer mudança na expressão gênica ou no fenótipo celular, sem
que haja alterações na sequência de bases do DNA, mas que seja potencialmente
estável e idealmente passível de ser herdada", explicou Maria Luiza
Silveira Mello, coordenadora do projeto.
Genética fora do DNA
"A literatura internacional mostra que as
marcas epigenéticas chegam a desregular 6% dos genes em determinadas
células," disse Maria Luiza.
A epigenética, segundo a pesquisadora, é uma área
de conhecimento que vem se mostrando crucial para explicar a regulação da
função genética do DNA.
Todas as células dos mais variados tecidos de um
organismo possuem DNA idêntico.
Mas, embora contenha a informação fundamental para
exercer qualquer função, o DNA não determina todas as características que a
célula terá: graças a uma regulação genética, as informações não são expressas
todas de uma vez, permitindo que cada célula adquira uma função específica.
"Essa regulação é feita pelas marcas
epigenéticas, que podem estar no DNA ou em proteínas presentes no núcleo
celular. A epigenética admite que, mantendo constante a informação contida no
DNA, ele pode ter sua expressão alterada. Essa alteração se dá por uma
modificação química do DNA conhecida como processo de metilação em citosinas,
que são uma das bases do código genético", afirmou Maria Luiza.
Desregulação dos genes
Para compreender o papel das marcas epigenéticas
sobre as alterações estruturais na cromatina, uma das estratégias dos
pesquisadores é utilizar agentes ou drogas que alterem a ação dessas enzimas
catalisadoras de metilação do DNA.
"Nesse contexto, foi descoberto que o ácido
valpróico, conhecida droga anticonvulsiva muito usada no tratamento de epilepsia, atua na célula como inibidor das enzimas de acetilases
de histonas", disse Maria Luiza.
"A droga inibe as acetilases de histonas, que
são as enzimas que catalisam a remoção de grupos acetil nas histonas. Essas
enzimas, inibidas, deixam de fazer seu papel e as histonas, em vez de ficarem
deacetiladas, ficam acetiladas. Com isso, a cromatina fica mais 'frouxa'.
Alguns genes que deveriam entrar em atividade não entram e vice-versa,
provocando a desregulação gênica que havia sido observada", explicou.
Fonte:
Agência Fapesp